sexta-feira, 23 de janeiro de 2009


Boa Noite. E Boa Sorte.Feb 18, '06 2:20 AM
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George Clooney - para começar fazendo logo um trocadilho infame com o título de seu primeiro filme como diretor ("Confessions of a Dangerous Mind") - é dono de uma mente perigosa. Seu nome atinge lentamente a estatura daqueles que extrapolam a condição de ator para alçar vôos mais altos, a bordo de uma consciência crítica singular e de inteligência ímpar.

Não à toa, o ator/diretor e agora co-roteirista tem sido uma das vozes mais ativas do meio artístico americano, em defesa da liberdade mais uma vez ameaçada pelo domínio da política conservadora e direitista que comanda seu país já há alguns anos.

Se em "Confessions of a Dangerous Mind" Clooney contava com a ajuda de um roteiro exemplar do cultuado Charlie Kaufmann - o que não o impediu de realizar um filme apenas regular, tão interessante quanto exagerado, em que pese notar-se já ali seu domínio do ofício de diretor - "Good Night, and Good Luck" é uma obra-prima de concisão e coerência.

Partindo de premissas simples - da grandeza singela e corajosa da história do homem (Edward R. Murrow) que iniciou o processo de derrocada do temível Senador McCarthy nos EUA dos 50's, de suas próprias memórias de infância (seu pai era âncora de um telejornal) e do uso de imagens reais que transformam o filme num misto de documentário e ficção histórica - Cloooney nos arrebata com leveza e precisão ao retratar um um período e um embate que, em mãos menos hábeis, poderia ter se transformado "apenas" em mais um pesado filme político.

É um filme estiloso e seco a um só tempo, permeado por belos standards da música americana - magistralmente interpretados pela Rosemary Clooney's Band (cantora de jazz morta em 2002, tia do diretor, dublada por Diana Reeves) - e extremamente bem interpretado por um elenco estelar, onde se destacam David Strathairn no papel do protagonista, o próprio Clooney, Jeff Daniels e Robert Downey Jr.

Com este filme, indicado para seis Oscar, a trupe de Clooney (cercado de alguns bons amigos como Steve Soderberg, Brad Pitt, Matt Damon e Julia Roberts) firma-se como uma espécie de "United Artists" do século XXI, refletindo o ideal de Chaplin e Fairbanks nos anos 20: ser um celeiro de "pequenos grandes filmes" produzidos e estrelados pelos próprios atores, entre um "blockbuster" e outro. Puro prazer.

Leia mais sobre George Clooney e seu novo filme em:
IMDb
Clooney Studio




Blog EntrySobre o Direito de Ser PaiFeb 12, '06 5:46 PM
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A resolução de ter um filho nestes loucos dias em que vivemos não é fácil.

Não que outros tempos, menos confortáveis, democráticos e/ou violentos fossem evidentemente mais propícios à procriação humana, não. Deixamos para trás fantasmas como as altas taxas de mortalidade infantil, doenças infecto-contagiosas que dizimaram ou marcaram como inúteis gerações inteiras (a poliomielite como exemplo máximo), combatemos a exploração do trabalho infantil, aumentamos os níveis de escolaridade virtualmente em todo o mundo. Não, é claro que não estou falando da África ou de nossas favelas.

Fomos agraciados com outros vilões, porém. A violência outrora típica das cidades grandes espalhando-se pelo interior, o vício das drogas - cada vez mais facilmente disponíveis para os adolescentes, as mortes no trânsito, os cartões de crédito que prometem uma felicidade consumista e espontânea com o único intuito de recrutar novos inadimplentes como prisioneiros da malha de exploração econômica do “novo” capitalismo, a destruição das famílias com a vulgarização do casamento e do divórcio.

Destes, considero os dois últimos os piores. Não que eu seja contra uniões estáveis – pelo amor de Deus, se o fosse, não estaria vivendo com alguém que amo e respeito. Nem contrário ao estabelecimento do divórcio como solução para más escolhas. Muito menos a favor das famílias de mentirinha em que boa parte de nós fomos criados, mantidas ao custo de manobras extraordinárias cuja intenção era tão somente garantir a sobrevida de casamentos fracassados “até que os filhos fossem adultos”.

Acredito sim que uma relação sólida e sadia entre dois humanos viventes, quando é do desejo de ambos que esta dure mais que uma “ficada” ou um namoro, possa ser o que de mais belo experimentaremos neste mundo de dificuldades financeiras, profissionais e psicológicas.

Acredito também, contudo, que nossa sociedade não está preparada, nem do ponto de vista micropolítico, nem do ponto de vista legal, a fornecer suporte adequado às famílias desfeitas. Vivemos ainda numa era patriarcal-matriarcal, em que ao pai cabe o sustento e à mãe, a criação dos filhos. Isto fica evidente quando se trata de disputas no âmbito judicial, uma vez que o Novo Código Civil não nos agraciou com as mudanças que se fazem necessário para atender a mulher moderna, o pai responsável e a atual família brasileira. A Guarda dos filhos continua sendo monoparental, da mesma forma que no antigo Código Civil (1916), hoje quase centenário.

Disso resultam problemas graves que atingem um número cada vez maior de crianças e principalmente progenitores do sexo masculino – uma vez que, no Brasil, em 91% dos casos a guarda de filhos menores recai sobre a mãe. Como decisões favoráveis à guarda compartilhada são ainda raras em nosso sistema judiciário, estes pais vêem suas funções resumidas às de “pai provedor” e “pai visitador”, quebrando-se laços que deveriam ser protegidos por lei (entre a prole e o pai) e instaurando-se problemas variados de convivência entre as duas porções da família desfeita – o mais grave deles a Síndrome de Alienação Parental.

Esta Síndrome, descrita por definida pela primeira vez em 1985 pelo Prof. Dr. Richard A. Gardner, Professor de Psiquiatria Infantil da Universidade da Columbia (EUA), é “o denegrir sistemático de um progenitor pelo outro, com o intuito de alienar a criança do convívio do primeiro”.

Pais que sofrem este tipo de abuso experimentam sensações de perda, tendência à depressão e/ou agressão.

Filhos que sofrem privação de convívio com um dos progenitores são mais propensos a distúrbios psicológicos. A ligação entre a criança e o pai alienado estará irremediavelmente destruída e, com efeito, não poderá ser restabelecida sem que se passe um hiato de alguns anos. O pai alienado passa a ser um estranho para a criança, e seu modelo psicológico passa a ser o do outro progenitor, que detém a guarda e instaura o processo, por apresentar-se mal-adaptado à separação/divórcio e reagir a esta de forma disfuncional.

Uma conjunção de fatores (pai alienado do convívio mais modelo familiar incompleto e patológico) parece ser causa de inúmeros problemas psiquiátricos para a prole, como a depressão crônica, a incapacidade de “funcionar” dentro de um contexto psicossocial normal, problemas de construção da identidade, desespero, sentimentos incontroláveis de culpa, tendência à desorganização, sentimentos de isolamento, podendo chegar até ao desenvolvimento de neuroses específicas como a Síndrome de Ansiedade Generalizada (Generalized Anxiety Disorder ou GAD) e a Síndrome de Hiperatividade da infância. Na juventude e idade adulta, há correlação estatisticamente significativa nos (poucos) trabalhos existentes sobre o assunto com maior propensão ao tabagismo, à drogadicção, ao alcoolismo, à criminalidade e a tendências suicidas.

A Síndrome de Alienação Parental pode e deve ser incluída como uma forma de abuso à infância. Como vimos, seus efeitos não são somente temporários, mas podem acarretar problemas psicológicos, psiquiátricos e sociais pelo restante da vida do indivíduo.

Estados americanos como Califórnia, Texas e Pensilvânia já possuem jurisprudência sobre o assunto, cada vez mais discutido nos foros legal e científico. Já a União Européia vem discutindo desde 1992, quando um tribunal alemão recusou-se a permitir o direito de visitação de um pai a seu filho fora dos horários pré-estabelecidos, uma vez que o filho se recusava a vê-lo. O tribunal instruiu que estas visitas fossem realizadas somente com o acompanhamento da mãe e de um psicoterapeuta de sua escolha. Esgotados todas as possibilidades de apelação, e ainda impossibilitado de conviver com seu filho, este pai dirigiu-se à Corte Européia de Direitos Humanos demandando justiça e reparação contra a Justiça alemã. Ele invocou o Artigo 8 da Convenção dos Direitos Humanos que diz que “toda pessoa tem direito à sua vida (...) e família (...)” e que “a autoridade pública que exerce o direito previsto pela lei deve estabelecer medidas que, dentro de uma sociedade democrática, visem preservar a saúde ou a moral, ou a proteção dos direitos e liberdades dos outros(...)” Neste caso, conhecido como “o caso Elsholz” a Corte Européia deu razão ao querelante e condenou o estado alemão a pagar 476000 marcos à título de reparação moral. Desde então, a Alemanha incluiu medidas preventivas e punitivas em relação à Síndrome de Alienação Parental em seu Código Civil.

Isto mostra que, independente das leis nacionais, o interesse superior da criança inclui o acesso fundamental ao convívio com seus dois pais.

Estudos multidisciplinares levados a termo principalmente por Gardner e colaboradores, vêm estabelecendo subdivisões da Síndrome baseadas em características psicossociais das famílias e gravidade dos sintomas apresentados pela(s) criança(s) envolvida(s). O tratamento é multimodal e deve incluir dois braços principais: jurídico (responsável pelo atendimento legal ao progenitor alienado, pela indicação de um terapeuta único que trate em conjunto a ambos os ex-cônjuges e a prole) e médico-assistencial (que forneça o “feedback” necessário para a Corte instituir as medidas cabíveis quando necessário, que podem resultar até mesmo em troca da guarda nos casos mais graves).

É. A resolução de ter um filho nestes loucos dias em que vivemos não é fácil. A possibilidade de poder conviver com eles ao longo de sua própria vida, e ao longo da infância deles, está sendo severamente ameaçada neste país. Contamos com leis arcaicas, pouco ou nada alteradas com o advento do novo Código Civil, e com uma estrutura judiciária tão lenta quanto ideológica e cientificamente atrasada.

Um exemplo brasileiro? Venho lutando na Justiça pelo direito de conviver com meus dois filhos menores (L., sete anos e P.J., cinco anos) há pelo menos dois anos. Neste espaço de tempo, minha experiência como cirurgião de crianças tem notado como minha imagem de pai tem sido lapidada na mente de dois garotos indefesos, como minha ausência (involuntária e obrigatória) tem os distanciado de mim, como os problemas de inadequação tem afetado seu rendimento escolar, como as seqüelas de uma separação traumática têm ocasionado sérios problemas psicológicos, principalmente a um deles. Neste processo, mais de um ano foi gasto com troca de acusações mútuas através de réplicas e tréplicas que, a meu ver, não têm sensibilizado aqueles que deveriam estar lá, como executores da Lei, a proteger meus filhos. Outro ano (e algum dinheiro) foi gasto com uma perícia psicológica em mim e na mãe, bem como nos dois meninos, que foi amplamente favorável à ampliação geral dos horários de visitação paternos, mas não diagnosticou a Síndrome (apesar de eu haver exposto todos os sinais inequívocos que encontro em meus filhos). O resultado foi encaminhado à Justiça no final de julho passado. Desde então, aguardo.

E estou lá, final de semana sim, outro não, esperando meus filhos descerem do prédio armados com arminhas de brinquedo e agressões verbais, muito esporadicamente aceitando me acompanhar, na maioria das vezes faltando com o respeito à minha pessoa sob o beneplácito inerte da progenitora, dizendo “não querer vir”. Como hoje mais uma vez.

Em março teremos uma “audiência final”. Pergunto, em face do que conhecemos de nossa sociedade, de nosso sistema judiciário e de decisões anteriores: o que posso esperar? Nada? Ou um bla-blá-blá inócuo que nunca será respeitado, deixando tudo como está?

É. Pensemos bem antes de ter um filho com alguém, principalmente se formos homens e tivermos a paternidade como um sonho de vida. Neste caso, devemos estar cientes de que o mundo... é das mulheres.

Gostaria de ter um pouco mais de fé.



Leia mais sobre o assunto em:

Dr. Gardner - Referências Bibliográficas

Dr. Gardner- Reviews

Tratamento da S. A. P.

SYNDROME D’ALIENATION PARENTALE - FAQs

Artigos no PUBMED (keywords: "parental alienation")

Associação de Pais e Mães Separados

Artigos sobre Alienação Parental (em português!)

SOS Papai e Mamãe

pailegal.net

Pais para Sempre




Ué... engraçado, parece que eu já tinha postado algo parecido!

Ah, não! Era "A farsa de JT Leroy..." (link abaixo)...

Mas não se trata do mesmo caso? Nããão!!! O Leroy era um “traveco-imaginário-operado-com-AIDS-e-ex-prostituto”, o James Frey é o “maluco-metido-a-machão-que-escapou-do vício-e-da-drogadicção”...

De parecido, somente o fato de que ambos venderam como não-ficção algo que era, pelo menos em parte, ficcional.

Cool! Uma ex-cantora punk inventa um autor inexistente (com direito até mesmo a aparições públicas!), um autor de classe média se faz passar por expert do mundo cão para relatar suas experiências dramáticas com o vício. O primeiro recebe o aval das listas de “best-sellers” e vê um de seus livros virar filme, o segundo se torna um megasucesso comercial, vende os direitos prá Hollywood e recebe o aval da Oprah...

Mas peraí? Não é a mesma história???

Bem, num mundo em que as malhas da verdade se esgarçam em todos os sentidos, o bom da história é que o caso de James Frey e seu livro “Um Milhão de Pedacinhos” rendeu parágrafos e mais parágrafos na mídia do mundo inteiro... As vendas caíram? Só nos EUA... e ainda assim momentaneamente. Como disse sua editora Nan Talese no programa mezzo mea culpa mezzo palhaçada na Oprah (transmitido ontem pelo GNT), mais 500.000 exemplares vêm por aí, desta vez com uma nota explicativa, dizendo que a história é somente “baseada em fatos reais”, e não um “livro de memórias”.

Ah, bom! Agora me explica como é que eu invento uma farsa para conseguir furar o bloqueio editorial (a autores novos) vender meus livros....



Em tempo: Oprah fez seu papel, recuperou seu prestígio (afinal, o livro fazia parte do prestigiado círculo de indicações da apresentadora) desmontando as desculpas esfarrapadas do autor, que parecia não estar "nem aí" para o que acontecera, e saiu-se extremamente bem, apesar do desconforto evidente com que conduziu a entrevista.


Leia mais em:

Um Milhão de Pedacinhos

A farsa de JT Leroy e o papel da mídia na divulgação da literatura


Blog EntryO CuritibanoFeb 7, '06 8:09 PM
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CARACTERÍSTICAS GERAIS:

Chama salsicha (hot-dog) de "vina".

Chama o carro Fusca de "fuque".

Chama o semáforo de sinaleiro.

Diz bolacha em vez de biscoito.

Diz piá em vez de menino.

Diz guria em vez de menina.

Diz bexiga ao invés de balão.

Diz setra em vez de estilingue.

Fala "escute" no telefone.

Acha que não tem sotaque nenhum.

Ri do sotaque de todo mundo (paulista, carioca, mineiro, gaúcho, etc...), achando que todo mundo deveria falar como ele.

CLIMA:

Fala sobre a condição do tempo para puxar conversa com alguém.

Enfrenta sol, chuva, frio, calor, tudo no mesmo dia e acha legal.

Mantém as janelas do ônibus fechadas, independente se o dia esta frio, chuvoso ou aquele sol.

Sai todo agasalhado de manhã, e tira quase tudo até o final do dia.

O curitibano tem mania de lavar e polir seu carro no sábado ou domingo (o carro fica brilhando), só que toda vez que vai passear... chove!!!

PRAIA:

Vai a praia com jóias e maquiagem.

Fica a "temporada" em Caiobá ou Guaratuba mesmo que chova muito mais do que faça sol.

Vira o "OIL MAN" no verão: andando de sunga no calçadão durante a temporada em Matinhos.

Dá uma passadinha em Ipanema-PR e jura que foi só pra Caiobá ou Guaratuba.

NO TRÂNSITO:

Demora muito para arrancar o carro quando o sinal fica verde.

Mas acaba passando o sinal seguinte no amarelo e no início do vermelho, "prá compensar".

Abre as curvas invadindo a faixa oposta, fechando os carros, como se estivesse dirigindo uma jamanta com reboque, apesar de estar com um "Ford Ka".

Não deixam o carro do lado entrar na sua frente mesmo que sinalize ("Quem mandou não pensar nisso quadras atrás???").

A faixa de pedestre mais respeitada é a do aeroporto.

ESQUISITICES:

Faz fila para tudo (ônibus, mercado, banheiro, elevador, balada, cinema, etc...).

Repara nas pessoas como se fossem de outro planeta.

Cumprimenta o vizinho de anos com "oi" e "tchau".

Pergunta a todo universitário se é estudante da UFPR

Espera a semana inteira pelo final de semana... e quando chega, acaba não fazendo nada.

Anda sempre com a cara emburrada e quase nunca abre um sorriso.

Freqüenta Clube Curitibano/Graciosa e Santa Mônica a cada 15 dias mas se esbalda mesmo no Baile do Pato em Pinhais ou na Festa do Vinho em Santa Fé.

Jura de pé junto que o curitibano não é um povo fechado.

Convida: "Passa lá em casa" mas nunca dá o endereço.

Chama o povo do interior paranaense de "pé-vermeio".

Diz que a cidade não é mais a mesma por causa da invasão do pessoal de outros estados.

Nas festas juninas chama vinho quente de quentão.

Pega o mesmo ônibus todo santo dia no mesmo horário e não cumprimenta nem o motorista nem o cobrador (que também sempre são os mesmos e não cumprimentam ninguém).

Acha que quem não é daqui/de lá sempre joga lixo no chão.

PRINCIPAL:

Ri de si mesmo ao perceber que tudo que foi dito acima é a mais pura verdade...

> com agradecimentos a meu pai, curitibano por adoção...>

>> Ilustrações originais das "Balas Zequinha" - Paraná

>>> leia mais sobre o "Zequinha" em http://www.pr.gov.br/rtve/doctv05.shtml

>>>> Se alguém achar que isso é coisa de carioca, vale a pena visitar
Dez motivos para odiar Carioca



A Organization for Economic Cooperation and Development (OECD - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) abriu negociações sobre Acordos Multilaterais de Investimento / Multilateral Agrrement on Investment (MAI) em maio de 1995.

O Governo dos EUA, considerando que a organização era composta em sua maioria por membros originários de países ricos, considerou a OECD um órgão legítimo e confiável. No entanto, as negociações da entidade permaneceram secretas até 1997, quando as duas siglas (OECD e MAI) vieram à tona no Canadá, durante um processo de importação de água mineral para uma rede hoteleira. O vazamento destas informações revelaram, que estes Acordos Multilaterais de Investimento nada mais eram que um novo corpo de leis internacionais de comércio, que garantiriam às corporações direitos incondicionais de negociação ao redor do mundo, a despeito de fronteiras, tratados anteriormente vigentes entre as nações envolvidas e/ou descumprimento de normas ambientais ou de saúde.

Em parte graças à velocidade com que as notícias se propagam pela internet, porém, a oposição a estas práticas se fez imediata e globalmente, e a partir de 1998 - quando a França, e depois vários outros países desenvolvidos cederam às pressões de um movimento global de ONGs e Governos de países pobres - as negociações na OECD, da forma inicialmente pretendida (MAI), foram encerradas.

Mas a batalha não está ganha. Organismos como o FMI e o Bird fazem uso de "colateral clauses" há décadas, orientando políticas nacionais em troca de empréstimos, investimentos e subsídios, de uma forma bastante similar ao que a OECD gostaria de ter implantado com as MAI. Da mesma forma, países ricos e/ou suas megacorporações continuam a pressionar a Organização Mundial de Comércio a aprovar este tipo de acordo.

leia mais sobre o assunto em:

Globalpolicy

Global Issues

Western Governor's Association



Blog Entry"Li um ensaio de Philip K. Dick"Feb 1, '06 1:44 AM
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- Li um ensaio de Philip K. Dick.

- No seu sonho?

- Não, eu o li antes do sonho. Era o preâmbulo.

- Era sobre aquele livro: “Flow My Tears, the Policeman Said.” Simplesmente fluiu. Ele sentiu como se o estivesse psicografando. Quatro anos depois, ele estava em uma festa. Ele conheceu uma mulher com o mesmo nome que a mulher do livro. Seu namorado tinha o mesmo nome que o namorado do livro. Ela havia tido um caso com um delegado de polícia. Ele tinha o mesmo nome que o delegado de seu livro. Tudo o que ela dizia parecia estar saindo de seu livro. Isso o deixa muito assustado, mas o que ele pode fazer? Pouco tempo depois, ele foi pôr uma carta no correio... E viu um sujeito meio estranho em pé, ao lado de seu carro. Mas, ao invés de evitá-lo, ele disse: "Posso ajudá-lo?" O sujeito disse: "Fiquei sem gasolina". Ele lhe deu algum dinheiro, coisa que jamais teria feito. Ele chega em casa e pensa... "Ele não conseguirá chegar ao posto. Ele está sem gasolina." Então, ele volta, acha o sujeito e o leva ao posto de gasolina. Enquanto estaciona, ele pensa: "Isto também está no meu livro. Este mesmo posto. Este mesmo sujeito. Tudo." Bem, este ocorrido é um tanto assustador, certo? Ele resolve contar a um padre que escreveu um livro... e que quatro anos depois, tudo isso aconteceu. E o padre diz: "Este é o Livro dos Atos". Ele diz: "Mas eu nunca o li". Então ele lê o Livro dos Atos e é estranhamente familiar. Até os nomes dos personagens são iguais aos da Bíblia. O Livro dos Atos se passa em 50 d.C. Então, Dick criou uma teoria segundo a qual o tempo é uma ilusão... e estamos todos em 50 d.C. O que o levou a escrever o livro foi que ele, de algum modo... Atravessou esse véu do tempo. O que viu ali foi o que acontecera no Livro dos Atos. Ele se interessava pelo gnosticismo e pela idéia de que um demônio... teria criado essa ilusão do tempo para nos fazer esquecer... Que Cristo retornaria e o reino de Deus adviria. Alguém está tentando nos fazer esquecer que Deus é iminente. Isso define o tempo e a História. Esta espécie de devaneio ou distração contínuos. Eu li isso e pensei: "Que estranho". E naquela noite, eu tive um sonho. Tinha um homem que, supostamente, era um vidente. Mas eu pensava: "Ele não é mesmo um vidente". Então, de repente, começo a flutuar, levitando até atingir o teto. Quase atravesso o telhado e digo: "Está bem, eu acredito em você". E flutuo de volta. Quando meus pés tocam o chão... O vidente vira uma mulher usando um vestido verde, Lady Gregory.

Lady Gregory era a patrona de Yeats, uma irlandesa. Mesmo nunca tendo visto a sua imagem... Eu tinha certeza de que esse era o rosto de Lady Gregory. Então, Lady Gregory vira-se para mim e diz... "Deixe-me explicar-lhe a natureza do universo. Philip Dick está certo quanto ao tempo, mas errado quanto a ser 50 d.C. Na verdade, só existe um instante, que é agora. E é a eternidade. É um instante no qual Deus está apresentando a seguinte pergunta: 'Você quer fundir-se com a eternidade, você quer estar no paraíso?' E estamos todos dizendo:'Não, obrigado. Ainda não'." Logo, o tempo é apenas o constante"não" que dizemos ao convite de Deus. Isso é o tempo. Não estamos em 50 d.C., como não estamos em 2001. Só existe um instante. E é nele que estamos sempre. Então ela me disse que esta é a narrativa da vida de todo mundo. Por detrás da enorme diferença, há apenas uma única história... a de se ir do não ao sim. Toda a vida é: "Não, obrigado. Não, obrigado". E, em última instância é: "Sim, eu me rendo. Sim, eu aceito. Sim, eu me entrego". Essa é a jornada.

- Todos chegam ao sim no final, certo?

- Certo.



( Excertos do script de "Waking Life", de Richard Linklater, 2001)


Leia mais em:
"Waking Life" by Richard Linklater
Memorable Quotes from "Waking Life" (2001)

Fotos:
1. Richard Linklater
2. Philip K. Dick




Blog EntryMemorable Quotes from "Waking Life" (2001)Jan 30, '06 2:21 AM
for everyone
Man with the Long Hair: They say that dreams are only real as long as they last. Couldn't you say the same thing about life?

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Speed Levitch: On really romantic evenings of self, I go salsa dancing with my confusion.

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Quiet Woman at Restaurant: When it was over, all I could think about was how this entire notion of oneself, what we are, is just this logical structure, a place to momentarily house all the abstractions. It was a time to become conscious, to give form and coherence to the mystery, and I had been a part of that. It was a gift. Life was raging all around me and every moment was magical. I loved all the people, dealing with all the contradictory impulses - that's what I loved the most, connecting with the people. Looking back, that's all that really mattered.

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Pinball Playing Man: There's only one instant, and it's right now. And it's eternity.

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Guy Forsyth: The trick is to combine your waking rational abilities with the infinite possibilities of your dreams. Because, if you can do that, you can do anything.

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Speed Levitch: Life is a matter of a miracle that is collected over time by moments flabbergasted to be in each others presence.

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Young Girl Playing Paper Game: Dream is destiny.

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Guy Forsyth: The worst mistake that you can make is to think you're alive when really you're asleep in life's waiting room.

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John Christensen: Super perfundo on the early eve of your day.

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Speed Levitch: The ongoing WOW is happening right NOW.

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Soap Opera Woman: Excuse me.

Wiley: Excuse me.

Soap Opera Woman: Hey. Could we do that again? I know we haven't met, but I don't want to be an ant. You know? I mean, it's like we go through life with our antennas bouncing off one another, continously on ant autopilot, with nothing really human required of us. Stop. Go. Walk here. Drive there. All action basically for survival. All communication simply to keep this ant colony buzzing along in an efficient, polite manner. "Here's your change." "Paper or plastic?' "Credit or debit?" "You want ketchup with that?" I don't want a straw. I want real human moments. I want to see you. I want you to see me. I don't want to give that up. I don't want to be ant, you know?

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Alex Jones: We have got to realize that we're being conditioned on a mass scale. Start challenging this corporate slave state.

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Alex Jones: What a bunch of garbage; liberal, democrat, conservative, republican. It's all there to control you! Two sides of the same coin. Two management teams bidding for control, the CEO job of Slavery, Incorporated! The truth is out there in front of you, but they lay out this buffet of lies. I'm sick of it, and I'm not going to take a bite out of it, do you got me?

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Alex Jones: Resistance is not futile, we're gonna win this thing, humankind is too good, we're not a bunch of under-achievers! We're gonna stand up, and we're gonna be human beings. We're going to get fired up about the real things, the things that matter! Creativity, and the dynamic human spirit that refuses to submit.

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Man on the Train: Hey, are you a dreamer?

Wiley: Yeah.

Man on the Train: I haven't seen too many around lately. Things have been tough lately for dreamers. They say dreaming is dead, no one does it anymore. It's not dead it's just that it's been forgotten, removed from our language. Nobody teaches it so nobody knows it exists. The dreamer is banished to obscurity. Well, I'm trying to change all that, and I hope you are too. By dreaming, every day. Dreaming with our hands and dreaming with our minds. Our planet is facing the greatest problems it's ever faced, ever. So whatever you do, don't be bored, this is absolutely the most exciting time we could have possibly hoped to be alive. And things are just starting.

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Boat Car Guy: The idea is to remain in a state of constant departure while always arriving.

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Guy Forsyth: Did you ever have a job that you hated and worked real hard at? A long, hard day of work. Finally you get to go home, get in bed, close your eyes and immediately you wake up and realize... that the whole day at work had been a dream. It's bad enough that you sell your waking life for minimum wage, but now they get your dreams for free.

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Philosophy Professor: The reason why I refuse to take existentialism as just another French fashion or historical curiosity is that I think it has something very important to offer us... I'm afraid were losing the real virtues of living life passionately in the sense of taking responsibility for who you are the ability to make something of yourself and feel good about life. Existentialism is often discussed as if it were a philosophy of despair, but I think the truth is just the opposite. Sartre, once interviewed, said he never felt once minute of despair in his life. One thing that comes out from reading these guys is not a sense of anguish about life so much as a real kind of exuberance, of feeling on top of it, its like your life is yours to create. Ive read the post modernists with some interest, even admiration, but when I read them I always have this awful nagging feeling that something absolutely essential is getting left out. The more you talk about a person as a social construction or as a confluence of forces or as being fragmented of marginalised, what you do is you open up a whole new world of excuses. And when sartre talks about responsibilty, he's not talking about something abstract. He's not taling about the kind of self or souls that theologians would talk about. Hes talking about you and me talking, making descisions, doing things, and taking the consequences. It might be true that there are six million people in this world, and counting, but nevertheless -what you do makes a difference. It makes a difference, first of all, in material terms, to other people, and it sets an example. In short, I think the message here is that we shouuld never write ourselves off or see eachother as a victim of various forces. It's always our descision who we are.

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Celine: I've been thinking also about something you said.

Jesse: What's that?

Celine: Just about reincarnation and where all the new souls come through over time. Everybody says they have been the reincarnation of Cleopatra or Alexander The Great. I always want to tell them they were probably some dumb fuck like everybody else.

(falas dos personagens de "Before Sunrise/Before Sunset", flagrados num momento íntimo, inesquecível e temporalmente inclassificável, provavelmente situado DEPOIS do final de "Before Sunset")

Leia mais em

"Waking Life" by Richard Linklater

Before Sunset (Antes do Pôr-do-Sol)




Blog EntryO jogo no BrasilJan 24, '06 8:31 PM
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A hipocrisia e a imaturidade da sociedade brasileira dominam os pensamentos quando se fala de JOGO (em geral) e especialmente do assim chamado Jogo do Bicho.

Em outros países, a indústria do jogo está intimamente ligada ao turismo e, assim, à geração de empregos, ao crescimento da construção civil, ao aporte de divisas em grande escala. Longe vai o tempo - excelentemente retratado em "The Godfather - Part II" - em que a Máfia tomou conta de Las Vegas, e o jogo andou de mãos dadas com a contravenção. Como o próprio filme mostra, espertos (e muito combatidos pelos seus métodos não-ortodoxos de competição comercial) foram os mafiosos que usaram os cassinos como trampolim para a legalização de seus negócios. Isso passou pela lavagem de dinheiro? É claro! Mas o que se vê hoje, pelo menos nos EUA, é a substituição das velhas famiglias por novos empreendedores (no caso dos cassinos) e por traficantes (no caso do crime organizado). Pode-se dizer que a mudança de eixo da Máfia em direção a Vegas foi seu último suspiro em terras americanas.

Já em lugares tão díspares como México, Costa Rica, Austrália e Singapura, são empresários absolutamente legais que controlam a indústria do jogo, de braços dados com governos e populações locais.

E por que aqui no Brasil este assunto ainda é tabu? Por conta de uma suposta e possível associação, absolutamente hipotética, do jogo com a contravenção e a bandidagem? Ué, contravenção e bandidagem andam de mãos dadas com nossos governantes desde os tempos do Brasil Colônia. Medo que o tráfico tome conta? Não creio. O jogo é (ainda) uma atividade que, quando legalizada, é menos lucrativa que o tráfico. Enquanto isso, travestido de "bingos" e "caça-níqueis", monopolizado por licenças escusas que entidades esportivas obtiveram com a chamada "Lei Zico", o jogo está sim legalizado, em parte, e presente em virtualmente toda cidade do país. E isso é tolerado.

Por que então ainda mais preconceito e hipocrisia rondam o tema quando se fala no jogo do bicho?

Poucos o sabem, mas o jogo do bicho começou como uma iniciativa do Jardim Zoológico do Rio de Janeiro - uma forma de angariar fundos para a instituição. Nos 19 dias em que a atividade esteve legalizada no Brasil (4 a 23 de julho de 1892), tendo como idealizador uma figura proeminente da Primeira República (o Barão de Drummond), o jogo foi um sucesso absoluto. Como só se permitiam apostar tostões, e uma vez que as chances de acerto eram mais altas que nas loterias oficiais, o povo carioca aderiu em massa à novidade. Até que a elite conservadora entendeu que ela própria havia criado mais uma espécie de jogo de azar, banidos na época, e em decreto assinado pelo Chefe de Polícia do Distrito Federal, aboliu-se a atividade.

Era tarde. Em poucos anos a idéia se espalhara em casas clandestinas pela cidade, logo pelo país todo. Houve repressão? Seguramente sim, mas movida mais pelo interesse financeiro da polícia e dos governantes, que sempre fizeram vista grossa para a contravenção - obviamente tirando seu quinhão.

Se assim não o fosse, por que então não foi o jogo mais popular do Brasil legalizado durante o breve período do Século XX em que até os cassinos funcionaram livremente? A resposta é simples: mantendo-o na ilegalidade, ganhavam todos (banqueiros, polícia, governo), menos o país (através dos impostos que incidiriam sobre a atividade) e os trabalhadores da área (eternamente condenados à informalidade).

Hoje o jogo do bicho está espalhado pelos quatro cantos do país. Sabe-se onde funcionam as bancas, sabe-se quem são os bicheiros, sabe-se que a única forma de legalizar o dinheiro obtido do lucro do bicho é a lavagem de dinheiro. Entretanto, as várias instâncias de governo dificilmente movem alguma ação no sentido de coibir a sua prática e/ou punir com o rigor da lei os envolvidos. Por quê? Porque as ramificações desta atividade resultam em belíssimas propinas aos "defensores da lei", porque esta indústria move milhões de reais por ano (ou bilhões?) que de uma forma ou de outra retornam às comunidades onde o jogo está inserido (principalmente através do apoio a escolas de samba e agremiações desportivas), porque a sociedade não pode prescindir dos milhares de empregos que o bicho gera. Pense nisso ao passar por aquele senhor sentadinho na cadeira, na calçada: ele também é um trabalhador. Parafraseando os pedintes que infestam os ônibus do Rio de Janeiro, "poderiam estar matando ou roubando, mas acharam esta forma (honesta - nesta ponta da cadeia, pelo menos) de ganhar o seu sustento".

E quanto às ligações dos banqueiros do bicho com o crime organizado? Seriam realmente verdadeiras? Creio que sim, pelo menos durante um determinado período de tempo (anos 70 e 80), principalmente no Grande Rio. Não creio que tenha sido um "momento" nacional, a julgar pelo respeito com que sempre foram tratados os banqueiros em outras cidades, sua fama de probidade ("vale o que está escrito"), a ausência de guerras pelo comando dos pontos de venda e sua inserção nas comunidades. Afinal, se existe o bicho é porque as pessoas apostam. Ou não? E se apostam, confiam. Ou não?

Com o tráfico dominando morros e favelas pelo país, detonando sucessivas guerras sangrentas com a polícia e entre grupos rivais, associações de banqueiros do bicho com os "donos" das "bocas" me parece conversa para boi dormir. Assim como toda a papagaiada em torno de ações isoladas que talvez até tenham "limpado" a atividade (do jogo do bicho) de "personas" de qualquer forma não gratas no próprio meio.

Meu avô era um pequeno empresário do setor industrial. Com mais de cinqüenta anos de idade recebeu uma oferta e comprou uma banca, depois outra, pacificamente, acabando por dominar o jogo na cidade. Era homem probo e honesto. Era também homem de vários defeitos, cria de uma sociedade machista e violenta. No campo profissional, porém, nunca deixou de pagar uma dívida (bem, apenas uma, mas isto é uma outra história), pagava seus impostos, era estimado pela sociedade local. Foi chamado para "conversar" a respeito da legalização do jogo do bicho pelo então governador, numa reunião com todos os bicheiros do estado. Quando lá chegou, a proposta não era a de legalizar, mas sim de se "negociar novas cotas de participação do governo estadual". Caso os bicheiros não aceitassem a proposta, aí sim, repressão policial e o combate à "contravenção".

Meu avô, velho e doente, foi o primeiro a levantar-se e mandar a autoridade introduzir a proposta em lugar adequado. Se fosse para ser assim, melhor legalizar, por que não legalizar uma atividade que em si não é criminosa?, disse.

Saiu dali preso. Passou uma única noite na cadeia, onde teve a primeira das muitas hemorragias digestivas que o levariam à morte. No dia seguinte foi solto, diretamente para o hospital. E tudo continuou como antes.

O tal governador? Hoje diz lutar contra a máfia dos bingos...

Este é o Brasil. E você, pensa o quê?



FOTOS:
1. Roleta
2. Maleta do Jogo do Bicho (Museu da Polícia Civil do Rio de Janeiro)



Leia mais sobre o fim da máfia em NY
Leia mais sobre os escândalos recentes de corrupção no Brasil
Leia mais sobre a história do jogo do bicho
Leia mais sobre a história do jogo do bicho - Wikipedia
Site sobre o jogo do bicho



Blog Entryum poemaJan 23, '06 2:15 AM
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"um poema



que não se entende



é digno de nota



 



a dignidade suprema



de um navio



perdendo a rota"








Paulo Leminski





Blog EntryEsquentando os tamborins...Jan 22, '06 4:59 PM
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Confesso que eu não era lá muuuito fã do Carnaval das Escolas de Samba do Rio de Janeiro... Até conhecer a Mônica e junto com ela, em 2003, assitir pela primeira vez a um desfile ao vivo no Sambódromo, é claro.

É que eu sou paranaense, sulista, e como diria meu primo distante Ségio Bianchi em seu admirável filme "Cronicamente Inviável", "não comprrendia bem o projeto carioca de país" (se é que isto existe). Inclusive aplaudi interiormente as cenas do filme, genial e maniqueísta como é, em que as belas mulatas proletárias têm seu momento anual de estrelato no que ele chama de "curral", soberbamente assistidas por suas patroas.

Mas vá lá, isto foi enquanto eu não era carioca. Ouso dizer que isto era quando eu não era brasileiro. Pois sim, é este Rio de Janeiro de todas as angústias, cartão-postal desbotado do balneário vibrante que um dia foi, que ainda carrega em seus ombros incansáveis qualquer coisa indefinível que se possa chamar de brasilidade. E sim, novamente, o Desfile das escolas de Samba do Grupo Especial é realmente o maior espetáculo da terra. Em que pese tudo de errado que permeia a festa - das ligações mal-explicadas entre as comunidades e seus "líderes" aos lucros enormes (da LIESA, como quer o prefeito?) e/ou prejuízos incabíveis (da Prefeitura, como querem seus detratores?), do alto preço das participações especiais à máfia dos ingressos - o Desfile é o momento em que o Brasil é maior.

Fica na minha cabeça sempre que passo por lá - o que faço todo dia - a grandeza do grande circo de concreto desenhado pelo Arquiteto, a nos lembrar que aqui, sempre é Carnaval. Grafita minhas lembranças a impossível viagem dos gigantescos carros alegóricos, que saem dos barracões longínquos em direção à cidade todos os anos; o trabalho insano e genial dos artesãos, a capacidade de organização deste povo - que todos crêem ser capaz de NADA - ao recriar ali, na Avenida, seus medos e alegrias, suas histórias, nossa História. Viajamos pelo país de uma forma que mil especiais da Globo ou do Discovery Channel jamais serão capazes de fazer; encontramos a nós mesmos na cadência do samba que as novas gerações estão começando a redescobrir (pelo menos aqui no Rio, vide a Lapa fervilhante); encharcamo-nos de chuva, felizes (quando há chuva) ou assistimos o romper do sol em estado de graça, inebriados pelos tambores e os corpos, pelas luzes e brilhos e gigantes que desfilam diante de nós.

É algo que todo brasileiro deveria assistir, pelo menos uma vez na vida. Despojados do cinismo da mídia e da insipidez das transmissões televisivas, uma maioria de nós talvez tivesse a oportunidade de viver uma epifania como jamais imaginou.

Este ano Monicat estará lá, pelo G.R.E.S Beija-Flor, de Nilópolis. Acompanho ainda meio de longe suas andanças pela Baixada, seus contatos com a Comunidade e a alegria de todos em recebê-la, a gentileza dos envolvidos em todos os aspectos da organização, sua empolgação em esperar "o dia".

Com certeza estarei lá também, refestalado em minha cadeira, esperando as surpresas de todo ano - os desfiles impecáveis e os empolgantes, os sambas que murcham e os que crescem na Avenida, a voz de Jamelão e Neguinho inconfundíveis nos alto-falantes, as palmas incontidas a cada nova "travessura" dos carnavalescos.

Só não ligo para as celebridades. Este ano, menos ainda.

Este ano minha celebridade é você, minha querida, minha musa, Mônica. Você e seu sonho realizado.


Fazer de uma obra-prima da literatura um bom filme é algo que muitos almejam, mas poucos conseguem. Quanto mais se se trata de um livro que embalou os sonhos de várias gerações, um verdadeiro clássico. Sim, pois se C. S. Lewis ainda é pouco conhecido por aqui, nos países de língua inglesa seus livros são leitura obrigatória (pelo menos enquanto existia algo como “literatura obrigatória” nas escolas e famílias), e seus personagens fazem parte do inconsciente coletivo como por cá o fazem Emília e o Visconde de Sabugosa.

Pois o diretor Andrew Adamson (da série de animação “Shrek”) o conseguiu, suma cum lauda. “The Lion, The Witch and The Wardrobe” foge de (mais) inevitáveis comparações com a trilogia “O Senhor dos Anéis” (baseada na trilogia de J. R. R. Tolkien) por ser um filme completo, na medida em que cada livro da saga de Lewis também o é. Mas também pela maneira sóbria com que foi filmado - sem o apelo a sentimentalismos baratos, pela economia visual possível ao filmar-se em cenários deslumbrantes (com locações na República Tcheca, Inglaterra e Nova Zelândia), pela linguagem direta e despojada nascida de uma leitura atenta do original, pela não-explicitação dos significados meta-religiosos.

Uma das críticas mais repetidas pela mídia é que faltam ao filme falta ação e aventura. Não achei. Cenas como as perseguições e lutas contra os cães e a própria batalha final, são recheadas de suspense e tensão na medida certa para um filme para crianças. Sem contar o clima de mistério do início, que prende a atenção e deslumbra.

Também não o entenderam aqueles que disseram: “se o Leão liquida tão facilmente a Feiticeira no final, porque não o faz antes?”, demonstrando ignorar a analogia perfeita entre o Leão e a figura do Cristo. Aslam é o “Leão de Judá”, aquele que como o Rei Davi e o Cristo vem em combate a favor de seu povo. Aslam é o Deus-Pai bondoso e compreensivo que recebe o menino Edmond de volta e perdoa-lhe seus pecados, como na parábola do Filho Pródigo. Aslam é o Cristo em agonia no Jardim das Oliveiras, pensativo e solitário na alta madrugada, ao se encaminhar de encontro ao destino auto-imposto; Aslam é o “Cordeiro de Israel”, cujo sangue derrama-se no altar do sacrifício pelo perdão de sua gente e assim vence a Morte, ressurgindo ainda mais forte dela para o confronto final. Aslam é Jesus cheio de poder no topo da Cruz, podendo descer a qualquer momento e derrotar seus inimigos, mas voluntariamente doando-se em Holocausto por um Princípio maior de Justiça, enquanto seus “filhos” lutam a pior das batalhas: a luta de cada dia entre o Bem e o Mal. Aslam é a “Mão de Deus” vindo em auxílio dos necessitados no pior dos momentos, auxiliando aos que têm fé e aos que não a têm.

Maniqueísta? Carola? Talvez. A alta filosofia cristã não é para todos, exige e demanda uma luta interior intensa até ser assimilada em sua nobreza. Todavia C. S. Lewis enfrentou este desafio de torná-la compreensível e palatável para crianças, como agora Adamson o (re)faz, em novo veículo, de modo admirável.

É claro que ninguém precisa ter lido os livros todos para compreender que Aslam é uma personificação de Deus, que Nárnia é uma alegoria do Éden primitivo, que depois de sete livros (“O Leão...” é o segundo, o primeiro conta a viagem do Professor até lá, a origem de Nárnia e da madeira que será transformada em guarda-roupa) se dará o Apocalipse, com direito a Juízo Final e tudo. “As Crônicas...” pode ser visto como aquilo que é: um filme para crianças já entrando na adolescência. Ou por adultos que não perderam o gosto por contos-de-fadas. Mas é justamente ao travar-se contato com a riqueza do universo imaginário de Lewis que se poderá avaliar a propriedade com que foi realizada a adaptação cinematográfica.

Que venham mais filmes! Não vejo a hora de assistir a “O Príncipe Caspian”, cujas filmagens estão em fase de pré-produção.

Leia mais em

"The Complete Chronicles of Narnia"/"As Crônicas de Nárnia - Volume Único"



Blog EntryA mídia e a degradação dos valoresJan 19, '06 11:21 PM
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Este post é apenas um desabafo: não pretendo fazer a apologia da preservação dos valores morais e/ou dos bons costumes. Só queria realmente saber o q os amigos acham desta nova moda destrutiva q invade nossa tvs: o uso de músicas folclóricas e/ou de domínio "público" (lato sensu) para promover determinadas marcas e/ou produtos.

Se já não bastasse a Vivo nos torpedeando com sua bizarra campanha de Natal ("triste Natal, fulaninho esperava um celular e ganhou uma meia", and so on), utilizando aquelas mesmas musiquinha bregas e intocáveis q "animam" os festejos do nascimento de Jesus, de uma forma extremamente entediante e de muito mau gosto - agora é a vez da Chevrolet, "apossando-se" do jingle da campanha heróica do Tricampeonato Mundial de Futebol 1970 para começar a nos azucrinar desde janeiro com a degradação de um dos símbolos maiores das conquistas esportivas do Brasil. "Noventa milhões em ação, prá frente Brasil, salve a seleção" é quase um segundo hino nacional, abandonado pela Globo por uma questão de marketing (que nos trouxe, de quebra, o insosso "Eu sei que vou, vou do jeito que eu sei, de gol em gol, com direito a replay..." argh!), mas (ainda) presente nos corações e mentes de tantos brasileiros que, a despeito do uso político da vitória (que se perdeu na poeira do tempo, junto com a Ditadura), amam o futebol e seus ídolos.

Uma pena. "Some things are better left unsaid", ou melhor, algumas músicas nunca, jamais deveriam ser deturpadas e vendidas desta forma.

Nada contra a paródia. Mas como esquecer da música dos Titãs que tanto sucesso fez nos anos 80 ("Só quero saber do que pode dar certo...") propagandeando Garotinho e Rosinha? Onde iremos parar? Deus, trazei-me de volta o Led Zeppelin, que nunca vendeu uma música sequer...


Blog EntryGolden Globe Winners and NomineesJan 17, '06 10:45 PM
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MOTION PICTURES

DRAMATIC PICTURE

* Brokeback Mountain

The Constant Gardener"

Good Night, and Good Luck

A History of Violence"

Match Point

MUSICAL OR COMEDY PICTURE

* Walk the Line

Mrs. Henderson Presents

Pride & Prejudice

The Producers

The Squid and the Whale

FOREIGN LANGUAGE PICTURE

* Paradise Now (Palestine)

Kung Fu Hustle (China)

Master of Crimson Armor (China)

Merry Christmas (France)

Tsotsi (South Africa)

BEST DIRECTOR

* Ang Lee, "Brokeback Mountain"

George Clooney, "Good Night, and Good Luck"

Woody Allen, "Match Point"

Peter Jackson, "King Kong"

Fernando Meirelles, "The Constant Gardener"

Steven Spielberg, "Munich"

BEST DRAMATIC ACTOR

* Philip Seymour Hoffman, "Capote"

Heath Ledger, "Brokeback Mountain"

Russell Crowe, "Cinderella Man"

Terrence Howard, "Hustle & Flow"

David Strathairn, "Good Night, and Good Luck"

BEST DRAMATIC ACTRESS

* Felicity Huffman, "Transamerica"

Maria Bello, "A History of Violence"

Gwyneth Paltrow, "Proof"

Charlize Theron, "North Country"

Ziyi Zhang, "Memoirs of a Geisha"

BEST ACTOR, COMEDY OR MUSICAL

* Joaquin Phoenix, "Walk the Line"

Pierce Brosnan, "The Matador"

Jeff Daniels, "The Squid and the Whale"

Johnny Depp, "Charlie and the Chocolate Factory"

Nathan Lane, "The Producers"

Cillian Murphy, "Breakfast on Pluto"

BEST ACTRESS, COMEDY OR MUSICAL

* Reese Witherspoon, "Walk the Line"

Judi Dench, "Mrs. Henderson Presents"

Keira Knightley, "Pride & Prejudice"

Laura Linney, "The Squid and the Whale"

Sarah Jessica Parker, "The Family Stone"

SUPPORTING DRAMATIC ACTOR

* George Clooney, "Syriana"

Matt Dillon, "Crash"

Will Ferrell, "The Producers

Paul Giamatti, "Cinderella Man"

Bob Hoskins, "Mrs. Henderson Presents"

SUPPORTING DRAMATIC ACTRESS

* Rachel Weisz, "The Constant Gardener"

Scarlett Johansson, "Match Point"

Shirley MacLaine, "In Her Shoes"

Frances McDormand, "North Country"

Michelle Williams, "Brokeback Mountain"

SCREENPLAY

* Larry McMurtry & Diana Ossana, "Brokeback Mountain"

Woody Allen, "Match Point"

George Clooney and Grant Heslov, "Good Night, and Good Luck"

Paul Haggis and Bobby Moresco, "Crash"

Tony Kushner and Eric Roth, "Munich"

ORIGINAL SCORE

* John Williams, "Memoirs of a Geisha"

Alexandre Desplat, "Syriana"

James Newton Howard, "King Kong"

Gustavo Santaolalla, "Brokeback Mountain"

Harry Gregson, "The Chronicles of Narnia: The Lion, the Witch and the Wardrobe"

SONG

* "A Love That Will Never Grow Old" from "Brokeback Mountain"

"There's Nothing Like a Show on Broadway" from "The Producers"

"Travelin' Thru" from "Transamerica"

"Wunderkind" from "The Chronicles of Narnia: The Lion, the Witch and the Wardrobe"



TELEVISION

DRAMATIC TV SERIES

* Lost

Commander in Chief

Grey's Anatomy

Prison Break

Rome

BEST ACTOR, TV DRAMA

* Hugh Laurie, "House"

Patrick Dempsey, "Grey's Anatomy"

Matthew Fox, "Lost"

Wentworth Miller, "Prison Break"

Kiefer Sutherland, "24"

BEST ACTRESS, TV DRAMA

* Geena Davis, "Commander in Chief"

Patricia Arquette, "Medium"

Glenn Close, "The Shield"

Kyra Sedgwick, "The Closer"

"Polly Walker, "Rome"

TV SERIES, MUSICAL OR COMEDY

* Desperate Housewives

Curb Your Enthusiasm

Entourage

Everybody Hates Chris

My Name is Earl

Weeds

BEST ACTOR, TV MUSICAL OR COMEDY

* Steve Carell, "The Office"

Zach Braff, "Scrubs"

Larry David, "Curb Your Enthusiasm"

Jason Lee, "My Name is Earl"

Charlie Sheen, "Two and a Half Men"

BEST ACTRESS, TV MUSICAL OR COMEDY

* Mary-Louise Parker, "Weeds"

Marcia Cross, "Desperate Housewives"

Teri Hatcher, "Desperate Housewives"

Felicity Huffman, "Desperate Housewives"

Eva Longoria, "Desperate Housewives"

BEST MADE FOR TV MINI-SERIES OR MOTION PICTURE

* Empire Falls

Into the West

Lackawanna Blues

Sleeper Cell

Viva Blackpool

Warm Springs

BEST ACTRESS, MADE FOR TV MINI-SERIES OR MOTION PICTURE

*S. Epatha Merkerson, "Lackawanna Blues"

Halle Berry, "Their Eyes Were Watching God"

Kelly MacDonald, "The Girl in the Café"

Cynthia Nixon, "Warm Springs"

Mira Sorvino, "Human Trafficking"

BEST ACTOR,MADE FOR TV MINI-SERIES OR MOTION PICTURE

* Jonathan Rhys Meyers, "Elvis"

Kenneth Branagh, "Warm Springs"

Ed Harris, "Empire Falls"

Billy Nighy, "The Girl in the Café"

Donald Sutherland, "Human Trafficking"

BEST SUPPORTING ACTRESS, MADE FOR TV SERIES, MINI-SERIES OR MOTION PICTURE

* Sandra Oh, "Grey's Anatomy"

Candice Bergen, "Boston Legal"

Camryn Manheim, "Elvis"

Elizabeth Perkins, "Weeds"

Joanne Woodward, "Empire Falls"

BEST SUPPORTING ACTOR, MADE FOR TV SERIES, MINI-SERIES OR MOTION PICTURE

* Paul Newman, "Empire Falls"

Naveen Andrews, "Lost"

Jeremy Piven, "Entourage"

Randy Quaid, "Elvis"

Donald Sutherland, "Commander in Chief"

CECIL B. DEMILLE LIFETIME ACHIEVEMENT AWARD

* Anthony Hopkins



Leia mais



Blog EntryNova Política de Câncer no BrasilJan 16, '06 4:22 PM
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Publiquei hoje na minha página de Medicina e republico aqui pela relevância do tema:
"Com a publicação da Portaria 741 do Ministério da Saúde, são reconsideradas posições importantes a respeito de: credenciamento, classificação hierarquizada, divisão de funções e expectativa de abertura de novos Centros e Unidades de Alta Complexidade em Oncologia Pediátrica.

Consideramos a exigência de Especialização em Cirurgia Oncológica, a princípio para os Responsáveis Técnicos de cada Serviço, e a seguir para todos os cirurgiões atuantes nos CACONs (em um prazo de dois anos), o maior avanço legal na área já realizado no país (ANEXO I, Inciso 4.3.1, alíneas "c" e "d").

Já se fazia hora do Governo Federal normatizar a atividade no país, pelo menos no âmbito dos Centro Especializados, visando adequar-se às normas já vigentes em países-ícones do bom atendimento oncológico (como Inglaterra e Holanda) e principalmente, um melhor prognóstico para nosso pacientes.

Para ler mais:

Portaria 741 de 19 de Dezembro de 2005.

Link para Anexos"


Definitivamente C.S. Lewis não é J.R.R. Tolkien.

Nem poderia sê-lo.


São complementares, contudo, como Nárnia e a Terra Média. Como Aslam e Gandalf. Como o "Silmarillion" de Tolkien espelha o Gênesis Bíblico, como "A Última Batalha" do último dos Reis de Nárnia espelha o Apocalipse cristão. Talvez, só talvez, um não existiria sem o outro.

Acompanhar os acontecimentos em Nárnia ao longo das mais de setecentas páginas da primeira edição integral brasileira em volume único é traçar o mesmo caminho dos amigos Lewis e Tolkien: das histórias infanto-juvenis (Como "O Hobbitt" e "O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa" se propunham ser) até um amplo e complexo painel da vida imaginária que nenhum outro autor, além dos dois, conseguiu completar.

Finitude, aliás, que talvez só Lewis tenha obtido, uma vez que, apesar da grandeza épica da trilogia "O Senhor dos Anéis", todos sabemos que os demais escritos de Tolkien relativos à Terra-Média forma recompilados e organizados por seu filho Christopher, em um trabalho genial de reconstrução respeitosa, levando em consideração principalmente os "plots" criados pelo autor. Lewis, ao contrário, teve o prazer de ver toda sua obra-prima publicada em vida.

Mas Lewis não é Tolkien. Não, não há nele a grandeza metalingüística do primeiro, a criação de novas línguas, a descrição pormenorizada que variava da geografia meticulosa ao cotidiano de tantos e inúmeros povos, raças e espécies. Não há em Lewis a sutileza com que Tolkien nos premia com inúmeros níveis de leitura, do mais infantil e aventureiro ao filosófico, e deste ao meta-religioso. Há correlações mais óbvias, principalmente para quem é um pouco mais íntimo da iconografia judaico-cristã. Mas nem por isso menos poéticas.

C. S. Lewis constrói em "Nárnia" um clássico para todas as idades, um clássico para todos os tempos, de uma maneira direta que chega a nos incomodar por sua precisão. Nada nos sete livros é supérfluo, nenhuma "ponta" chega ao final desamarrada. A leitura flui solta, de forma que quando menos esperamos, estamos nós também lá, em Nárnia. Chegamos, vivemos algumas aventuras, partimos. Exatamente como seus personagens londrinos, ansiamos pelo retorno ao término de cada um dos livros. Exatamente como eles, sentimos que o tempo não passa quando estamos lá. Como eles, sentimos que uma parte de nós vive lá, que somos importantes de alguma maneira, que precisamos voltar.

Por isso, uma última alegoria. Não vi (ainda) o filme da Disney. Mas vi a trilogia de Peter Jackson baseada n'O Senhor dos Anéis. Diz-se, como um dos elogios mais populares ao filme, que Jackson despede-se da Terra-Média lentamente, como um filho que não quer deixar a pátria natal, rallentando ao máximo as despedidas n'O Retorno do Rei. Lewis faz o mesmo, como um Pai bondoso que nos permite reencontrar velhos amigos, trocar com eles algumas palavras, dizer adeus ou então um "Olá!" que talvez dure para sempre.

Como mundos dentro de mundos, existem várias "Nárnias".
"Pois todos encontram o que realmente procuram."




Pois é, quer dizer então que o "queridinho" da mídia americana (sem contar o frisson que sua visita à FLIP no ano passado causou na imprensa brasileira), JT Leroy, era uma dupla farsa: nem o tal garoto-de-programa-transgênero-soropositivo existia (sua figura era representada por uma mulher de verdade, Savannah Knoop, irmã de seu "pai adotivo"), nem seus livros foram escritos por outrem que não sua "mãe adotiva" (a ex-cantora de punk rock Laura Albert)...

Interessantes tempos estes em que (dezenas? milhares? de) escritores de real talento pelejam para colocar seus livros no mercado enquanto uma farsa é colocada em primeiro plano em nível mundial. Nada contra. É o "heterônimo" real (ou virtual) elevado ao cubo. É o pseudônimo de carne-e-osso. É esperteza pura, uma ace de marketing.

Se os livros são bons? Não sei, não li. Mas nem precisavam ser, depois de tanto barulho.

É isso aí. Não basta escrever. Temos que aprender a fazer (muito) barulho!

Leia mais em:

O Globo

Blog do Ximenes

New York Magazine


Blog EntryOs melhores sons de 2005Jan 8, '06 1:28 PM
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POP/ROCK
1. "Mesmerize/Hypnotize" - System of a Down
Álbum duplo lançado em duas partes pela banda californiana, onde a mistura de rock pesado, surf-rock, "bubble-gum" pop e folclore armênio se juntam à letras politizadas e espertas. Virtuosidade, novidade e coesão sonora. Destaque para "Soldier Side", que fecha o disco confluindo todas as tendências e levando a termo o tema somente sugerido na Introdução do "Mesmerize" (apropriadamente intitulado "Soldier Side - Intro"). Um disco prá entrar na História do rock, o melhor do ano e da década até aqui.
Site Oficial
Hypnotize

2. "Live at Earl's Court" - Morrissey
Depois do sucesso merecido de "You are the Quarry" em 2004, Mozz brilha no palco com um setlist que varia entre o óbvio (clássicos dos Smiths) e o surpreendente (o "punch" de sua carreira-solo recém-redescoberta), mostrando a razão de sua longevidade no mercado artístico. Destaque para "I Have Forgiven Jesus", numa interpretação pungente.
Site oficial
Live at Earl's Court

3. "The Magic Numbers" - The Magic Numbers
Surpresa do ano, o CD das "duplas de irmão gordinhos" pseudo-ingleses encantou, estourou e vendeu pacas em 2005. Um disco cativante em que, a despeito das muitas influências identificáveis, a banda alcança uma sonoridada única. Vale prestar atenção na riqueza das harmonias vocais e nas sempre surpreendentes "mudanças" de rota no ritmo. Destaque para "Forever Lost", linda de doer.
Site Oficial
The Magic Numbers (2004)

4. "Playing The Angel" - Depeche Mode
Escandalosamente bom o retorno à ativa dos senhores do DM, mostrando porque foram (e podem continuar a ser) uma das bandas mais cultuadas do planeta. Angústia, sofrimento, tensão, máquinas, cacofonias, teclados distorcidos e uma pá de prováveis "hits" fazem deste um dos melhores trabalhos da banda e do ano que passou. Destaque para "The Sinner in Me", brrrr....
Site oficial
"Playing The Angel"

5. "Tourist" - Athlete
Pérola pop que passou despercebida no Brasil mas fez algum sucesso lá fora, "Tourist" é uma delicada peça de ourivesaria musical, construída com sensibiloidade e bom gosto. Comparados constantemente pela crítica com os conterrâneos Radiohead e Coldplay, os atletas têm sonoridade própria, apesar de terem deixado um pouco de lado as influências latinas e jazzísticas que permeavam o (bom) primeiro disco ("Vehicles & Animals"). Destaque para a faixa-título.
Site oficial

6. "George is On" - Deep Dish
Aleluia, irmão! Os bons tempos da dance music com vocais e letras espertas voltaram! Peraí, voltaram? Os vocais tudo bem, mas letras espertas nunca fizeram parte da receita para o sucesso nas pistas, não? Errado. O duo Deep Dish prova em seu álbum que tudo pode ser parte da mesma salada dançante, num disco que põe uma pá de cal nas diferenças incompreensíveis entre as milhares de ramificações da música eletrônica misturando tudo com eficiência, neste disco que é ótimo de se ouvir em qualquer lugar, na pista, no carro ou em casa. Destaque para "Awake Enough", belíssima.
Site Oficial

7. "Catching Tales" - Jamie Cullum
Envolvente mistura de britpop, rock e jazz - afastando um pouco (só um pouco) o rapaz do universo de seu primeiro e fantástico disco de estréia, "Catching Tales" marca a maturidade do cantor (agora também compositor) em arranjos mirabolantes tanto para standards da música americana quanto para os hits de própria lavra. Destaque para a balada "London Skies".
Site Oficial

8. "Dreaming Wide Awake" - Lizz Wright
Também já comentada aqui, a melhor voz da América na atualidade faz um segundo disco simplesmente perfeito. Destaque para a blueseira "A Taste of Honey".
Site Oficial
Dreaming Wide Awake

9. "Summer in Abbadon - Pinback
Um rock tipo assim... nenhum outro. Instrumental delicado, letras interessantes, muitas "viagens" e pouca psicodelia num disco exato e chapante. Destaque para "Non-Photo Blue " e "Sender", ou qualquer outra. Ouça no volume máximo!
Site oficial
Summer in Abaddon

10. "Nashville" - Josh Rouse
Folk-rock de primeira é o que faz o texano, cuja sonoridade não traz nenhuma novidade ao estilo, mas prima pela delicadeza e pegada pop. Destaque para "It's The Nighttime", completamente chiclete.
Site oficial

Hours-Concours:
"Prairie Wind" - Neil Young
Álbum essencial para os fãs de Young, marcando sua volta aos estúdios depois do derrame que quase o matou, é um clássico instantâneo para ser posto ao lado de seus outros seminais discos acústicos ("Harvest", "Harvest Moon" e o pouco considerado mas genial "Comes A Time). Destaque para a faixa-título.
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"Confessions on a Dancefloor" - Madonna
Lançar um petardo dançante desses na meia-idade... Hummm... Só a Madonna mesmo. Nota dez! Ouça o disco todo, na seqüência.
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"Confessions on a Dance Floor", 2005

Paul McCartney
O ex-beatle não precisava provar nada prá ninguém (como os dois acima, of course), nem compor ou gravar mais coisa alguma, mas está nessa por amor à música e com um (novo) repertório de botar no chinelo qualquer bandinha de sucesso por aí. ELE é o Rei. E este é seu melhor disco em anos. Destaque para "Jenny Wren".
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Blog EntryDisco do Hermeto PaschoalJan 6, '06 7:08 PM
for everyone

Em Heróis de verdade, o escritor combate a supervalorização da aparência e diz que falta ao Brasil competência, e não auto-estima

Por Camilo Vannuchi, revista IstoÉ

Observador contumaz das manias humanas, Roberto Shinyashiki está cansado dos jogos de aparência que tomaram conta das corporações e das famílias. Nas entrevistas de emprego, por exemplo, os candidatos repetem o que imaginam que deve ser dito. Num teatro constante, são todos felizes, motivados, corretos, embora muitas vezes pequem na competência. Dizem-se perfeccionistas: ninguém comete falhas, ninguém erra. Como Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa) em Poema em linha reta, o psiquiatra não compartilha da síndrome de super-heróis. “Nunca conheci quem tivesse levado porrada na vida (...) Toda a gente que eu conheço e que fala comigo nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, nunca foi senão príncipe”, dizem os versos que o inspiraram a escrever Heróis de verdade (Editora Gente, 168 págs., R$ 25). Farto de semideuses, Roberto Shinyashiki faz soar seu alerta por uma mudança de atitude. “O mundo precisa de pessoas mais simples e verdadeiras.”

ISTOÉ – Quem são os heróis de verdade?

Roberto Shinyashiki – Nossa sociedade ensina que, para ser uma pessoa de sucesso, você precisa ser diretor de uma multinacional, ter carro importado, viajar de primeira classe. O mundo define que poucas pessoas deram certo. Isso é uma loucura. Para cada diretor de empresa, há milhares de funcionários que não chegaram a ser gerentes. E essas pessoas são tratadas como uma multidão de fracassados. Quando olha para a própria vida, a maioria se convence de que não valeu a pena porque não conseguiu ter o carro nem a casa maravilhosa. Para mim, é importante que o filho da moça que trabalha na minha casa possa se orgulhar da mãe. O mundo precisa de pessoas mais simples e transparentes. Heróis de verdade são aqueles que trabalham para realizar seus projetos de vida, e não para impressionar os outros. São pessoas que sabem pedir desculpas e admitir que erraram.

ISTOÉ – O sr. citaria exemplos?

Shinyashiki – Dona Zilda Arns, que não vai a determinados programas de tevê nem aparece de Cartier, mas está salvando milhões de pessoas. Quando eu nasci, minha mãe era empregada doméstica e meu pai, órfão aos sete anos, empregado em uma farmácia. Morávamos em um bairro miserável em São Vicente (SP) chamado Vila Margarida. Eles são meus heróis. Conseguiram criar seus quatro filhos, que hoje estão bem. Acho lindo quando o Cafu põe uma camisa em que está escrito “100% Jardim Irene”. É pena que a maior parte das pessoas esconda suas raízes. O resultado é um mundo vítima da depressão, doença que acomete hoje 10% da população americana. Em países como Japão, Suécia e Noruega, há mais suicídio do que homicídio. Por que tanta gente se mata? Parte da culpa está na depressão das aparências, que acomete a mulher que, embora não ame mais o marido, mantém o casamento, ou o homem que passa décadas em um emprego que não o faz se sentir realizado, mas o faz se sentir seguro.

ISTOÉ – Qual o resultado disso?

Shinyashiki – Paranóia e depressão cada vez mais precoces. O pai quer preparar o filho para o futuro e mete o menino em aulas de inglês, informática e mandarim. Aos nove ou dez anos a depressão aparece. A única coisa que prepara uma criança para o futuro é ela poder ser criança. Com a desculpa de prepará-los para o futuro, os malucos dos pais estão roubando a infância dos filhos. Essas crianças serão adultos inseguros e terão discursos hipócritas. Aliás, a hipocrisia já predomina no mundo corporativo.

ISTOÉ – Por quê?

Shinyashiki – O mundo corporativo virou um mundo de faz-de-conta, a começar pelo processo de recrutamento. É contratado o sujeito com mais marketing pessoal. As corporações valorizam mais a auto-estima do que a competência. Sou presidente da Editora Gente e entrevistei uma moça que respondia todas as minhas perguntas com uma ou duas palavras. Disse que ela não parecia demonstrar interesse. Ela me respondeu estar muito interessada, mas, como falava pouco, pediu que eu pesasse o desempenho dela, e não a conversa. Até porque ela era candidata a um emprego na contabilidade, e não de relações públicas. Contratei na hora. Num processo clássico de seleção, ela não passaria da primeira etapa.

ISTOÉ – Há um script estabelecido?

Shinyashiki – Sim. Quer ver uma pergunta estúpida feita por um presidente de multinacional no programa O aprendiz? “Qual é seu defeito?” Todos respondem que o defeito é não pensar na vida pessoal: “Eu mergulho de cabeça na empresa. Preciso aprender a relaxar.” É exatamente o que o chefe quer escutar. Por que você acha que nunca alguém respondeu ser desorganizado ou esquecido? É contratado quem é bom em conversar, em fingir. Da mesma forma, na maioria das vezes, são promovidos aqueles que fazem o jogo do poder. O vice-presidente de uma das maiores empresas do planeta me disse: “Sabe, Roberto, ninguém chega à vice-presidência sem mentir.” Isso significa que quem fala a verdade não chega a diretor?

ISTOÉ – Temos um modelo de gestão que premia pessoas mal preparadas?

Shinyashiki – Ele cria pessoas arrogantes, que não têm a humildade de se preparar, que não têm capacidade de ler um livro até o fim e não se preocupam com o conhecimento. Muitas equipes precisam de motivação, mas o maior problema no Brasil é competência. Cuidado com os burros motivados. Há muita gente motivada fazendo besteira. Não adianta você assumir uma função para a qual não está preparado. Fui cirurgião e me orgulho de nunca um paciente ter morrido na minha mão. Mas tenho a humildade de reconhecer que isso nunca aconteceu graças a meus chefes, que foram sábios em não me dar um caso para o qual eu não estava preparado. Hoje, o garoto sai da faculdade achando que sabe fazer uma neurocirurgia. O Brasil se tornou incompetente e não acordou para isso.

"Hoje, como as pessoas não conseguem nem ser nem ter, o grande objetivo de vida se tornou parece "

ISTOÉ – Está sobrando auto-estima?

Shinyashiki – Falta às pessoas a verdadeira auto-estima. Se eu preciso que os outros digam que sou o melhor, minha auto-estima está baixa. Antes, o ter conseguia substituir o ser. O cara mal-educado dava uma gorjeta alta para conquistar o respeito do garçom. Hoje, como as pessoas não conseguem nem ser nem ter, o objetivo de vida se tornou parecer. As pessoas parece que sabem, parece que fazem, parece que acreditam. E poucos são humildes para confessar que não sabem. Há muitas mulheres solitárias no Brasil que preferem dizer que é melhor assim. Embora a auto-estima esteja baixa, fazem pose de que está tudo bem.

ISTOÉ – Por que nos deixamos levar por essa necessidade de sermos perfeitos em tudo e de valorizar a aparência?

Shinyashiki – Isso vem do vazio que sentimos. A gente continua valorizando os heróis. Quem vai salvar o Brasil? O Lula. Quem vai salvar o time? O técnico. Quem vai salvar meu casamento? O terapeuta. O problema é que eles não vão salvar nada! Tive um professor de filosofia que dizia: “Quando você quiser entender a essência do ser humano, imagine a rainha Elizabeth com uma crise de diarréia durante um jantar no Palácio de Buckingham.” Pode parecer incrível, mas a rainha Elizabeth também tem diarréia. Ela certamente já teve dor de dente, já chorou de tristeza, já fez coisas que não deram certo. A gente tem de parar de procurar super-heróis. Porque se o super-herói não segura a onda, todo mundo o considera um fracassado.

ISTOÉ – O conceito muda quando a expectativa não se comprova?

Shinyashiki – Exatamente. A gente não é super-herói nem superfracassado. A gente acerta, erra, tem dias de alegria e dias de tristeza. Não há nada de errado nisso. Hoje, as pessoas estão questionando o Lula em parte porque acreditavam que ele fosse mudar suas vidas e se decepcionaram. A crise será positiva se elas entenderem que a responsabilidade pela própria vida é delas.

ISTOÉ – É comum colocar a culpa nos outros?

Shinyashiki – Sim. Há uma tendência a reclamar, dar desculpas e acusar alguém. Eu vejo as pessoas escondendo suas humanidades. Todas as empresas definem uma meta de crescimento no começo do ano. O presidente estabelece que a meta é crescer 15%, mas, se perguntar a ele em que está baseada essa expectativa, ele não vai saber responder. Ele estabelece um valor aleatoriamente, os diretores fingem que é factível e os vendedores já partem do princípio de que a meta não será cumprida e passam a buscar explicações para, no final do ano, justificar. A maioria das metas estabelecidas no Brasil não leva em conta a evolução do setor. É uma chutação total.

ISTOÉ – Muitas pessoas acham que é fácil para o Roberto Shinyashiki dizer essas coisas, já que ele é bem-sucedido. O senhor tem defeitos?

Shinyashiki – Tenho minhas angústias e inseguranças. Mas aceitá-las faz minha vida fluir facilmente. Há várias coisas que eu queria e não consegui. Jogar na Seleção Brasileira, tocar nos Beatles (risos). Meu filho mais velho nasceu com uma doença cerebral e hoje tem 25 anos. Com uma criança especial, eu aprendi que ou eu a amo do jeito que ela é ou vou massacrá-la o resto da vida para ser o filho que eu gostaria que fosse. Quando olho para trás, vejo que 60% das coisas que fiz deram certo. O resto foram apostas e erros. Dia desses apostei na edição de um livro que não deu certo. Um amigão me perguntou: “Quem decidiu publicar esse livro?” Eu respondi que tinha sido eu. O erro foi meu. Não preciso mentir.

ISTOÉ – Como as pessoas podem se livrar dessa tirania da aparência?

Shinyashiki – O primeiro passo é pensar nas coisas que fazem as pessoas cederem a essa tirania e tentar evitá-las. São três fraquezas. A primeira é precisar de aplauso, a segunda é precisar se sentir amada e a terceira é buscar segurança. Os Beatles foram recusados por gravadoras e nem por isso desistiram. Hoje, o erro das escolas de música é definir o estilo do aluno. Elas ensinam a tocar como o Steve Vai, o B. B. King ou o Keith Richards. Os MBAs têm o mesmo problema: ensinam os alunos a serem covers do Bill Gates. O que as escolas deveriam fazer é ajudar o aluno a desenvolver suas próprias potencialidades.

"O mundo corporativo virou um mundo de faz-de-conta.

É contratado o sujeito com mais marketing pessoal"

ISTOÉ – Muitas pessoas têm buscado

sonhos que não são seus?

Shinyashiki – A sociedade quer definir o que é certo. São quatro loucuras da sociedade. A primeira é instituir que todos têm de ter sucesso, como se ele não tivesse significados individuais. A segunda loucura é: “Você tem de estar feliz todos os dias.” A terceira é: “Você tem que comprar tudo o que puder.” O resultado é esse consumismo absurdo. Por fim, a quarta loucura: “Você tem de fazer as coisas do jeito certo.” Jeito certo não existe. Não há um caminho único para se fazer as coisas. As metas são interessantes para o sucesso, mas não para a felicidade. Felicidade não é uma meta, mas um estado de espírito. Tem gente que diz que não será feliz enquanto não casar, enquanto outros se dizem infelizes justamente por causa do casamento. Você precisa ser feliz tomando sorvete, levando os filhos para brincar.

ISTOÉ – O sr. visita mestres na Índia com freqüência. Há alguma parábola que o sr. aprendeu com eles que o ajude a agir?

Shinyashiki – Quando era recém-formado em São Paulo, trabalhei em um hospital de pacientes terminais. Todos os dias morriam nove ou dez pacientes. Eu sempre procurei conversar com eles na hora da morte. A maior parte pega o médico pela camisa e diz: “Doutor, não me deixe morrer. Eu me sacrifiquei a vida inteira, agora eu quero ser feliz.” Eu sentia uma dor enorme por não poder fazer nada. Ali eu aprendi que a felicidade é feita de coisas pequenas. Ninguém na hora da morte diz se arrepender por não ter aplicado o dinheiro em imóveis. Uma história que aprendi na Índia me ensinou muito. O sujeito fugia de um urso e caiu em um barranco. Conseguiu se pendurar em algumas raízes. O urso tentava pegá-lo. Embaixo, onças pulavam para agarrar seu pé. No maior sufoco, o sujeito olha para o lado e vê um arbusto com um morango. Ele pega o morango, admira sua beleza e o saboreia. Cada vez mais nós temos ursos e onças à nossa volta. Mas é preciso comer os morangos.

Roberto Shinyashiki, 53 anos, é psiquiatra e psicoterapeuta

  • Já vendeu 6,5 milhões de exemplares de livros como “Amar pode dar certo” e “O sucesso é ser feliz”
  • Presidente da Editora Gente, conclui este ano o doutorado em administração de empresas na USP
  • Católico praticante, freqüenta templos budistas e admira mestres da Índia como Osho, Sai Baba e Ramesh
  • Apaixonado por guitarra, apresenta-se uma vez por mês com o grupo Dinossauros Rock Band em um bar paulistano

(com os devidos agradecimentos a minha prima Jenyelle Bach Biancolini, que me enviou este texto por email. Disponível também no site da Revista IstoÉ)


Discurso de José Galló, CEO das Lojas Renner, ao agradecer o título de Personalidade de Vendas do Ano, recebido da ADVB, em 21 de novembro de 2005.

Senhoras e senhores.

Caros amigos.

Boa noite.

Quero cumprimentar as empresas vencedoras do Top de Maketing 2005 da ADVB e parabenizar o empresário Jorge Gerdau Johannpeter pelo troféu Peter Drucker.

Sinto-me lisonjeado com a distinção que a ADVB me oferece - Personalidade de Vendas do Ano. Devo confessar que a deferência me encheu de orgulho e me fez pensar muito.

Como personalidade de vendas, o que gostaria de vender para vocês?

Diante do panorama inquietante do país - da grande falta de valores, miséria, violência e indecência na política - vislumbro uma única reação possível e urgente: apostar nos princípios e valores que pautam nossas vidas pessoal e profissional, hoje suplantados por atitudes e práticas distorcidas.

Nós não compactuamos com essa realidade.

Precisamos e devemos mudar.

É isso que quero vender hoje aqui: Um artigo que anda escasso no cotidiano brasileiro, valores fundamentais que nos fazem falta, pois dão sustentação à verdadeira democracia.

Como vivemos em um país imenso e temos muitos "Brasis", precisamos ter um mínimo de valores comuns - como ética, decência, veracidade, honestidade, justiça - para estabilizar nosso presente e construir um futuro digno para todos.

Quais os valores da sociedade em que vivemos? Como se distinguem?

Parece que já não sabemos diferenciar valor de contra-valor na sociedade permissiva e passiva de hoje.

O aviltamento dos padrões éticos, a falta de legitimidade das instituições e sua crescente deterioração e a falta de punição aos que legitimam os contra-valores minam e paralisam nossa capacidade de reação.

Estamos todos anestesiados.Mas se quisermos - e queremos, com certeza - viver em um país sério e justo precisamos nos impor e restaurar nossos valores.

Liberdade, justiça, honestidade, ética, respeito, transparência, dignidade, bem estar social. São valores.

Injustiça, desonestidade, deslealdade, oportunismo, corrupção, esperteza. São contra-valores.

Quem vai ganhar esta batalha?

A crise política brasileira dos últimos meses é a maior prova de que vivemos uma carência enorme de valores.

Fatos recentes evidenciam que perdemos o bom senso e a noção de justiça e de ética.

Os escândalos, a corrupção, o mau uso de verbas e o comportamento de muitos homens públicos geram ainda mais incertezas.

Dora Kramer, articulista do jornal O Estado de São Paulo, comentou em 22 de outubro a decisão do Supremo Tribunal Federal de soltar Paulo e Flávio Maluf.

O que mais a intrigou foi a declaração do ministro Carlos Velloso que " ficou sensibilizado pelas precárias condições em que pai e filho estavam presos".

Delegacias e penitenciárias estão cheias de homens e mulheres que cumprem pena em péssimas condições.

Por que o sofrimento dos Maluf comove mais?

É bom lembrar ao ministro que esse pai, Paulo Maluf, é investigado pelo desvio de um bilhão de dólares do país, ou 2,5 bilhões de reais, dinheiro público que daria para construir mais de 150 hospitais e salvar milhares de vidas.

Se cada um desses hospitais atendesse 200 pessoas por dia, 10 milhões de pessoas seriam beneficiadas anualmente.

Em editorial de 21 de outubro, O Estado de São Paulo comentou o comportamento do presidente do Supremo Tribunal Federal durante a votação do pedido de liminar para a suspensão do processo de cassação aberto contra o deputado e ex-ministro José Dirceu, no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados.

Segundo o editorial, o presidente do Supremo conduziu os trabalhos "como se estivesse tocando uma câmara de vereadores interiorana, forçando seus membros a votar de acordo com os interesses que, por algum motivo, queria preservar". Foi arrogante, ríspido e preconceituoso com os demais ministros, "furtando-se a quaisquer considerações de natureza jurídica".

Que estranhos valores são esses! Onde fica a justiça dos homens, o discernimento e o respeito pelo direito do outro?

A rotina de escândalos, que culminou com a descoberta do mensalão, escancarou as inúmeras negociatas entre governos, partidos, empresas públicas e privadas.

Deputados e senadores, eleitos por nós, nossos representantes no Parlamento, trocaram sua dignidade e a confiança dos eleitores pela mercantilização da sua posição política - favores, apadrinhamentos, cargos. Tudo com o fim de garantir a permanência no poder. O que mais espanta é que não se constrangem ao assumir a compra de votos e o caixa 2. Até declaram que poderiam ter resolvido as dívidas passadas ou fazer caixa para campanhas futuras com os fornecedores do Ministério onde atuavam, mas preferiram procurar o tesoureiro do partido. Assim fez o ex-ministro dos Transportes, Anderson Adauto. Admitiu suas "malfeitorias" e deixou explícito que esse tipo de crime é recorrente, faz parte dos usos e costumes. É praticamente uma prerrogativa de um titular de pasta ministerial.

Diante da profusão de atos ilícitos, já aceitamos barbaridades como fatos banais. Estamos mesmo anestesiados!

De onde vieram os milhões do mensalão que circularam por gabinetes, malas e cuecas país afora?

Da sonegação, do contrabando, da pirataria, do abuso de poder, da conivência, do desvio, da impunidade, do "deixa pra lá". Da ausência de valores!

Enquanto combatemos as práticas irregulares que afrontam as leis no país, como explicar que um produto pirateado - um filme em DVD - tenha chegado ao avião do presidente da República? A naturalidade com que convivemos com a pirataria mostra nossa flexibilidade em relação ao crime. Falta seriedade no combate ao mercado informal e aos vícios criminosos que interferem na economia.

Falta ética na concorrência, eficiência no gerenciamento das contas públicas, no controle de gastos, na administração de receitas e despesas. Essas práticas não combinam com os avanços democráticos que conquistamos. Democracia implica em leis funcionais, sem formalismos jurídicos nem jogo de faz de conta, sem o já conhecido "jeitinho brasileiro".

Não podemos compactuar com a tese de que "sempre foi assim". Não podemos minimizar a gravidade dos fatos e das acusações.

Para onde vão os recordes da arrecadação federal? O Estado criado para gerir e servir, recolhe milhões em impostos e não devolve nada à população. Ele mesmo consome os 40% do PIB.

Não podemos mais permitir os pequenos delitos que geram os grandes delitos. Quando não exigimos nota fiscal, nos tornamos cúmplices da ilegalidade que se instaurou no país. E se sonegamos, não podemos exigir saúde, educação, trabalho, produção, segurança, direitos básicos do cidadão.

O que resta para os milhões de jovens brasileiros que acompanham diariamente os escândalos da política pela mídia? Que valores nossos representantes no Parlamento transmitem a esses jovens ainda em formação, estudantes ou recém chegados ao mercado de trabalho?

Que valores passam à população do país?

É espantosa a falta de austeridade em relação aos gastos públicos.

Levantamento do jornal O Estado de São Paulo mostrou que o governo federal já gastou mais de um bilhão de reais só com diárias de viagens. Nos últimos dois anos, há casos de servidores que receberam até 168 mil reais. Alguém pode me explicar o motivo de tanta viagem?

Pois esse dinheiro gasto na "farra das diárias" é cinco vezes maior do que o orçamento do Ministério da Cultura para este ano. 44 vezes maior do que o total investido no programa Primeiro Emprego. Isso sem falar nas verbas que são desviadas e nunca chegam ao seu destino.

Perdeu-se o respeito pelo dinheiro público, arrecadado pelos inúmeros e caros impostos pagos pela população e pelas empresas, fruto do trabalho duro de milhões de brasileiros. Não só pagamos impostos, mas ainda pagamos as despesas pelo pagamento desses impostos e não sabemos exatamente o quanto pagamos.

Há uma grande ausência de princípios na forma de governar, de gerenciar empresas e entidades e nas atitudes de muitos homens públicos que detêm o poder político e econômico nesse país.

Um governo, assim como uma empresa ou uma entidade, precisa ter valores e projetos claros. O que pensar quando dois senadores da República e um deputado federal ameaçam "dar uma surra" no presidente do país?

A que ponto chegamos, senhores!

Onde está o decoro parlamentar e a dignidade de quem foi eleito para defender os interesses da nação?

O que fazer quando o ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil - depois de receber 326 mil reais do valerioduto e gastar 70 mil reais na compra de mesas para um show - envolve-se em outro escândalo: o uso do cartão corporativo do Banco para pagar despesas com sites pornográficos da internet? Esse mesmo diretor recebeu um envelope com mais de 300 mil reais e disse que não conferiu o conteúdo.

Já o presidente do Banco Popular - destinado à prestar serviços bancários para pessoas de baixa renda - conseguiu gastar mais em publicidade - 24 milhões de reais - do que em empréstimos ao povo - 20 milhões de reais.

Segundo a Revista Veja de 26 de outubro, não nos falta polícia. Temos 322 policiais por grupo de 100 mil habitantes, enquanto que os Estados Unidos tem 283. Não nos faltam juízes. Temos 7,73 juízes para cada grupo de 100 mil habitantes, enquanto que o Chile tem 3,22 juízes para o mesmo número de habitantes.

O que nos falta, então?

Menos leis e mais aplicação correta, ao invés de milhares de leis que se sobrepõem e confundem a todos, propiciando o adiamento de decisões, postergações, decursos de prazo.

No Brasil, as penas prescrevem e a pessoa é declarada inocente, pois não é julgada a tempo. No Brasil, vale a lei da impunidade. Falta eficiência nas investigações, no julgamento dos processos, no gerenciamento das políticas públicas.

A máquina pública brasileira sofre de incapacidade gerencial. Os gestores não conseguem gastar com eficiência o pouco dinheiro que sobra para investimentos.

Em três anos de governo Lula, a folha de pagamento do Legislativo cresceu 53,6%; do Judiciário, 35,5%; do Ministério Público da União, 45,2% e do Executivo, 27,8% - todos acima da inflação acumulada de 24,5% ocorrida nesses três anos.

Fala-se muito na redução de juros, mas pouco nas despesas do governo. A ministra Dilma precisa saber que também é rudimentar e indecente a maneira como o governo aumenta suas despesas, o que torna os juros ainda maiores.

Os investimentos em infra-estrutura e projetos econômicos e sociais dirigidos à população ficaram abaixo de 1% do PIB entre 2003 e 2005. Mais um dos tantos sintomas que comprovam a ausência de VALORES.

E nós, cidadãos e empresários aqui presentes, como ficamos diante disso?

Já nos perguntamos que Brasil queremos?

Somos responsáveis e temos que sair dessa passividade com urgência.

Nós, empresários, líderes, homens e mulheres de bem, políticos corretos, trabalhadores que queremos viver em um país digno precisamos de atitude. É hora de acordar dessa isenção preguiçosa e assumir nossas responsabilidades.

O Brasil somos nós.

É preciso superar velhos e confortáveis hábitos que nos conduzem pela mesma trilha e dizer o que ainda não se disse e precisa ser dito. Quando deixamos de sonhar ou de ter esperança,sucumbimos tanto na vida pessoal, como profissional ou coletiva. Cabe a nós dar um basta à corrupção e à ineficiência, práticas que só se expandem em sociedades precárias e fracas.

A utopia está tanto nos grandes movimentos sociais que a história conheceu, como nos pequenos atos de cada um de nós, que podem mudar o nosso Brasil.

Proponho uma reflexão profunda e um trabalho incessante pela recuperação dos valores que aprendemos com nossas famílias. Vamos expor nossa revolta, nos transformarmos em verdadeiros agentes que podem redimir este país. Não podemos deixar que os contra-valores vençam esta guerra. O país que queremos para nossos filhos e netos não é este.

Queremos um país que gaste menos e onde todos paguem menos impostos; um país que aplique bem os recursos arrecadados; que invista em saúde, segurança, educação, geração de emprego e no bem estar da população.

Um país que não figure mais no 71o. lugar do ranking da Unesco em educação. Um país que respeite sua gente!

Vamos levantar a bandeira dos valores que aprendemos, eliminar os contra-valores, voltar a sentir orgulho, divulgar as boas ações, as boas práticas, os valores verdadeiros e fazer do Brasil um país digno e justo, que traga futuro para todos nós.

Chega de tolerância, virtude brasileira hoje tão permissiva. Não vamos aceitar pequenos delitos, pequenas infrações, pequenos roubos, pequenas corrupções e pequenos desvios que insuflam os grandes e são alimentados pelo tradicional "jeitinho brasileiro", que acha solução para tudo.

Não há meio termo quando a questão é ética. Ou se é honesto ou não se é honesto.

Como cidadãos, somos agentes da mudança. E a mudança está em dizermos não aos agentes dos contra-valores.

Confiante na minha capacidade de venda, com a certeza de que vendi o produto VALOR e encontrei eco em cada um de vocês, finalizo lembrando um artigo do escritor baiano João Ubaldo Ribeiro.

"Somos a matéria prima desse país e temos muitas coisas boas, mas nos falta ainda muito para sermos os homens e mulheres que nosso Brasil precisa. Esses defeitos, essa ESPERTEZA BRASILEIRA congênita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até converter-se em casos de escândalo, essa falta de qualidade humana, real e ruim, tem que acabar".

A responsabilidade é de todos nós!

Boa noite!

Porto Alegre 16 de novembro de 2005

José Galló, CEO das Lojas Renner



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