quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Rio de Janeiro,

minha alma chora, e a de todos n�s brasileiros, ao imaginar o medo e a ang�stia - incomensur�veis - a corroer o cora��o dos cariocas nesses dias.

Ao corroer o cora��o de todos n�s cariocas - porque sim, se somos brasileiros, somos tamb�m, para sempre, cariocas. S� entendemos o Brasil quando come�amos, ou terminamos, no Rio, sua mais perfeita tradu��o e s�ntese.

Por isso hoje choro, de corpo e alma. Vejo ve�culos incendiados em lugares por onde vivi, onde passava todo dia, ou toda semana, quando morava l�: a duas quadras de onde morei em Laranjeiras, no buraco entre os t�neis dos irm�os Rebou�as, na Cidade (que carioca n�o fala Centro), pior ainda na Penha, onde trabalhei tantos anos, no Get�lio Vargas e no M�rio Kr�eff.

(N�o preciso imaginar o desespero dos colegas m�dicos: vez por outra eu ou minha esposa fic�vamos retidos at� o dia seguinte nos hospitais).

Imediatamente pensei em quem estaria de plant�o por l�, amigos meus. Pensei nos meninos do morro que cuidavam dos carros, na ladeira do Getuli�o, na m�e que se desesperou ao ver o filho baleado, mas est�vel, aguardando cirurgia. Lembrei do tamb�m amigo Dom Rafael, ali na Igreja da Penha; seria que estar� l�, em sua resid�ncia, retido tamb�m o bom Bispo? E meus filhos, na Zona Sul?

Que a proximidade do alto o ilumine, e a tantos outros, para que possam pedir aos C�us por todos n�s, os que l� estamos e os que aqui de foram, assistem, apavorados, ao "oriente m�dio" brasileiro.

"Imagens que eu guardo na mem�ria", diria a poeta.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

A Porn Food e o Futuro da Televis�o (espelho)

A Porn Food e o Futuro da Televis�oOct 5, '10 8:33 PM
para todos
Acompanho j� h� alguns anos, at� pela onipresen�a, v�rios programas de culin�ria na tev�. L� se v�o muitos anos desde que a cachorrada da Ana Maria Braga era o prato mais comentado do dia.

Na tev� aberta nem sei mais, impregnado que estou pela cable television, descobrindo estarrecido que muitas, muitas vezes, o melhor da programa��o est� justamente nos programas de gastronomia.

Dos seminais, prof�cuos e plurais Jamie Oliver ("o cara da comida nas escolas brit�nicas", tamb�m conhecido como "o cara das ervinhas no quintal") e Gordon Ramsay (o dono da "Cozinha do Inferno", consertador de pesadelos e falador de palavr�o) passamos a degustar (ou n�o! o que por si j� � uma convers�o) os aloprados Andrew Zimmern e Anthony Bourdain, estrelas maiores da atual mir�ade de shows de culin�ria e escatologia que serve � tela pequena.

O primeiro se fez conhecido no mundo todo pelo seu imperd�vel "Bizarre Foods" (no Brasil, "Comidas Ex�ticas", DTL), cole��o para l� de interessante sobre h�bitos, culturas... e alimentos. Americano, judeu e chef de cozinha, Mr. Zimmern n�o desdenha, sempre quer comprar, fazendo valer seus bord�es: "se tiver boa apar�ncia, coma" e "nunca desista no primeiro peda�o" - inclusos insetos de toda sorte, cr�nios (de porco, carneiro e bode), tar�ntulas, r�pteis, roedores, morcegos e ratos. � o fim do mundo, e � legal, especialmente pelo respeito que o apresentador devota a tudo que � comest�vel - Mr. Zimmern comunga com Mr. Bourdain a cren�a de que se algo � bom o suficiente para outro ser humano comer, pode se experimentar.

"Tony Bourdain No Reservations" � o nome do show de seu amigo e ex-vizinho em Nova Iorque, cuja genialidade no comando das panelas p�e Andrew no chinelo. Feliz ou infelizmente, Tony � dono de trajet�ria mais err�tica e inconstante, variando do jet set � sarjeta e �s drogas, o que lhe garante mais profundidade na fala, que inclui pol�tica, antropologia e cultura em doses verborreicas - garantindo, de quebra, um escopo de vis�o provilegiado ao programa.

Nas temporadas que passam no Brasil, sempre com grande atraso, Tony viaja o mundo a bordo de muito senso cr�tico e capacidade de observa��o. N�o viaja simplesmente em busca de comida, como o compatriota, mas de forte e raras emo��es. S� falta chorar de alegria e tes�o em frente a uma bela sopa vietnamita; lambuza-se de sangue fresco de foca na cozinha de uma fam�lia inu�te no Canad�; titubeia frente a um complexo per�neo de porco, com conte�do e tudo, assado na brasa em uma savana africana. Experimenta a comida das ruas como quem vai � igreja, ciente do milagre da multiplica��o das rotinas e insumos por este mundo que pode ser qualquer coisa, menos desinteressante.

E de quebra presta o mesmo servi�o que tantos de seus comparsas: o resgate de tradi��es possivelmente morredouras, rep�rter ocular de hist�rias que j� podem ter acabado quando o programa vai ao ar. Uma delas, recheada de for�a po�tica que ultrapassa as barreiras da arte de se fazer televis�o, � a do fazedor de noodles em algum lugar da China, montado em seu imenso rolo de madeira, o �ltimo de sua profiss�o.

Recentemente o DTL reprisou a vers�o de Bourdain para o "Para�so/Heaven", em epis�dio especial que passeia por alguns dos melhores momentos de sua trajet�ria, que atinge seu ponto alto enaltecendo a intimidade de nossas bocas com a comida feita � m�o, pela m�o de outras pessoas, simbiose que toma dimens�o verdadeiramente metaf�sica em seu discurso apaixonado (por comida) em uma esquina qualquer de NY.

Antes, por�m, ao declinar exageros e absurdos veiculados em programas exatamente como o dele, Tony cria curioso neologismo ao se referir aos excessos alimentares de nossa obesa televis�o, que chama de "porn food", em clara alus�o a nosso modos onanistas e voyeuristas diante da imagem (virtual, claro) de um prato de comida.

�, Tony, voc� tem raz�o. Somos todos uns selvagens, como pode atestar outra figurinha em ascens�o no meio, o impag�vel Adam Richman (Man Vs. Food, FoxLife), cujo est�mago acomoda facilmente os muitos quilogramas dos desafios quantitativos t�o comuns nos EUA, numa maratona que d� fome e n�useas a um s� tempo.

De minha parte, aguardo ansiosamente pelas del�cias da gastronomia virtual, a ser desenvolvida nas pr�ximas d�cadas pela uni�o de talentos de tecn�logos da computa��o ecaras como esses citados aqui, que partem da simples comidinha nossa de cada dia para alus�es complexas que ajudam a entender o que fomos, como chegamos at� aqui, o que continuaremos comendo nas d�cadas vindouras e o que nunca mais comeremos: lembran�as de del�cias caseiras soterradas pela generaliza��o da "junkie food" e pela escassez de �gua e alimentos que, fatalmente, vir�.

E que tantas horas em frente � tev� me poupem uns anos de terapia. Sa�de!

(Foto: Outback, Rio de Janeiro, 2010)

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Porn Food OU O Futuro da Televis�o

Acompanho j� h� alguns anos, at� pela onipresen�a, v�rios programas de culin�ria na tev�. L� se v�o muitos anos desde que a cachorrada da Ana Maria Braga era o prato mais comentado do dia.

Na tev� aberta nem sei mais, impregnado que estou pela cable television, descobrindo estarrecido que muitas, muitas vezes, o melhor da programa��o est� nos programas de gastronomia.

Dos seminais, prof�cuos e plurais Jamie Oliver (o cara da comida nas escolas brit�nicas, tamb�m conhecido como o cara das ervinhas no quintal) e Gordon Ramsay (o dono da Cozinha do Inferno, resolvedor de pesadelos e falador de palavr�o) passamos a degustar (ou n�o! o que por si j� � uma convers�o) os aloprados Andrew Zimern e Anthony Bourdain, estrelas maiores da atual mir�ade de shows de culin�ria e escatologia que serve � tev�.

O primeiro se fez conhecido no mundo todo pelo seu imperd�vel "Bizarre Foods" (no Brasil, "Comidas Ex�ticas", DTL), cole��o para l� de interessante sobre h�bitos, culturas... e alimentos. Americano, judeu e chef de cozinha, Mr. Zimmern n�o desdenha, sempre quer comprar, fazendo valer seus bord�es: "se tiver boa apar�ncia, coma" e "nunca desista no primeiro peda�o" - inclusos insetos de toda sorte, cr�nios de porco, carneiro e bode, tar�ntulas, r�pteis, roedores, morcegos e ratos. � o fim do mundo, e � legal, especialmente pelo respeito que o apresentador devota a tudo que � comest�vel: comunga com Mr. Bourdain a cren�a de que se algo � bom o suficiente para outro ser humano comer, pode se experimentar.

"Tony Bourdain No Reservations" � o nome do show de seu amigo e ex-vizinho em Nova Iorque, cuja genialidade no comando das panelas p�e Andrew no chinelo. Feliz ou infelizmente, Tony � dono de trajet�ria mais err�tica e inconstante, variando do jet set � sarjeta e �s drogas, o que lhe garante mais profundidade na fala, que inclui pol�tica, antropologia e cultura em doses verborreicas - garantindo, de quebra, um escopo de vis�o provilegiado ao programa.

Nas temporadas que passam no Brasil, sempre com grande atraso, Tony viaja o mundo a bordo de muito senso cr�tico e capacidade de observa��o. N�o viaja simplesmente em busca de comida, como o compatriota, mas de forte e raras emo��es. S� falta chorar de alegria e tes�o em frente a uma bela sopa vietnamita; lambuza-se de sangue fresco de foca na cozinha de uma fam�lia inu�te no Canad�; titubeia frente a um complexo per�neo de porco, com conte�do e tudo, assado na brasa em uma savana africana. Experimenta a comida das ruas como quem vai � igreja, ciente do milagre da multiplica��o das rotinas e insumos por este mundo que pode ser qualquer coisa, menos desinteressante.

E de quebra presta o mesmo servi�o que tantos de seus comparsas: o resgate de tradi��es possivelmente morredouras, rep�rter ocular de hist�rias que j� podem ter acabado quando o programa vai ao ar. Uma delas, recheada de for�a po�tica que ultrapassa as barreiras da arte de se fazer televis�o, � a do fazedor de noodles em algum lugar da China, montado em seu imenso rolo de madeira, o �ltimo de sua profiss�o.

Recentemente o DTL reprisou a vers�o de Bourdain para o "Para�so", em epis�dio especial que passeia por alguns dos melhores momentos de sua trajet�ria, que come�a enaltecendo a intimidade de nossas bocas com a comida feita � m�o, pela m�o de outras pessoas, simbiose que toma dimens�o verdadeiramente metaf�sica em seu discurso apaixonado (por comida) em uma esquina qualquer de NY.

Antes, por�m, ao declinar exageros e absurdos veiculados em programas exatamente como o dele, Tony cria curioso neologismo ao se referir aos excessos alimentares de nossa obesa televis�o, que chama de "porn food", em clara alus�o a nosso modos onanistas e voyeuristas diante da imagem (virtual, claro) de um prato de comida.

�, Tony, voc� tem raz�o. Somos todos uns selvagens, como pode atestar outra figurinha em ascens�o no meio, o impag�vel Adam Richman (Man Vs. Food, FoxLife), cujo est�mago acomoda facilmente os muitos quilogramas dos desafios quantitativos t�o comuns nos EUA, numa maratona que d� fome e n�useas a um s� tempo.

De minha parte, aguardo ansiosamente pelas del�cias da gastronomia virtual, a ser desenvolvida nas pr�ximas d�cadas pela uni�o de talentos de tecn�logos e caras como esses citados aqui, que partem da simples comidinha nossa de cada dia para alus�es complexas que ajudam a entender o que fomos, como chegamos at� aqui, o que continuaremos comendo nas d�cadas vindouras e o que nunca mais comeremos: lembran�as de del�cias caseiras soterradas pela generaliza��o da "junkie food" e pela escassez de �gua e alimentos que, fatalmente, vir�.

E que tantas horas em frente � tev� me poupem uns anos de terapia. Sa�de!

(Foto: Outback, Rio de Janeiro, 2010)

sábado, 8 de maio de 2010

O dia em que confundiram o Alem�o com Mick Jagger

O v�o direto se transformara em uma escala em Congonhas - um daqueles contratempos que se n�o ferram com o dia do cara, n�o o tornam mais f�cil; ainda mais quando a manobra envolve quase uma hora de espera, check out, cigarrinho na cal�ada dos t�xis e novo check in. Depois de tudo, Alem�o achou que at� valeu a pena: pelas risadas.

O MIB com um cartaz onde se lia "MIck Jagger" foi a primeira coisa que ele viu, assim que saiu da �rea reservada em dire��o ao sagu�o - um daqueles momentos em que a piada vem pronta, r�pida, quase imediata. Olhou para o homem sem parar de caminhar, abriu um sorriso discreto e fez um sinal - universal - com a cabe�a, como se fosse o pr�prio. O pr�prio Mick Jagger.

O pobre homem fez men��o de ir ao seu encontro quase ao mesmo tempo em que as pessoas come�aram a rir, atropelando sua inten��o no reconhecimento da brincadeira. Alem�o seguiu em frente, c�lere, rindo com a esposa e o primo, imaginando como tudo se torna ir�nico quando algu�m destacado para buscar Mick Jagger no aeroporto n�o tem a m�nima ideia de quem ele seja ou como se pare�a.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Quando eu levanto a minha voz,

Quando eu levanto a minha voz,

perco.

Quando eu levanto a minha voz,

ainda que cheio de raz�o,

perco.

E o que fica � o estrondo

os decib�is que explodem

acima de nossas cabe�as.

Quando eu levanto a minha voz,

perco

- exce��o feita a aquele momento em que

do meio da multid�o, ela se eleva.

Mas mesmo ent�o,

perco,

se n�o consigo dizer nada,

n�o,

se ningu�m ouve nada,

ou se eu falo sem raz�o.

(por isso tudo tenho andado calado, a me perguntar onde est� a minha voz, o destempero e a empolga��o; penso, repenso e calo, fundo, silente, inerte, em v�o)

At� mesmo este poema

- torto, tamb�m pudera,

vindo da boca de quem vem -

poderia ser n�o.

(leio no jornal not�cias sobre o coletivo Wu Ming e a� � que me pergunto, de vez, quem foi que me deu permiss�o, a quem interessar possa, por que que a gente � assim, e fala tanto - com ou sem raz�o)

terça-feira, 30 de março de 2010

Uma l�grima por Armando Nogueira

Um craque - na concep��o de todos os que vivem o jornalismo; um t�cnico - na constru��o do ide�rio daqueles que amam o futebol; um maestro - que "tocava"as palavras, extraindo delas n�o s� sentido, mas cor e emo��o e lirismo: este o Armando Nogueira que conheci.

Obviamente - e infelizmente - n�o jamais o encontrei no plano f�sico, portanto dele n�o posso falar como colega, comandado ou amigo; mas sinto como se o tivesse, embalado ao longo de muitos anos por suas palavras m�gicas, combinadas em textos na imprensa escrita ou eletronica, declamados (como poesia que s�o) por tantas e t�o belas vozes, como a sua pr�pria. Conheci-o tamb�m atrav�s da televis�o, por via indireta (atrav�s de conceitos inseridos desde sempre na alma de n�s brasileiros) ou direta, em seus programas na tev� a cabo ou nas - j� h� algum tempo raras - entrevistas.

Cultivei com ele aquele elo que nos faz mais que admiradores, entusiastas, ciente o tempo todo que daqueles olhos calmos, daquela finesse incontest�vel, brotavam fa�scas de genialidade e inspira��o.

Por isso chorei, silente, no Jornal Nacional de ontem, e repeti a dose no Jornal da Globo, como quem perde um amigo querido. N�o o choro da tristeza ou do desespero, incab�veis, mas o choro discreto e incont�vel de quem testemunha um adeus de algu�m que marcou sua trajet�ria com os signos da lucidez racional e da imagina��o afetiva, de maneira incontest�vel, rica e inesquec�vel.

A um mestre cantado por tantos, juntei minha l�grima em ova��o, como um coro da torcida no Maracan�, que ontem velou calado seu �ltimo adeus.

sexta-feira, 19 de março de 2010

N�s n�o amamos Brigitte Bradot

Cresci ouvindo falar daquela mulher lind�ssima, lour�ssima, talentos�ssima, t�o famosa quanto os Beatles ou Marilyn Monroe, que encantara o mundo por mais que uma gera��o e se retirara no auge, tornando-se uma reclusa esquisitona que propaga(va) aos quatro ventos preferir os animais aos seres humanos.

"Como � que pode, largar tudo para viver uma vida assim, quase mon�stica, entregando-se a uma loucura dessas, gatinhos e c�ezinhos, cavalos e beb�s-foca... Muito louca, isso sim...", diziam meus pais e todos aqueles que antes a veneravam.

Depois conheci B�zios, no estado do Rio, e toda a mitologia reunida ao redor e sobre sua visita inesquec�vel ao Brasil em 1965, da Rua das Pedras �s praias (n�o mais, h� tempos) quase virgens.

Mas foi s� bem mais tarde, nas madrugadas do extinto Telecine Classic, que pude apreciar mais a fundo sua beleza loura, sua intensidade e seu talento. Nem parecia que ela permanecia viva, enclausurada na velha casa que escondeu e escancarou a um s� tempo, ao mundo e a quem interessasse, sua lenta degenera��o em decrepitude. (Re) Descobri BB viva, ao assistir um punhado de filmes e descobrir que sentia por ela o mesmo tes�o de f� que me une indelevelmente a umas poucas outras estrelas como Liz Taylor e Audrey Hepburn - que envelheceram de forma t�o dessemelhante.

No que chovo no molhado, uma vez mais: estrelas n�o morrem, ainda que tentem faz�-lo em vida, com suas opini�es estridentes e idiossincrasias pouco compreendidas, e assim renascem a cada gesto, os de estreia tanto quanto os longos feneceres, como se suas luzes astrais teimassem em brilhar vindas l� de cima, para descer lenta e calmamente � Terra ao longo dos s�culos.

Por isso reencontr�-la agora, meio de surpresa, atrav�s do document�rio de Benjamin Roussel "Brigitte criou Bardot", de 2007, foi t�o impactante. V�-la defender seus pontos de vista com clareza, intelig�ncia e verve, vestida do corpo sovado pela velhice que quase a torna mais uma vez bonita, em seu (j� n�o t�o) novo papel de anci�, chega a comover. Sua luta a colocou � frente de seu tempo, antecipando tend�ncias da moda como o abandono (parcial) do uso de peles naturais pelos avatares da moda, pressagiando temas marcantes do fimde s�culo como o ambientalismo, instigando desde h� quase quarenta anos a discuss�o t�o moderna a respeito da crueldade de abatedouros e que tais.

"O ser humano � um horror, o que n�s fazemos..."; "sinto-me mais � vontade entre os animais que entre os seres humanos"; "fiz o que fiz para tentar sobreviver em um mundo que me � hostil" s�o algumas das frases (feitas) pela atriz ao longo de uma hora de entrevistas e memorabilia, pela primeira vez -pelo menos para mim - colocadas em perspectiva,dentro de um contexto que se aproxima do que podemos imaginar seja a vis�o dela, com respeito e sem bl�-bl�-bl�.

La Bardot vive, aninhada no desejo - e mais uma vez digo "quase" - inconfess�vel que sua imagem adolescente provoca em n�s nos velhos filmes de sua �poca, e - repito, pelo menos para mim - na compreens�o recent�ssima da import�ncia de sua trajet�ria.

O mundo n�o a merece, e na cabe�a ecoa Gaisbourg, com a vers�o (original) que contrap�e t�o apropriadamente ao "Je t'aime" (te amo), o "moi non plus" (nem eu).

terça-feira, 9 de março de 2010

A cachorra cheira-bunda II

Oswaldo se mudou recentemente para o outro lado da cidade: vendeu um terreno e comprou uma casa antiga, com terreno legal cheio de �rvores frut�feras, antiga casa de padres onde tudo que se planta d�, que nem o nosso Brasil.

De vez em quando volta � antiga moradia, que est� arrumando para alugar, e (re)encontra a cheira-bunda. �, a cadela que o seguia por toda parte at� uns dias atr�s...

Junto com ela, que � preta como piche, agora vive um machinho louro, vira-lata tamb�m, no terreno vago em frente � casa (velha).

Pois n�o � que a cheira-bunda achou o caminho, e hoje apareceu do outro lado da cidade, sabe-se l� como? Depois a gente ouve falar de hist�rias como esta e n�o acredita que � poss�vel, mas hoje a vi com meus pr�prios olhos.

Chegou toda suja de �leo diesel, chorando e ganindo como se pedisse ajuda ao amigo, que prontamente deu-lhe um banho, casa e comida. O percurso? Coisa de uns quatro quil�metros, no m�nimo.

"E a�, vai ficar com ela, Oswaldo?"

"P�, bicho, e tenho outra coisa pra fazer? Depois dela percorrer um caminho desses?"

Pois �, Oswaldo, ou o faro dela � bom demais, ou o cheiro � muito forte...

sábado, 9 de janeiro de 2010

Crian�as com c�ncer ficam sem tratamento em Ponta Grossa

Link para www.jmnews.com.br

Sa�de

Crian�as com c�ncer ficam sem tratamento em PG
Pacientes s� recebem atendimento na cidade quando � caracterizado caso de emerg�ncia; crian�as precisam fazer sess�es de quimioterapia em Curitiba
Publicado em: 09/01/2010 00:00 Danilo Kossoski

Enquanto se fala em grandes obras no setor de sa�de, pacientes ainda reclamam de falta de atendimento nas estruturas que j� existem em Ponta Grossa. Uma parcela da popula��o que permanece sem aten��o s�o as crian�as com c�ncer. A chamada 'oncologia pedi�trica' n�o existe no munic�pio, e todo paciente que necessite de tratamento precisa se deslocar at� Curitiba, em hospitais como o Pequeno Pr�ncipe.

De acordo com o vereador e m�dico Pascoal Adura, que fez visitas recentemente a diversos hospitais, a Santa Casa j� realizou esse atendimento, e possui equipamentos e disposi��o para atender a esse p�blico. Mas ainda falta a autoriza��o do Minist�rio da Sa�de para realizar o servi�o, desativado h� muitos anos.

"Hoje as pessoas t�m que enfrentar fila do Paran� inteiro, porque hoje existem apenas dois oncologistas pedi�tricos em Ponta Grossa, que prestam atendimento no Hospital da Crian�a e que est�o dispostos a dar esse atendimento", diz Pascoal.

Segundo o vereador, o ideal seria fazer um conv�nio entre Santa Casa e o Hospital da Crian�a. Mas isso vai depender de diversos fatores. O presidente da Comiss�o de Instala��o do Hospital Regional, Adroaldo Ara�jo, informa que a nova estrutura tamb�m ainda n�o prev� o tratamento de oncologia pedi�trica.

� essa morosidade e aparente falta de empenho do poder p�blico que preocupam Denise Grachinski Frasson. Em outubro de 2009, depois de duas semanas recebendo tratamento para alergia respirat�ria, seu filho de cinco anos foi diagnosticado com leucemia. Numa emerg�ncia, ficou internado na Unidade de Tratamento Intensivo do Hospital da Crian�a por 21 dias. Em seguida, deu continuidade ao tratamento no Instituto Sul Paranaense de Oncologia de Ponta Grossa (Ispon). Mas agora ela luta para manter a realiza��o do tratamento na cidade, onde s� s�o atendidos casos emergenciais.

"O tratamento nos hospitais de Curitiba � excelente. O problema � o deslocamento que precisa fazer. Al�m do desgaste financeiro, tem um desgaste f�sico e emocional muito grande. Nesse momento a crian�a e os pais ficam numa situa��o de muita fragilidade", explica Denise. "Ter o tratamento em Ponta Grossa � de extrema import�ncia, assim como treinar os pediatras para o diagn�stico correto de casos de c�ncer. Precisamos de menos obras, e mais aten��o ao tratamento", diz.

Tratamento era pouco eficiente

De acordo com o secret�rio municipal de Sa�de, Winston Bastos, deve fazer cerca de 20 anos que a cidade n�o possui atendimento de oncologia pedi�trica. "Mas, na verdade, Ponta Grossa nunca teve esse tratamento, porque era algo muito incipiente. Faltavam profissionais", afirma.

M�nica Lankszner � oncologista pedi�trica do Ispon, e reconhece a grande falha no atendimento a esses pacientes na cidade. "Hoje todas as crian�as s�o encaminhadas para Curitiba. Mas, da nossa parte e do Ispon, existe o interesse de realizar esse tratamento. A demanda existe, com certeza. Falta apenas o credenciamento", diz.