terça-feira, 29 de dezembro de 2009

C�-nina

"Eu sou que nem cachorro, n�o pode ir logo metendo a m�o na minha cabe�a, primeiro faz um cafun� na bochecha, um agrado no pesco�o..."

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Minha velha ID do Multiply

Numa conversa digital recente, "ouvi" de minha amiga:


"Como seu multi � antigo!"

Since Sep 12, '04 12:00 AM, como podemos comprovar aqui.


Obviamente reescrito, � c�pia fiel do texto de entrada do que - na �poca - era apenas uma brincadeira. Tive paci�ncia para reescrever quase todo o blogue na primeira grande pane do multipl�cio, quando eram, ainda e apenas, umas oito ou dez inser��es - entre fotos, textos e alguma criatividade no apelido das subdivis�es.

Consertaram o bugue que desntendia caracteres latinos como cedilhas e tils, mas qinda hoje quem recebe por email reclama da ilegibilidade (ileg�vel / ilegibilidade? Ou estarei por fora?).

Persisti porque sempre o considerei, e ainda considero, a ferramenta mais simples de uso direto da web que encontrei. Tudo que veio depois copiou o que tinha aqui, e o pessoal de Boca Rat�n se aproximou de muitas ideias alheis (como de quebra, todos na web), mas nem orkut nem facebook chegam perto da maneira intuitiva com que as coisas se tornaram sempre mais f�ceis no multiply.

Ent�o hoje ainda o uso: gratuito e perene, com a melhor rela��o custo-benef�cio poss�vel: o zero a zero.

S� queria fazer back up em casa. � a �nica coisa que falta.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Carta a um bando de jovens médicos

Escrevo agora porque um dia li, quando jovem, a Rainer Maria Rilke e suas "Cartas" - destinadas ao rapaz indeciso entre a poesia e a vida militar, o tal "Jovem Poeta" que dá nome ao volume - e foi a primeira vez na vida adulta que um livro causou em mim impressão tão marcante. Há várias passagens que jamais consegui esquecer, e porquê, e onde eu estava, e a que situação tal texto me remeteu.

Escrevo porque me enxergo em vocês, jovens (futuros) médicos, de quem me aproximo com respeito e interesse genuíno.

Porque lá na Anatomia Humana encontrei um ambiente discreto, seríssimo e agradável a um só tempo, onde podemos nos reunir e estudar, simplesmente, com o auxílio de pouco mais que nossas mentes e olhos e mãos - e agora o auxílio luxuoso de investimentos em moldes que ultrapassam a expectativa mais otimista. (Isso em um tempo em que as quedas na bolsa afetam pesadamente as 5 maiores universidades particulares americanas, forçando-as a diminuir custos até em subvenção de moradia e transporte para alunos e funcionários).

Porque enxergo em vocês primeiro um desejo, depois uma vocação, e por fim um comprometimento invejáveis, salutares e bem direcionados. Desejo de ser médico, vocação para o trabalho de médico - e seu interesse o demonstra desde já - além do necessário rigor no cumprimento de metas.

E já que falamos em metas, que as façamos diárias (coisa que alguns de vocês terão que aprender a fazer com pacientes crônicos de maneira geral, os de terapia intensiva e oncologia em particular), celebrando (e desfrutando) cada passo, sem pressa de chegar.

Afinal, "Não viajamos apenas para chegar, mas para existir enquanto viajamos" (Goethe).

E já que falamos em direção, depressa, tomemos o caminho do bem. E que seja bem bom mesmo, este bem que trilharmos, de modo que só raramente possamos nos permitir duvidar. Principalmente não nos esqueçamos que, se não podemos desprezar totalmente o julgamento alheio, não podemos por ele pautar o foco de nossa auto-imagem e estima.

"Não pense no plantão, mas no procedimento", eu ouvi desde sempre dos médicos mais velhos que eu; e hoje repito aos que me ajudam - não só médicos - na labuta diária do hospital.

"Estude para aprender, não para tirar nota", é outra. Mas nunca entendi, afinal, éramos avaliados por elas! "Quero só ver na hora da nota" era o outro lado da moeda, também entreouvido amiúde.

Trezentas páginas por semana - ou muito mais - é que são a dura realidade.



"Eu quero crer que 'eles' (leia-se os professores, nota do autor) o façam com objetivos pedagógicos", repetia o irônico colega de república a respeito de uma ou outra injustiça que presenciávamos (ou de que éramos objeto) nas lides universitárias. Hoje que estou "do outro lado", lhes asseguro:
a gente sabe o que vocês tão passando, e pior, antevemos muito do que vocês ainda terão que suportar até alcançar o famoso canudo e uma liberdade que nunca será como vocês (nós) imaginaram (imaginamos).

E aí me lembro que nas aulas teóricas da Anatomia do meu tempo a gente recebia um roteiro, muitas vezes ininteligível em nossa própria letra, idioma e caderno, obtido a muito custo e concentração para ser anotado na penumbra, defronte ao projetor de slides no anfiteatro sempre quente ou gelado demais. Livros eram raros, e eram pouco para nossa curiosidade. O rodízio dos poucos exemplares da biblioteca nem sempre contemplava a todos. Cansei de ler o Gardner, até outro dia era o meu livro de cabeceira para a Anatomia; hoje parece que não existe nada lá que eu não saiba, que eu não lembre, mas nem por isso eu aprendi "toda" a Anatomia que há (lá) para se saber, longe disso. Nas aulas práticas, o aprendizado ocorria mesmo era com os monitores, até porque quando os professores passavam, éramos como vocês às vezes: queríamos saber tudo, inundávamo-los de perguntas, soterrávamo-los debaixo de nossa curiosidade infinita, esquecidos do mais.



Só a chegada da internet democratizou o conhecimento científico - embora a meu ver, de modo ainda incipiente.

Mas tivemos nosso momentos. O jornal-mural Portal Da Dor, as festas do Grêmio que lotavam a Amnesia, maior casa noturna de Curitiba na época, toda uma relevância cênica e cultural que a cidade tinha então. E a formatura, na Federal sempre mais cara e mais bonita e imponente que a anterior.

Antes, muito antes disso em Bioquímica, por exemplo, o Professor Sieg Odebrecht - verdadeiro Homem da Renascença, formado em Farmácia, Bioquímica, Medicina &, Veterinária (eu disse "e") ; e, e, e... acho que também Engenharia (a lista era grande) - ia direto ao ponto: durante décadas deu as mesmas aulas em silêncio, escrevendo tudo com a letra miúda no quadro-negro, voltando ao início e perguntando logo se não podia apagar, até encher o quadro novamente, duas, três, quantas vezes preciso, ao longo de uma hora, hora e meia. Depois respondia "qualquer pergunta sobre Ciências, de qualquer área", orgulhoso do saber que lhe permitia tal arrogãncia benfazeja, além de resumir sua matéria àquilo que ele achava - tinha certeza - que precisávamos saber.

Outros vieram, outros tardariam um pouco mais. Coloquei no texto do convite um agradecimento aqueles que nos educaram para a liberdade e para a prática da verdadeira Medicina - ou algo que o valha, cito de cor - e hoje consigo admitir que foram todos. Sinto em todos nós professores do Curso de Medicina uma entrega a qualquer prova, do menos ao mais apto de nós, do menos ao mais experiente. E agradeço a todos aqueles que tiveram a paciência de, um dia, já formado, ensinarem-me a operar.

Citei também João da Cruz ao enumerar as "condições do pássaro solitário" e hoje sinto falta da matilha. Ajudei meu amigo a escrever o discurso aos pais e, cheios de marra, afirmamos que o dever deles estava cumprido, ou seja, que estávamos prontos. Não saberia intuir que ainda viria a conhecer o tal pão que o senhor da mentira amassou.



Mas tinha lá aquele Goethe, os quadros do Primo e a Bila Kaifa. Além do texto-chave do escritor-chave de todo meu processo mental de elaboração de referências, um trecho impactante do clássico de Victor Hugo, "Os Trabalhadores do Mar".





* * *





Hoje me vejo de novo, como 671 vezes só neste blog, instado a escrever. Mas é um dia especial: venci a timidez como quem recebe uma ordem para fazer o que, no fundo, há tempos desejava: um grande, imperfeito e prolongado elogio, desses que não se faz à toa, à todos vocês, primeira turma de Medicina da UEPG.



* * *





A única coisa triste a respeito de se estar na primeira turma de um novo curso, como acontece agora com vocês - competentíssimos campeões do vestibular - é não ter aula-trote.

Uma instituição na maioria das turmas de medicina de antanho, a aula-trote era preparada em sigilo por monitores (leia-se veteranos) e técnicos. Na "minha" me mandaram comprar um porta-agulhas bem grande - para que coubessem todas, e com chave, para ninguém roubá-las. Na que preparamos para "os nossos calouros", sugeríamos máscaras antigases para se defender dos humores cadavéricos, explicamos a teoria dos miasmas e repetimos as piadinhas de sempre sobre o material.

E tinha gente que levava a sério!

Bons tempos em que calouros eram celebrados com teatro e magia, recebendo as boas-vindas dos veteranos sacanas, que depois se riam à beça dos que anotaram tudo certinho... E que o trote mesmo, aquele da rua, não tinha violência e acabava em alegria. Mas bons tempos estes, também, em que os alunos vão ao posto de saúde quase todo dia, aprendendo desde cedo para que serve o que estudam e onde será necessário (e aplicado) tanto conhecimento.





* * *





"There are only two ways to live your life. One is as though nothing is a miracle. The other is as though everything is a miracle."



ALBERT EINSTEIN





* * *







Um grande abraço.







* * *




Leia mais em:

O olho do homem...

O que é um blog?

Aula de Anatomia

Um dia para VW

[Phyllis e Rosamond]


Anna

13 Lineas

Os textos que não chegeui a escrever

domingo, 21 de junho de 2009

ReviewUm dia na África: minha passagem pela África do Sul 2001Jun 14, '09 11:21 PM
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Category:Other
Nesta segunda-feira em que as atenções e voltam para o país-sede da Copa do Mundo de Futebol 2010, não consigo deixar de lembrar o quanto foi traumática minha (curta) estadia por lá.

Passei por Johannesburg em minha ida à Australia, quando a volta no sentido horário "menor" (RJ-SP-Johannesburg-Sydney, via South African Airlines/Qantas) saia muito mais barato que a volta no sentido anti-horário (RJ-SP-Santiagou ou Buenos Aires-Sydney, via Qantas) ou a big volta com que cheguei a sonhar (RJ-SP-LOndres-Bangkok-Sydney).

Na ida, passei algumas horas no free-shop, onde aprendi que por lé, sempre se perde. Pagamento em dólares? Sempre com um "ágio" tendencioso, em que 70 cents viravam logo 1 dólar na conversão para rads. Então fui à lojinha trocar dinheiro, pois comecei a me sentir roubado... Ledo engano: piores eram as taxas cobradas pela conversão, absurdamente maiores que as cobradas na Europa, Brasil ou Australia. Só aprenderia na volta: plastic money até para o cafezinho, hehehe...

E a volta. Humpf! Como eu teria umas trinta horas para passar na cidade, decidi ir direto ao ponto, acomodar-me no hotel que a South African Airlines providenciaria, largar as coisas por lá e bater perna no centro (sábado à tarde), para depois esticar na boemia famosa de Soweto. Não cheguei à cidade.

Para começo de história assim que sai da area reservada do aeroporto, "entrando" no país, senti-me na própria Rodoviária Novo Rio de anos atrás: fui cercado por uma multidão de pessoas de todas as cidades, que tentavam - todas, ao mesmo tempo! - me vender alguma coisa. "Want to carry your bags, pal?", "Want some fruits?" "Do you want some sex? Girls? Boys? Whitties or niggers?", and so on, enquanto eram oferecidos ainda speed, pot, hash, cocaine e outras finuras. Confesso que temi por minha vida enquanto esperava um elevador que me levaria até a loja externa da SAA, onde receberia meu voucher e transporte até o hotel.

Coisa que também nunca aconteceu, pois a SAA "esqueceu-se" de ativar o tal voucher, ou seja, eu não tinha onde dormir.

Peregrinei por uma boa meia dúzia de guichês da companhia aérea, onde fui tratado ora com uma condescendencia irônica que além de nada resolver me pareceu prazerosa para os funcionários, ora com desrespeito puro e simples. Só fui tratado como gente quando - concidência? - cheguei em um guichê onde não havia negros, e uma lourinha com sobrenome inglês me salvou (chamou um taxi, reservou um hotel - que EU paguei - por telefone, levou-me até a van). Rezo sempre por ela.

Ao chegar na van, então, um brutamontes retirou a maior mala que eu levava da minha mão e "perguntou" se eu queria que ele a colocasse no furgão. Eu, idiotamente, aquiesci, ao que passei a ser ameaçado pelo cara - "Ten dollars, man, I told you ten dollars!", em contraposição aos meus tímidos apelos de "That's a huge amount of money for doing that crap, man!" - que, óbvio, levou-me o dinheiro sob o olhar de cachorro em popa de canoa do funcionário do hotel onde eu ficaria hospedado.

"It is better not to fight with anyone 'round here, man!", dizia-me o motorista quando saímos dali. "They are all official carriers!"

Não foi a toa que, depois de 6 (!) horas de pânico e desrespeito no aeroporto eu abortei todos os meus planos de passear na cidade, peguei um filme, tranquei-me no quarto (após jantar no próprio hotel, que não era de todo ruim) e só sai de lá para voltar ao Brasil na manhã seguinte.

Na viagem o fato hilário: vim conversando animadamente por horas com um rapaz sentado ao meu lado, negro, bem vestido, que depois descobri ser médico como eu, e angolano. Mandei logo um "Puta que pariu, cara, e por que é que a gente está gastando o inglês?" que garantiu boas risadas (em português) por algumas horas. Ele me achou com cara de holandês, nunca imaginaria que eu era brasileiro, hehehe... Foi este cara quem me contou que os outros negros africanos detestam a arrogância e a malandragem dos negros sul-africanos, que, segundo ele, tornaram-se intratáveis depois do fim do apartheid. Descreveu até uma palavra pejorativa que descrevia o tal "jeitinho" deles...

"Botamos os brancos para correr", dizem eles, "Agora quem manda somos nós!", demonstrando que o racismo e o ódio estão ainda longe de acabar.

E para voce que vai viajar, então, que fique a dica. É politicamente incorreta, eu sei, mas por isso mesmo relevante: nenhum jornal ou revista vai lhe dizer isto, mas cuidado com a África do Sul.

sábado, 20 de junho de 2009

Os textos que não cheguei a escrever

Acumulo pensamentos soltos para usá-los em escritos esparsos que nunca parecem chegar.


Desde fevereiro em Itapema, na Santa e Bela, onde nos escondemos da calma de Ponta Grossa e do batuque do Rio, imagino posts e reviews a rodo, enquanto ouço música no carro, assisto à tevê, tomo banho ou sonho.


Mas a verdade é que quase tudo fica no ora veja (ou será “hora veje”?).


A saber: as delicias da Santa e Bela Catarina e do Parque do tio Beto Carrero, as palavras deste doce idioma que é a “língua do 'Tho' ('mas)”, as peripécias de Monicat no inesquecível show do Kiss no Rio em abril, a estreia maneiríssima da revista de literatura e ensaios do instituto Moreira Salles (“serrote”), o livro do Richard Yates - opa! creio que pelo menos esta resenha já chegou ao balcão do penhasco. Uma nova bio do Jacobus (para o livro de 100 anos da cidade de Carambeí), o futuro d'A Cadeira no Penhasco, dividida em três páginas no blogspot, transformada em volume de crônicas. Fora os trocadalhos, os trava-línguas, os trocaletras e os poemicídios idiotas, que venho albergando sob a alcunha de “minicontos”. E sem contar as “Folhas de Pedra”, que minha amiga preferida ficou de ilustrar.


Lembro assim de rompante que anseio também comentar o surpreendente misticismo budista do Tibet, explicado pela revista “mais!” da FOLHA uns meses atrás - que os defensores da versão veggie-light-hollywoodiana vigente desta religião, despida de tudo que não for filosofia, não querem que vocẽ conheça. Que preciso falar a respeito dos novos médiuns catolicos – que já admitem, com algum grau de readequação doutrinária, a existência de viagens fora do corpo, estados de quase-morte e visitas ao inferno/purgatório. Convenhamos: é uma história de arrepiar. Por fim, não dá para esquecer da turnê do Rei “em minha homenagem”: Obrigado, RC - explico tudo depois.


“Graças-a-Deus” que ainda me lêem, alguns piedosos dentre vocês.


Do jeito que tenho freqëntado pouco a web, com um texto fazendo lista de assuntos como este, daqui a pouco vocês vão achar que eu emulo o Morrissey em um mau momento de sua carreira, no qual só se salvavam os títulos das músicas, hehe. Ou um autor perdido da biblioteca do Sandman, aquela cuidada pelo amigo Lucien, que só tem volumes não-escritos.


Então vamos lá, mãos à obra. Prometo-os todos, em uma sequência qualquer.


Ajude-me com sua crítica mordaz.


Sabe porquê? Porque eu devia me bastar,entende?


Escrever? Só para si próprio.


Mas não, eu quero mostrar, quero que você (É. Você mesmo. VOCÊ!) leia. Espero, anseio, tenho saudades daquelas fitas-banana horrorosas, que duravam semanas, mescladas de cutucadas, alfinetes e muita troca de ideias.


Então não vale só elogiar. Blog não é literatura (não é o que dizem?), é ensaio (no sentido de rehearsal, not essay).


Ajude a desancar este aprendiz. Quem sabe um dia ele aprende.



Tags: escritos esparsos, great posts, autores, thomas, sandman, blog, gaiman, artigos, cadeira, biografia

terça-feira, 5 de maio de 2009


Sobre os direitos da criança (e suas mães também)May 5, '09 6:30 PM
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Divulgo aqui alguns (excelentes) links para aqueles interessados no bem estar e na proteção às crianças neste país - motivado pela aula sobre "Violência Doméstica na Infância", que ministrarei em uma jornada de enfermagem na UEPG na semana que vem.

Ei-los, então:

Observatório da Infância, excelente site capitaneado pelo pessoal da ABRAPIA - Associação Brasileira de Apoio e Proteção à Infância, entre eles o amigo do Rio de Janeiro Prof. Aramis Antonio Lopes Neto.

Entre o imenso material disponibilizado pelo Dr. Lauro Monteiro no Observatório, cumpre destacar excelentes artigos sobre a Síndrome de Alienação Parental.

Já conceitos importantes sobre abuso no ambiente escolar são encontrados aqui.

E - como qualquer viagem na web pode se tornar longa, cheguei nesta "secretaria" interessantíssima da OMS.

Triscando o assunto, mas mais voltado para a defesa da mulher, esta esta pesquisa impressionantemente bem realizada, bem como a página do Portal Violência Contra a Mulher.

Quando achar mais páginas legais sobre o assunto, linkarei.

sábado, 2 de maio de 2009

Gehspace

Blog EntryGehspaceMay 2, '09 7:43 PM
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É de maneira imodesta que indico esta revista "Amores", , porque passo o link de meus próprios artigos lá. Mas eu explico: brilhantemente editado pelo casal de amigos Gessica Hellmann e Alexis Kauffmann, o site é "tudo-de-bom", com textos interessantíssimos de um vasto time de colaboradores. Espero que você realize um bom passeio por lá, e acabe entendendo porque é que eu digo que é uma honra estar a contribuir.

GEHSPACE

terça-feira, 21 de abril de 2009

Alguns textos de 2009


A Rua da Revolução e o ocaso dos sonhos (Revolutionary Road, Richard Yates, 1961)Apr 18, '09 9:28 AM
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Foi Apenas Um Sonho” é o título dado no Brasil ao “Revolutionary Road” (RR) de Sam Mendes, filme homônimo ao romance original de Richard Yates (1961), que chegou no mês passado às livrarias brasileiras em primorosa tradução. E se o péssimo costume latinoamericano de reinterpretar o título de filmes estrangeiros no mais das vezes põe por terra sutilezas de toda sorte, desta feita até que o sentido “em português” não faz feio perante o título original.


Mas não, não vi o filme. Apesar de ser fã de primeira hora da já mitológica Kate Winslet (atriz talhada para grandes papéis, como esta April Wheeler), e de ter aplaudido de joelhos a escolha de DiCaprio para o papel do esposo Frank, ainda não tive a oportunidade de ver o filme. E acho que vou demorar a querer ver, ainda zonzo do embate intelectual a que Mr. Yates, ghostwriter de Bob Kennedy, nos presenteia em RR. Quem viu (o filme) diz que fica aquém de “American Beauty”, e a léguas – não anos-luz - do caleidoscópio de ideias apresentado no romance. Eu disse léguas. Com atores como Leo e Kate, vale uma olhada. Mas se puder leia o livro. Leia o livro primeiro. Assim como há filmes in natura que, se precedidos da leitura do livro que os inspirou, pareceriam menores do que realmente são, há livros tão magistrais que qualquer interferência na memória pode bastar para macular uma experiência em tudo sobrenatural. Então falemos do livro, por ora, o que já é assunto que basta.


E este acerta em cheio, de cara, com um título que só poderia ser mais cru e direto se portasse número da residência, telefone ou os dizeres “The Wheelers”. A tal Rua da Revolução define bem espaço e lugar, onde o desejo de significância faz o casal – culto e relativamente inteligente e letrado, ainda que ainda lhes falte estofo moral ou verdadeira fineza - residente na única casa sui generis de toda a região, lute para permanecer intelectualmente vivo e pessoalmente motivado perante a degradação social que os cerca, pintando um painel perfeitamente apropriado para uma crônica dos subúrbios das grandes cidade americanas nos dourados anos cinquenta.


O sucesso de Yates, escritor de recursos técnicos aparentemente ilimitados, deve-se em grande parte ao sucesso da obra, que difundiu-se lenta e consistentemente ao longo das últimas cinco décadas. Lido hoje, com o cérebro embebido por anos de exposição a clichês dos anos 50 - década eternamente a ser revista nos clássicos desenhos animados, na música e na moda - “Revolutionary Road” sintetiza tal época como talvez nenhuma outra obra de arte no período - e tanto quanto o rock'n'roll e a minissaia, as tiaras e os topetes e a gomalina (e o cheiro de estofamento de couro, perfume e saliva no banco de trás dos carrões rabos-de-peixe.,,) E o faz sem precisar apelar a qualquer lugar comum, quase sem fazer referẽncia à revolução nos costumes, sem elevar seus olhos acima de horizontes previsíveis à vidinha suburbana do casal de protagonistas, cuja juventude teima em (começar a) ficar para trás.


Revolutionary Road” é prosa elaborada, endereçada a adultos experientes. Incisiva e certeira, por vezes sua voz é cruel: revela suas personagens com rapidez e violência, como quem descasca, arranca ou rebenta. Ao romance nada falta, visto que as tramas, emaranhadas, todas se fecham; nada sobra, visto que é justamente na secura e na economia que reside sua força.


À medida que avança para o final, Yates vai progressivamente asfixiando o leitor, fazendo-o partilhar da tragédia anunciada dos Wheeler e sofrer impotente ao vê-los transformar sonhos em mágoa e desesperança. Torce-se por eles porque é assim que aprendemos a reagir às inteligências do roteiro, é claro, e porque o papo é bom, obviamente, mas em primeiro lugar porque são humanos, muitíssimo humanos, e espelham a cada minuto outra face de nós.


Herdeiro de características fitzgeraldianas, Yates consegue (ele próprio ainda na casa dos trinta anos quando escreveu este livro) unir ritmo e verve, sensibilidade e musicalidade aliados a uma perfeita construção de roteiro e personagens – e brilha com o mesmo desvelo comedido, perfeccionista e espontâneo dos contos tardios de Scott. Mestre no uso da técnica de contrapor pontos de vista, o narrador brinca com a dupla premissa de “estar” ou ”não estar lá”, aproveitando-se da possibilidade de observar cada vaso e seu conteúdo, aproximando-se do ideal utópico do criador-deus, onipresente e onisciente (porém discreto e anedônico).


Aliar concisão e leveza ao explorar uma história dramática surpreendem o leitor, que até espera, mas nunca chega a ver, o narrador escorregar nas tintas. Impressionado pela ficção de altíssima qualidade - pinceladas rápidas e certeiras que jamais resvalam para a vulgaridade – o leitor logo vê que Richard Yates se distancia de “contemporâneos” como Nelson Archer e toda a geração beat, Salinger ou Cheever (com quem é frequentemente comparado) por um apuro formal elaborado que é só seu.


Mesmo bêbados, há que se manter uma certa compostura”, disse um dia o Francis Scott – ou coisa que o valha: lição cumprida à risca na magnífica cena do desabafo de Frank à esposa e a um casal de amigos, transformado em palavrório vazio e ininteligível no imediato instante em que é proferido, lembrando-nos que a verdade nem sempre é agradável de se escutar.


Enfim, um livro para ler, guardar e reler. Que todo casal dever ler, todo verdadeiro amante da literatura guardar no coração, e qualquer metido a literato reler.



Blog Entryo NoNsEnSeApr 17, '09 11:14 AM
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pra ser nonsensenão pode sereconhecernonsense.

Blog EntryUrubundeandoApr 16, '09 10:35 PM
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Urubu

se acha malandro

mas antes se joga na luta

por um caquinho qualquer

que se joga pro bando.

Nem para pra pensar

que pode não ser de comer

que pode ser sacanagem

do transeunte cruel

que lhe conhece a essência.

Ser humano nem sempre é tão diferente

de ser urubu.

Nos bicamos uns aos outros

e nem sempre sabemos porquê.


Torna-se cada vez mais comum no Brasil um fenômeno cultural que eu gostaria de nomear, se soubesse que nome dar - na falta deste, chamo de "política da descaracterização".

Funciona assim: em vez de agredir um inimigo (ou um ídolo, ou uma celebridade, ou um concorrente), DESCARACTERIZE-O. Se você é médico, por exemplo, fale mal do colega para (ex)pacientes, outros colegas, enfermeiros e profissionais da saúde em geral. Mas não se trata de um "falar mal" tradicional, e sim da tal "descaracterização". Explico: em vez de dizer que o cara é ruim, diga que ele "até que" é legal, mas, "coitado", teve uma formação deficitária, não sabe fazer isto ou aquilo (de preferência se não houver como alguém provar o contrário). Diga que ele se formou... na Bolívia, por exemplo, ou melhor: que se formou em Cuba e só clinica no Brasil porque é do PT!!! Diga que os professores que o formaram na Residência Médica o detestam, não o recomendariam para lugar algum, etc, etc. Como ninguém vai checar, em pouco tempo a fofoca "cola" no personagem, "vira" verdade.

É mais o menos o que a mídia havia feito com o Ronaldo Fenômeno: taxaram-no de gordo (o que era verdade, mas não irreversível), vagabundo (o que sua capacidade exemplar de recuperação atlética sempre provou ser mentira) e "baladeiro" (ou boêmio, coisa que a maioria de nossos craques é mesmo, como de quebra a metade esquerda da torcida do Flamengo, coisa que nunca impediu ninguém de jogar, como Romário não nos deixa esquecer). Enfim, mataram o cara antes da hora, enterraram-no vivo... e agora dizem "Ooooooh!" como se presenciassem um milagre. Humpf! Quanto tempo se passou desde aquele comercial que dizia "sou brasileiro e não desisto nunca"?

(Parênteses: engordar é que foi o pior para Ronaldo. Parece que se o cara cair de boca nas drogas, por exemplo, como o multiplatinado campeão das piscinas olímpicas, ele tem perdão - se duvidar até vira "vítima". Mas gordo não. "Só é gordo quem quer", quem não se cuida, quem não se ama. Um atleta engordar? Imperdoável! É. O gordo é mesmo o novo fumante, vítima das patrulhas do "politicamente correto"...)

E agora vem o Rubens Barrichello, que Deus o conserve assim. Morto e enterrado, mortíssimo, humilhado até pelos mancos dos brasileirinhos que a moçada da finada equipe Honda chamou para testar o... carro velho, do ano passado. Tudo bem, você vai dizer, o Rubinho é um mala, nunca ganhou nada... Epa! Peraí! O cara sempre foi campeão, em todas as categorias onde competiu exceto a F1. Na Ferrari, virou lenda sua capacidade de acerto do carro, não só o seu, mas o do Schummy também, que sempre dava uma "coladinha" no que o Rubinho havia feito com o seu carro. Antes e depois, então, o ostracismo de pequenas e péssimas equipes. Mas morto? Mortinho? Nããão. Não!

E que bom que veio a equipe Brawn, com toda a genialidade de seu mentor, que não é bobo nem nada e chamou o Barrichello pelas suas ca-rac-te-rís-ti-cas (dedicado, batalhador, bom acertador de carros, perfeccionista) e não por sua (má e indevida) fama de loser. O resultado está lá: um início de temporada merecidamente brilhante.

Certo estava o Ronaldo, quando desabafou no programa do Galvão Bueno, relembrando não só como lhe faltaram com o devido respeito nos últimos meses, mas como foram esquecidos (JÁ!) outros craques a quem o Brasil deve - no mínimo! - um agradecimento pela conquista da Copa de 2002: leia-se RIVALDO, que para muitos já "morreu" para o futebol, mas continua firme, lá no... qual é o time mesmo? - onde espera pacientemente que alguém se lembre do jogador que ele foi e o convide para uma despedidazinha pela seleção.

* * *

Victor Hugo dizia no poema célebre, já musicado pelo Frejat, que de vez em quando é salutar sentar-se em frente a todo o seu dinheiro e resolver quem manda em quem.

Termino meu (pobre) texto dizendo que de vez em quando é bom para a psique olhar-se no espelho, real ou virtual, e lembrar quem somos, afinal.

O juízo e o julgamento a respeito de quem somos não pode ser pautado tão somente no que "os outros" pensam de nós.

* * *

P.S. Meu retrato está lá, no Google, onde outro dia fui dar uma olhada narcísica em tudo que eu pudesse achar sobre mim mesmo. Há o médico, o escritor, o pai de família; meus textos na grande e na pequena imprensa, minhas participações em concursos públicos, em revistas e congressos médicos.

Aquele que tenta me descaracterizar está lá também, como virtualmente todo o mundo, hoje em dia. Na primeira página de resultados do Google sobre tal pessoa, seu nome rima com processo.

Chamem-me de babaca, se quiserem, mas é muito bom saber quem eu sou, de vez em quando pelo menos, só para variar.


Blog EntryGrandes EsperançasMar 28, '09 9:24 AM
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Estreia nos EUA "LITTLE DORRIT" - on most PBS stations on Sunday nights through April 26 - adaptação por Andrew Davies para a televisão do romance de Charles Dickens.

Como há alguns anos, com a adaptação de Polanski para "Oliver Twist", partimos de uma visão estreita, localizada no espaço e no tempo - a Inglaterra vitoriana - que nos enreda e fascina, para logo em seguida, como em uma epifania, obter-se a larguidão dos vastos espaços da história universal.

Dickens é representação do real em banda larga, piegas como Hugo, psicológico como Balzac, arguto como Nietzsche - mas mais real que todos. A observação da equação pobreza + exploração = fortunas + crise + injustiça é diagnóstico marxista do eterno ciclo de escravização de indivíduos por governos absolutistas e suas coortes (talvez por isso, "só" - digam que a democracia é o pior dos governos... fora todos os outros).

Em "Little Dorrit" a América dos anos 00 - que não se demoram - (re)lê a história de sua mais recente derrocada - não necessariamente a última. Vê os exageros de Wall Street e a política escorchante de juros cada vez mais baixos (ah! Que achado da lógica!) a envolver a desafiante classe média americana, tão sequiosa de novos gadgets.


E enxerga como a crise é o fruto final do hedonismo de uma sociedade decadente, onde os valores se perderam entre a ganância e o fanatismo religioso, com a pornografia de permeio, escondida em uma garrafa coberta por papel de pão. Como é deletéria a cultura da celebridade que faz Hollywood e a web cada vez mais glorificarem somente o belo, o vencedor, o popular ou o rapper bandidão - em detrimento do plasticamente prejudicado (que pode ter mais substância), do loser "de mercado" (também conhecido como "profissionalmente prejudicado", muitas vezes por puro azar e não por suas habilidade e defeitos, tão mediano que é), do nerd de boutique, do roqueiro de ocasião, do black pasteurizado. Ou mais recentemente ainda, o culto ao freak (vide os Jack Ass da vida, os supereróis da vida real (vigilantes fantasiados mascarados e armados que proliferam nas cidades americanas , muitas vezes agindo em apoio e suporte à polícia local), a devoção a assassinos à espera de execução e a insistente mania que tem os americanos de destruir seus ícones pela violência nas telas - tendo como último exemplo o "I Am The Legend" do Will Smith.

Ainda bem que botaram o Cristo lá em cima, no Rio, que espero ninguém queira derrubar em um longa metragem estúpido qualquer. Já basta o Muro - mais um Muro! - a dividir o morro e o asfalto.


Prevejo para o futuro - ah! pleonasmo! - bolhas condominiais, automovélicas, individuais, à prova de bala, que inflaríamos ao redor para nos defender das balas perdidas e ataques nas ruas. Talvez fosse a solução.

* * *

Ficar velho é ter lido "O Cavaleiro das Trevas" original, em seis edições, ter visto o que o cara previu acontecer e - pior! - ser sobrepujado por uma realidade ainda mais cruel em inúmeras localidades das Américas, África e Ásia. Ali na Tijuca, ou na periferia de Curitiba.

Ficar velho é ter vivido em um mundo que ainda respirava os aromas benfazejos de uma "opção pelo bem" feita uma ou duas gerações antes - o não ao nazi-fascismo, a defesa da democracia e do Estado de Direito, o desenvolvimento do conceito de Direitos Humanos - e acordar, na beiradinha dos quarenta anos,em um mundo onde genocidios se repetem, desrespeitam-se acordos como o de Genebra, tortura-se e mata-se prisioneiros políticos, onde se vê crianças entre tanques e muros. Quase exatamente como há um ou dois séculos atrás.

Temo então, e com razões, que retornemos a um estado ainda mais anterior das coisas: Victor Hugo e Charles Dickens nos espantam com suas histórias porque mostram o pesadelo do século XIX que foi herdados do XVIII: a inexistência de um Estado protetor e simpático à pessoa humana, que provê educação, saneamento e saude para a comunidade, oferece suporte ao velho e à criança, e principalmente esta cultura ancestral de escravidão, de feudalismo local, de culto ao governante, aos poderosos e aos endinheirados.

Cá no Brasil, a farra do boi não atingiu a tantos, graças às medidas "protecionistas" tomadas pelo tal Comitê do Cupom, que não consegue imaginar juros de um digito. Simplesmente lhes é impossível. Com isso, apenas festejamos o relaxamento momentâneo nos prazos, comprando calhambequinhos brazucas a preço de ouro em 72 - suaves - prestações.

Mas a marola bate firme. Garanto que Monsieur Lulá já providenciou um botezinho qualquer para ele, a mulher do pacote e o que tem a chave do cofre. Que o Bush, meu amigo, se foi pra história. Cachaça na Casa Branca, nunca mais.

Leia Mais em:

Little Dorrit


Blog EntryWilson e a calmariaMar 27, '09 6:13 PM
for everyone



O barco à deriva

deriva



enquanto o náufrago
em gestação
costura as calças
nos restos de vela
dá uma mordida
no bíceps do amigo
- o resto tivera de jogar ao mar
perseguido que era
pelos tubarões -
e sonha com a ilha,
a praia,
a pedra
- droga, um rochedo
era suficiente -
que nunca chegará.



O gole?
O último.


Blog Entry

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

O Que É Um Blog?

O Que É Um Blog? Feb 17, '09 12:15 PM for everyone

O que é um blog, afinal? Mero diário de adolescentes exibidos, como quer o Milton Hatoum? Ou coisa para macho, no bom sentido, de corajoso e forte?

Por isso absorvo o blo-gue, com duas sílabas bem definidas a nos permitir brincar com a semântica e a fonética. Assim posso blogar, posso dizer que bloguei, cantar toda a conjugação.

Blogo porque quero, porque sinto uma angústia que me chama para a tela e para o texto – que explode no céu da boca como uva ou caviar.

E chamo de blogar o que faço porque já transcende o que se chamava originalmente de escrever: está mais para uma espécie de passeio curioso entre as flores e os jardins, os meus e os dos outros, onde tomo a liberdade de cavar aqui e ali, deixando flagrante o desempenho dos meus passos.

Não me escondo na web – o que é bem diferente de “me exibir”. Aliás, nem sou bem lido: tenho quando muito um punhado de amigos que varia com o tempo, nunca “seguidores fiéis”, penas amigos, eventualmente interessados em meus fiapos de pensamento.

Veja bem: blogo porque quero, porque a cada nova forma que acho de partilhar descobertas, mais me entrego e me dou a conhecer. Vide youtube, twitter & second brain, que descortinam novas janelas na comunicação.

Blogo para alguém, afinal. Pois é disso que se trata. Na longa jornada solitária que é escrever um livro - eu sei - quantas vezes foge o foco e escrevo para nada, pra ninguém. Um ninguém contemporâneo, com sorte, ou do amanhã - bom dia! - a voz petrificada a lhe dizer o que um dia pensei, para sempre igualmente inpenetrável. Já na rede não, sempre podemos retomar o papo de bom grado, basta voltar lá. “Blogo para ti”, diria se fosse gaúcho, blogo pra ti.

Enquanto isso, aprendo a escrever. Sim, pois muito mais que exposição, um blog é aprendizado. Ou será que uma geração inteira que tem nas mãos, pela primeira vez na História, uma ferramenta gratuita, disponível em qualquer parte ou lugar, para expor suas opiniões não deveria fazê-lo. Então cada vez escrevo mais, e se não melhor, com mais facilidade, tão somente porque blogo. Porque me acostumei a sentar-me com o computador e escrever sobre o livro, o filme, o artigo ou a notícia. Ou sobre nada, admirador de Jerry Seinfeld que sou.

Porque um blog é isto, também, uma ferramenta inútil, um salto para o nada, o texto perdido e nunca lido, ou aquele no qual nem você botava fé e um dia está lá, na prima página do Google.

E olha que hoje em dia quase já nem blogo mais: caminho a passos largos para o avatar, (j)unção de minhas inúmeras personalidades na internet, nova manifestação do homem.

Um dia a web caberá em minha própria mente, e leremos tudo por telepatia, e daremos acesso a conhecidos, amigos e amores de maneira não muito diferente do que fazemos online.Um dia o detetive do futuro, travestido de mim mesmo, procura meus passos e os encontra - com a mesma facilidade com que os cuidadores do espólio bíblico de Mário de Andrade ora caçam bichinhos entre os livros que se desfazem na solidão de um prédio em São Paulo - e tromba com eles aos borbotões, assustando-se e surpreendendo-se emocionado ao som das notas que plantei, aqui e ali, de par em bar, até não sobrar nada para esconder e todos saibam, de uma vez, daquilo que eu li e separei e dei importância nas longas noites viajantes, frente à própria ignorância. Mais não vi que vi, e mais não sei que sei, mas ainda blogo para alguém.

Ou então, parafraseando Pessoa, um dia este texto desaparecerá, engolido pelas entranhas negras de servidores extintos e urls desaparecidas. Um dia desaparecerá a língua na qual meus posts foram escritos, coisas como computadores e abstrações como a internet. Mas haverá sempre, enquanto houver coisas como gente, a possibilidade de explorar novas interações, que a gente chama como quiser.

O que eu chamo de blog, afinal, reflete não só meu endereço virtual, mas cada maravilhoso diálogo que "aquele" texto um dia rendeu - tanto faz se na minha página ou na do vizinho - e que unirá aos olhos do diligente pesquisador do futuro, o meu nome ao do Alexis e da Juliana, por exemplo, que eu sei - vagueiam juntos por aí. É só procurar.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Blog

“blog”

Uma novela de

Renato van Wilpe Bach

Sinopse

Por iniciativa do autor, rede de amigos online (online buddiestas) é convidada a partilhar o segredo da criação: inventarão personagens quase reais, com histórias e datas e cursos e experiências na cartola, fruto de sua própria imaginação. Depois abrirão contas de e-mail e inscrever-se-ão nas mais variadas comunidades de relacionamento, bookmarks, weblogs, fotologs, webradios e bligs, construindo perfis completos e estabelecendo amizades virtuais com não-autores. Uma vez estabelecida a brincadeira, jamais saberemos se “aquele amigo novo da Ju” é real ou não.

Depois propomos estabelecer parceria com a Rede Globo, que usaria estes personagens virtuais da sociedade blogueira brasileira como matéria bruta para a (nem tão próxima) novela das nove horas da noite. Coisa que nem todos os amigos autores precisam saber. Nem o vizinho, ali, pessoa real, que de repente pode ser citado na novela por algo que enviou por um dos múltiplos canais de contato. Finais de semana na pousada com o casting representando 24 horas seguidas das vidas das personagens, em capítulos exclusivos para os (poucos) felizardos a conseguir convites disputadíssimos – até nos sites de leilão - para flagras em tempo real e interatividade total entre autores e não-autores, atores e não-atores.

A pré-estréia? Eventualmente algum hoax faz crescer o buxixo sobre um site, um hype, um alguém. Fácil, fácil alçar uma gatinha da turma à condição de vedete e pagar para ver como a turma reage. Depois é só acompanhar (o que extrapola a telinha) no Orkut e no Youtube.

Requerimentos

Vinte autores (pelo menos)

São vocês.


Fotógrafos
Atores
Cineastas
Diretores
Editores
Produtores
Marqueteiros

Uma rede mundial de computadores
Luz elétrica
Telefonia
Cabo
Satélite
Mãos
Olhos
Janelas
www

O dez elevado ao número um seguido de um milhão de zeros
Os contatos na Globo
O pandemônio inicial
Meus amiguinho’
Amém

Locais

Rio de Janeiro
Curitiba
Florianópolis
Joinville
Porto Alegre
Manaus
Ponta Grossa

Information Data

Você foi convidado a ser co-autor de “blog” por ______________________________ (Insira seu nome aqui antes de enviar a ficha a três amigos. Relembre: cada co-autor tem direito a indicar três co-co-autores - com trocadilho, por favor – que completarão um núcleo de dez personagens. Os núcleos podem ser compostos por características de afinidade, sexo, etnia, religião, vizinhança geográfica, credo político ou religioso ou qualquer outra característica comum cabível e claramente identificável na sinopse do grupo. Se não souber o que os une, aposte em “todos apreciam os Beatles”, é batata. Ah! O prazo para inscrição dos grupos de quatro - com trocadalho, por obséquio – é 30 de junho de 2009; o prazo de entrega das sinopses é 24 de dezembro, meio-dia; o email institucional é bububububibaribu@gmail.com )

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Quadros de Jacobus van Wilpe

Quadros de Jacobus van Wilpe.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Jacobus van Wilpe e a espiritualidade

http://jacobusvanwilpe.blogspot.com/

Jacobus van Wilpe e a espiritualidade

http://jacobusvanwilpe.blogspot.com/
ReviewReviewReviewReview"O Conto do Amor", Companhia das Letras, 2008Jan 26, '09 3:13 PM
for everyone
Category:Books
Genre: Mystery & Thrillers
Author:Contardo Calligaris
“O Conto do Amor”, primeiro romance do psicanalista, escritor e colunista da Folha Contardo Calligaris – já devidamente incensado pela crítica paulista – é livro para se ler em um fôlego só, à maneira de bestsellers americanos.

O paralelismo entre a obra e “O Código Da Vinci” é evidente e por isso mesmo inevitável: ambos escondem o ritmo de suspense sob toneladas de informação erudita. Ambos situam sua ação em uma Itália contemporânea onde os fantasmas do passado distante (ou mesmo recente) aparecem a cada dobrar de esquina, na forma de quadros, igrejas, estátuas, praças e documentos. Ambos elegem um casal – que n'O Conto não demora a unir forças – como protagonistas; ambos mexem com mitos e arquétipos. Mas as semelhança – já não poucas – param por aí.

Algo autobiográfico – como em geral romances de estreia costumam ser - “O Conto do Amor” imprime-se com vagar na mente do leitor, deixando entrever, aqui e ali, as marcas de um entendimento mais profundo da mente humana por parte do narrador. A trama que emerge com simplicidade e objetividade, bem urdida e realizada, beira a perfeição no final inteligente, crível e provocador.

(Alberto Moravia – outro psicanalista! Outro italiano! - disse em um dos seus contos que o intelectual que abre mão dos seus princípios e/ou de sua integridade moral em troca de uma descoberta científica/artística/literária “vende a alma ao diabo” e costuma pagar as consequências do seu ato com a própria infelicidade. Calligaris não chega a tanto, mas mete a mão em cumbuca ao dessacralizar o tabu que ocupa posição central no desfecho de sua trama. Excelente motivo para abandonar – ainda que temporariamente - a crônica e o ensaio clínico e escrever um romance, não?)
Prev: El Laberinto Del Fauno, Guillermo del Toro, Espanha, 2006

sábado, 24 de janeiro de 2009

Erna und Alfred

Posted by Renato on Apr 9, '07 8:10 PM for everyone
Toque mais um pouco, meu filho”, dizia o pequeno grande homem, sentado a meu lado no banco de praça instalado no jardim. Um pouco surpreso com seu interesse, eu atendi seu pedido com prazer, esgotando rapidamente o escasso repertório de violão clássico aprendido até então.

Tocaria ainda algumas vezes para meu bisavô, porém nunca mais no belo recanto que ele criara em honra da esposa, gravemente doente e restrita ao leito. Ali seu espírito de espírito de artesão e inventor tivera um último lampejo, quando com mais de oitenta anos resolvera por abaixo o galinheiro e parte do pomar para presentear minha bisavó com um lugarzinho para tomar sol.

Logo o pedaço de terra, espremido entre a casa e a indústria que capitaneara por tantas décadas, mostraria o que só ele, quase cego, conseguira entrever: um espaço nada tímido de grama, flores e luz – arrematado pelo tal banco de praça para os dois namorarem, é claro.

Hannah, a enfermeira, descia com a Omama no colo, esperando nem sempre em vão por um momento de sua lucidez. Sentados ali, Alfred e Erna Kindler se entendiam através de longos silêncios, interrompidos apenas pelo canto dos passarinhos que os vinham saudar.

Como está frio lá fora”, dizia o Opapa agora na cozinha, em “seu” lugar à janela, onde tocava o vidro displicentemente, disfarçando a debilidade da visão.

Ele é tão respeitoso”, dizia Erna baixinho, referindo-se ao “senhor que dorme no meu quarto todas as noites”. “Ele só me faz um carinho na mão e fica lá, ao meu lado, não incomoda nadinha”.

Foram sempre água e vinho, aqueles dois. Bem, pelo menos é o que se conta a respeito. Alfred gostava de praia: construiu uma casa em Caiobá onde ela nunca botou os pés. Já Erna gostava do campo: adorava visitar a chácara da filha mais velha em Ponta Grossa. O boliche dele nas quintas-feiras à noite era sagrado, mas ela nunca foi lá muito fã de noitadas – preferia a família reunida, a casa cheia e os grossos cobertores de pena-de-ganso em uso. Mas eram ambos muito hábeis com as mãos. As compotas e conservas feitas pela Omama duraram mais que a doença ou ela própria, sendo abertas intactas anos depois e encontradas como se tivessem sido feitas ‘inda ontem. E das indústrias Kindler e Cia., desde os anos trinta funcionando na Rua Senador Xavier da Silva, pertinho da fábrica dos irmãos Mueller, saíram torneiras, chuveiros, bombas de encher bolas e pneus de bicicleta, bem como todo tipo imaginável de artefatos de metal, até instrumentos cirúrgicos quando estes eram caríssimos e raros de se encontrar.

As filhas e genros se revezariam em cuidados extremados para com ambos, quando a idade e a velhice assim o determinaram – por mais que Alfred jamais admitisse precisar de cuidado algum. Dirigira a velha Kombi bege por anos sem que ninguém soubesse que só lhe restara um quarto da visão de um olho. Mais tarde, já praticamente cego, empertigava-se todo quando alguém sugeria que este bisneto primogênito já lhe ultrapassava a altura. “Nein, nein, ainda não...

Não se dobrou sequer à morte da esposa, certa madrugada em 1983. Avisado pela doce e firme Hannah – e contra o conselho desta – esperou o dia amanhecer ao lado dela, segurando sua mão pela derradeira vez. Suportou o féretro em pé, consolando mais do que era consolado, até desabar emocionado no carro do filho. Apesar da saúde de ferro, viria a falecer uns meros seis meses depois.

O interessante é que em minha cabecinha de criança, tudo isso era normal, apenas uma parte boa e feliz da vida familiar. Só a idade, e o tempo, despertariam a consciência de ter presenciado um milagre. Os Natais e as páscoas na imensa casa de meus bisavós, o gosto da comida da Omama, os passeios pela fábrica que o tato do Opapa conhecia de cor, as longas conversas na sala de estar, o colo de ancestrais que tão poucos de nós logram conhecer...

De tudo isso, contudo, algo jamais escapou ao meu entendimento, por mais criança que o fosse: o exemplo de um amor que nunca precisou se preocupar em “dar” exemplo – estava sempre lá, simples e direto como um perfume que preenche invisível um cômodo, uma casa, nossas vidas. Verdadeiro milagre, neste mundo carente de um.

Para Ler Paulo Coelho

Para Ler Paulo Coelho
Posted by Renato on Sep 10, '08 11:06 PM for everyone
Nunca fui fã de Paulo Coelho, apesar de admirar sua figura pública (através das poucas e brilhantes entrevistas que dele assisti) e sua trajetória ímpar nas letras brasileiras. Falar de Paulo Coelho no Brasil, porém, parece (ainda) um tabu. Lê-lo, então, se você não for aquele típico leitor de “best-sel -lers” ou livros de auto-ajuda, pode ser considerado por muitos um pecado mortal.

Que qualquer um acaba cometendo, obviamente. Seus “maktub” estiveram lá, nos jornais, por mais tempo que podemos lembrar. Sua coluna dominical n’O Globo (e aqui no Almanaque, entre outros jornais), idem. Você acaba sendo atraído por uma palavra ou outra, pára em uma frase e quando vê, leu tudo.

Não que eu não tenha lido seus livros. Diário de um mago, O alquimista, As valquírias... Coisas do início de carreira se é que se pode chamar assim sua estréia estrondosamente cheia de sucesso. É claro que os li, leio de tudo. E gostei, como quem gosta de um bom filme hollywoodiano, como quem já conhece as histórias. Afinal, de Carlos Castañeda eu um dia fora realmente fã, lera as aventuras do feiticeiro Dom Juan na saída da adolescência e para mim, o que PC fazia em seus primeiros livros era apenas mais do mesmo: Castañeda requentado, em linguagem popular e direta, em meio a um amontoado de clichês sincretistas. Mais tarde li À margem do Rio Piedra... e entendi que a busca pelo transcendente havia pego o escritor de jeito, tinha-o feito se aproximar de tradições católicas e coisa e tal. Respeitei sua busca e vi que havia ali algo de verdade. Depois não li mais nada.

Com o tempo, aquele papo de guerreiros da luz pareceu-me incompatível com as minhas próprias buscas. Veio o Marcelo Mirisola, com seu humor ácido e cortante, dizer em uma entrevista na TV que “quem anda de lotação todo dia não tem lenda pessoal, pensar nessas coisas é pra desocupado”, etc, etc e eu ri, ri muito.

Há coisa de um ano atrás, andei às voltas com O zahir e fiquei absolutamente surpreso. Não que o livro seja maravilhoso ou algo que o valha. É apenas mediano, na minha humilde opinião. Tem problemas na estrutura do enredo, um plot fraco, que não se sustenta por tantas páginas, tornando-o por vezes enfadonho. Mas parece verdadeiro. É irônico, nada auto-indulgente, assustador em seu mergulho aparentemente autobiográfico e não se parece em nada com os primeiros livros do cara daqueles que disse ali em cima ter lido.

Nele, PC ousa ir na contramão de seus ensinamentos, para simplesmente expor, despojado de boas maneiras, seu cotidiano de celebridade, de escritor e de marido; numa trajetória que não apresenta respostas, somente insiste na busca. E que reflete uma profunda angústia no modo de ver a sociedade contemporânea, coisa que jamais deveria ser desconsiderada partindo de um homem que, hoje, já viajou o mundo através da literatura (em seus sentidos amplo e restrito, pessoal), é interlocutor de personalidades marcantes e - para dizer o mínimo - deve ter encontrado coisas, lugares e pessoas mais díspares que a maioria absoluta de seus compatriotas jamais sonhou encontrar.

Qual não foi minha surpresa ao ver a reação dos leitores de meu blog, então, quando ousei postar minha crítica ao livro, praticamente nestas palavras, e receber respostas das mais variadas, a maioria me mandando não perder mais tempo com este tipo de leitura ou sugerindo uma literatura melhor. Como se somente um estúpido pudesse ler Paulo Coelho.

No final do ano passado, deparei-me com A bruxa de Portobello em uma livraria da cidade e a despeito das críticas invariavelmente negativas que já havia lido, ousei mais uma vez ler Paulo Coelho. Mais uma vez me surpreendi.

Com a desculpa de contar (mais) uma história de bruxas, PC faz uma viagem profunda e altamente didática ao imaginário filosófico-religioso deste início de século, um pout-pourri da Nova Era, este caldeirão multiétnico e cultural que cada vez mais se apresenta como o serviço religioso pronta-entrega que é a cara dos nossos tempos. Como um dos principais “divulgadores” do “movimento” (o que ele nega), “guru” de milhões de pessoas interessadas no assunto ao redor do globo (isso ele não nega, só não admite), Coelho sabe do que fala. E expõe até menos do que sabe, sempre com um olho na pessoa comum. Questiona a si próprio, seus mentores e crias, até o paroxismo. A jornada da bruxa chega a ter conotações políticas inesperadas e sérias, ao mostrar o desencanto de Coelho com um mundo em que somos, cada vez mais, escravos da sociedade tecnológica, dos sistemas políticos, das próprias superstições e crenças, dos próprios projetos (nem sempre bem-sucedidos) de vida.

Paulo Coelho usa e abusa, no novo livro, de sua condição ímpar de antena de um mundo que o reverencia, para expor posições intelectuais marcantes e relevantes. Se em O zahir ele propunha “despir-nos de nossa história pessoal”, (em vez do já batido “viva sua lenda pessoal”) a bruxa de Portobello Road sugere que tudo pode ser tentado e tudo pode ser abandonado nossa liberdade suprema, como humanos, é a de poder reinventar-nos a nós mesmos constantemente na busca pela sobrevivência. Assim, PC segue sua busca incansável por respostas, mostrando que a fama, o sucesso e o reconhecimento (ou as críticas) não afetaram sua capacidade de síntese e análise.

Bem, você pode me considerar um estúpido por ler Paulo Coelho, mandar cartas à redação sugerindo que eu leia coisa melhor ou até mesmo não ter chegado até aqui. Mas se chegou, e leu, leia Paulo Coelho também. Ou coisa melhor. Mas não deixe o preconceito pseudo-elitista que contamina boa parte de nossa inteligência o impeça de conhecer o maior escritor brasileiro de todos os tempos (veja bem: eu disse o maior, não o melhor). Um homem rico merece o nosso respeito. Imite-o se for capaz.

(publicado no caderno ALMANAQUE do jornal "O Estado do Paraná" em 11 de fevereiro de 2007)

O Vencedor Está Só
Posted by Renato on Sep 10, '08 11:08 PM for everyone
E não é que Paulo Coelho chegou mais perto de acertar desta vez? – pergunto sem me preocupar com o sarcasmo com que meus leitores e o respeitável público costumam brindar qualquer texto elogioso ao maior escritor brasileiro vivo. E eu disse o maior, parafraseando meu último texto sobre ele, não o melhor.

Pelo menos assim a frase acima afasta de cara aqueles que já odeiam o escritor de antemão: depois da googlada você veio parar aqui sabendo o que encontrar.

Ou quase, pois antes que me venham com lições de falso moralismo intelectualizado, direi logo que sou louco pela obra de Tchekhov, fã absoluto de Fitzgerald, Poe e Auster, leitor voraz de Lobato, Montello, Clarice, Sergio Porto e Mirisola, a mesma criança que amará Tolkien, Lewis e Carrol por toda sua vida. Não me mandem “ler coisa melhor”, como da última vez. Eu sempre li porque gosto, não em busca de algo sem forma definida chamado “cultura”. Por isso amo também King, Lovecraft, Gaiman e Eisner. Pessoa e Coltrane com a mesma efusão, mas aí já digressiono até a música, nem tão longe do assunto, mas já na hora de parar.

Vamos ao livro. A despeito de sua escrita ter melhorado, PC persiste em alguns “cacoetes” antigos, como o tom quase professoral com que enumera, disseca, exxxplicita dados, fatos e boatos a respeito da vida dos poderosos do planeta (a tal “Superclasse”, citada por ele em todas as suas – inúmeras – entrevistas nas últimas semanas), a dificuldade em diferenciar o tom e o discurso de alguns dos personagens, a perda de ritmo e andamento ao misturar os dois problemas acima.

Desta escrita por vezes confusa, no entanto, brota um ser humano, certo e errado a um só tempo, tosco, erudito, carioca, cosmopolita, bruto e delicado, mau e bom, encerrando em si o germe da inquietude – cada vez mais cínico – e a semente de sonhos desfeitos (cada vez menos críveis).

Mas, ‘pera lá, sonhos desfeitos? E a tal “Lenda Pessoal”? E o Mago, o guru, cadê?

Pois é, “o marido da Cristina” - citado com desenvoltura pela senhoras do Leblon - cresceu e apareceu. Abriu os olhos e os ouvidos e deu, mais uma vez, sua cara à tapa, expondo-se muito mais pelas opiniões que pela forma. Até porque o formato não é novo, e como já dito, não foi executado à perfeição. Até porque PC é um escritor brasileiro – enquanto os americanos lutam para se livrar das regras do “essay” pelo resto da vida, a gente nunca chega a aprender. Até porque não tem onde aprender, exceto na tentativa e erro costumeira, um livro atrás do outro, que para isso que eles foram feitos (e que me desculpe o Carpinejar, mas estou velho para voltar à Universidade)

Travestido de thriller, por exemplo, o romance demora a engrenar no aspecto “cinematográfico”, que é o que poderíamos esperar de um best seller. As idas e vindas do roteiro são um pouco confusas, e a opinião onipresente do autor mal ajambrada na forma de pensamentos das personagens sempre a invadir o raciocínio sem muita diferenciação. De um determinado ponto em diante, porém, a coisa deslancha e já sabemos quem é quem, antecipamos movimentos com alguma previsibilidade, torcemos para que o inevitável não aconteça. Mergulhamos fundo no universo - malévolo porque amoral - do protagonista e saímos da viagem maltratados, nocauteados porque, afinal, a verdade que se espreme de tanta informação tem gosto amargo.

O desfecho é exatamente o que eu imaginei, mas nem por isso pode ser considerado previsível. Pelo contrário! É a grandiosidade de construção da cena final que garante ao romance qualidade, closure, sentido.

Como retrato de uma época – pretensão tratada como objetivo pelo autor logo no prefácio, onde diz “Quando resolvi fotografar minha época, escrevi este livro” – o livro atinge seu objetivo ao mostrar um painel vasto e bem fundamentado da atividade humana nas altas esferas. Como veículo para exposição de idéias, o romance se sustenta por ofertar um único ponto de vista, mal-distribuído entre as personagens, mas nem por isso menos relevante: o (ponto de vista) do autor, espectador privilegiado da Superclasse que (ao menos aparentemente), não perdeu o olho crítico que o fez eleger como musa, na juventude, sociedade mais “alternativa”. Como peça de ficção, o acerto na descrição do protagonista e seus procedimentos faz esquecer facilmente a fragilidade de composição das outras personagens, que – vistas com olhos mais benevolentes – poderia ser tida até como “intencional”. Em sentido exclusivamente literatos, PC se afasta a passos largos da literatura mística, quase de auto-ajuda, que o revelou, aproximando-se de maneira oblíqua de certa linhagem semi-confessional da moderna literatura, comum neste início de século. Mas o faz quase sem querer, porque não adestrou ainda a verve a ponto de escrever “somente um thriller”, ou mais uma “história de amor”.

Talvez por isso mesmo continue a ser (muito) lido, pela saudade que todos temos de uma Voz. A dele continua a falar.



sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Sobra a Arte do Convívio - Reflexos da Série House MD
Posted by Renato on Sep 30, '08 10:19 PM for everyone
O momento síntese da quarta temporada de “House MD” é aquele em que o Dr. Kutner relembra que o conceito popularizado como “a curva de Gauss” permite admitir como normal uma infinidade de observações, e define como distribuição anormal (“fora-da-curva”) os valores aquém e além de um determinado ponto em relação à média. Mais ou menos dois desvios-padrão é, então, somente uma abstração arbitrária em um universo de possibilidades matemáticas. E se isto poderia definir como “doente” o tal “Mr. Nice Guy” – um paciente cujo principal sintoma é a aceitação resignada de qualquer evento da vida, bom ou mal, de forma absurdamente gentil – poderia também definir House como tal por seu temperamento diametralmente oposto. Longe de julgá-lo, o discípulo age na total certeza de que irá curá-lo de sua rabugice, sem entender que fora vítima de mais um estratagema do Dr. Gregory House - o Pedro Bial do inferno.

Verdadeiro “Big Brother” cínico, a temporada brinca com o formato “reality-show” adotado em seus primeiros episódios (escritos antes da greve dos roteiristas), com clichês das séries de televisão (com direito a uso de metalinguagem), metáforas sherlockianas e toda sorte de citações pop.

Mas a série brinca principalmente com as emoções de todas as personagens. Foreman primeiro, mas na seqüência também Chase, Cameron e o próprio Wilson bailam em torno da figura de House como se incapazes de não se renderem a seu fascínio, com conseqüências que variam entre a aceitação do inevitável (Foreman e Chase), a curiosidade sexual (Cameron) e a busca pela individualidade (Wilson). Desta forma redesenham suas dimensões trágicas e – ao lado da “nova geração” – injetam novas nuances à dinâmica da história.

Os “novos” são “mais do mesmo”; nem por isso insignificantes em seus contextos e atribuições. Como a Dra. Allisson Cameron bem sacou em um dos últimos episódios, a Dra. Remy Hadley (chamada de “Treze” por House - seu número na primeira eliminatória) é colírio para os olhos do chefe: cargo que um dia foi seu. “Peça... e eu mando a ‘Treze’ embora agora”, diz H. com sua imensa cara de pau, mais preocupado em expor as fragilidades de ambas as moças para seu próprio deleite. Lawrence Kutner é o sucessor improvável, se controlar a insegurança e a língua, mas – como Foreman – é humilhado on a daily basis justamente por isto. Chris Taub, o cirurgião plástico, é a voz da razão e o advogado do diabo em quase todas as ocasiões difíceis. Lembra-me muito um colega meu, altamente cético e desconfiado: nunca vi um médico duvidar tão bem de si mesmo, de tudo e de todos. Por isso mesmo era alguém – como Taub - im-pres-cin-dí-vel na prática clínica diária. Todos são, contudo e em suas essência, apenas massa de manobra com a qual o chefe pode exercitar seus maquiavélicos movimentos de guerra psicológica.

Lisa Cuddy, a diretora – cada vez mais bonita e fa-tal, com direito a striptease e tudo! – é a única que percebe a essência da dominação de House, ao admitir que o “deixa solto a ano todo, fingindo não ver o que ele faz; só lhe pede para se comportar durante a visita do auditor” ou perceber que caiu direitinho no “conto das escolhas de equipe” (que só visava a permanência de Treze) Cuddy é a única a mostrar-se à altura intelectual das maquinações do cara - talvez por isso mesmo esteja elevada à condição de bola da vez já na quinta temporada, onde ela e o Greg devem – finalmente – matar a tesão reprimida por tantos e tantos episódios.

Já Amber - a preterida, Amber - a namoradinha do Wilson, Amber - a cadela (em tradução livre para “the bitch”): foi a surpresa da estação. Primeiro pela chatice - magistralmente interpretada e clichê das jovens executivas americanas modernas – depois pela lenta transformação em antagonista sedutora. E finalmente por seu desfecho, totalmente inesperado, porém bastante crível e bem urdido. A morte muda tudo, diria House na premiere da quinta temporada – mas quase morrer não significa nada, expressando toda sua perplexidade ao encontrar um adversário à altura. Cuddy? Não, ela joga no mesmo time. Amber? Não! – e olha que ela tentou com bastante força. A vida. Esta sim, uma cadela, esta sim, desconcertante, esta sim incrivelmente sem sentido ou razão, por isso mesmo imune aos esforços do próprio Gregory House em se debater.

Sempre em busca de resposta aos conflitos do homem contemporâneo, “House MD” firma-se como um oásis de inteligência na tevê, um instant classic em construção, obra aberta também às nossas interpretações, que se estendem ao terminar o show, como velhos casos clínicos aos quais sempre se volta em busca de alguma iluminação.