sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

ContraRegra, Capital e AbortoJan 3, '06 8:24 PM
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Em 1984 eu tinha 15 anos, estava na primeira série do 2º grau e morava em Ponta Grossa - uma cidade pequena (na época, menos de 200 mil habitantes) do interior do Paraná. Era um garoto careta, quatrolhos e tímido que estudava violão clássico (vez por outra até participava de recitais), freqüentava a Biblioteca Pública Municipal quase diariamente, lia muito, andava bastante de bicicleta e passava o tempo livre preocupado com a maior angústia de qualquer adolescente: arranjar "o que fazer".

Um dia tomei coragem - infinita coragem e cara-de-pau, dadas as circunstâncias - e perguntei a minha avó Keka se ela me "emprestaria" a guitarra que havia sido de meu querido tio Rúbio Carlos por uns tempos. "É claro, Caco, não só empresto. Acho que eu vou dá-la para você", disse Keka, "afinal, você é o único da família que sabe tocar violão..." Mentira dela, ela própria também tocava, mas sua generosidade ímpar transformou um verão extremamente triste em uma trajetória de fuga para o menino que eu um dia fui.

Após uma pequena apresentação solo no colégio (durante um workshop sobre História da Música!), veio o convite para formar uma banda com os primos Édson e Acir Beraldo. O primeiro havia sido músico profissional, lançara um disco que não vendeu mais que umas "60 cópias" (sic) e sabia tudo de música e eletrônica. O segundo não sabia nada, mas aprendeu a tocar bateria em alguns meses, o suficiente para conseguirmos concorrer no festival de música do colégio (o "Canta SEPAM"), com direito a um pequeno showzinho enquanto os jurados escolhiam os vencedores e a banda de apoio dos outros concorrentes descansava...

No setlist: "Eu não matei Joana D'Arc", "Still Loving You" e outras pérolas da época. Éramos o Cocktail Molotov sem saber que outra banda, clássica no punk brasileiro, já usara o nome.

Ano seguinte, Édson sairia da banda por conta do neném que chegara, mas Acir e eu tocamos o barco. Um colega de turma - André, vulgo "Bruce Dickinson" - comprou a bateria e Acir passou para os vocais (somente em português; uma vez que para canções em inglês ou "qualquer coisa da Legião Urbana" eu mesmo era o vocalista oficial). Davi Wagner nos teclados aprendendo os acordes (pois também vinha de uma formação clássica), Jefferson De Geus na guitarra-solo (nunca vi um músico amadurecer tão depressa...) e Alexandre no baixo completariam o time da primeira banda de heavy-metal que a cidade veria. Obviamente não tocávamos só rock pesado. Trocávamos o lugar dos ensaios o tempo todo (que variou desde a garagem dos pais do André até a casa de cada um de nós, meu quarto incluso) - afinal não devia ser fácil para nossos pais. Tocamos em buracos vários, festivais de colégio, ensaios no nosso colégio para o festival (naquele ano seríamos a banda de apoio de todos os concorrentes) e outros eventos menos abonadores.

Éramos a banda

CONTRAREGRA.

No final de 1986 já reuníamos uma turminha que conhecia umas poucas músicas de nossa própria lavra (uma mescla pretensamente louca de baratos pesados) e fazíamos um bom barulho com um repertório que incluía Iron Maiden, Led Zeppelin e Deep Purple, além de pioneiros do rock pesado nacional como os paulistas do Harppia e o veterano Robertinho de Recife (cujo seminal álbum "Metalmania" talvez seja ainda o que de melhor já se fez no estilo no Brasil).

Acabaríamos aprendendo a tocar mais de cem músicas em um ano, e teríamos o prazer de ver a final do "Canta SEPAM" televisionado (!) pela TV Esplanada Canal 7, na época subsidiária da Band e assitido por mais de mil pessoas no Teatro Municipal Pax.

E por que falar de tudo isso, afinal?

Principalmente pelo efeito inebriante da belíssima viagem ao tempo de meninos de outros caras, estes infinitamente melhor sucedidos do que minha bandinha de colégio, mas ainda assim quase contemporâneos e companheiros de inquietações similares: Renato Russo, Fê e Flávio Lemos, Dinho Ouro Preto e tantos outros que dão suas palhinhas no excelente DVD/documentário "Capital Inicial/Aborto Elétrico", que passeia por Brasília com os remanescentes de uma cena musical urbana única e irrepetível na história de nosso país, de permeio a gravações de estúdio realizadas no Rio de Janeiro onde o grupo recria canções da primeira banda dos irmãos Lemos, cujos vocais e letras contavam com a verve ainda iniciante (porém não menos incisiva) do mestre Renato Manfredini Jr.

Uma tocante iniciativa do Capital Inicial, em que a homenagem transcende a qualquer acusação de oportunismo pela sinceridade óbvia das declarações, pelo encanto do reencontro dos amigos, pelo tom sóbrio e pela certeira e respeitosa coletânea/resgate das músicas do ABORTO ELÉTRICO.

Ah! Você quer saber do CONTRAREGRA? Nunca fomos punks, lá no interior o máximo que a gente ouvia eram os Ramones, vivíamos "longe demais das capitais". A banda morreu, como o AE, imediatamente após seu maior show. Mas "kids are kids", e ver que aqueles caras que anos depois me encantariam nos palcos com o imenso sucesso que alcançaram com suas duas bandas (Legião Urbana e Capital Inicial) no fundo, no fundo eram garotos como eu, que amavam os Beatles, os Rolling Stones, o Led, o Deep, os Pistols, o Clash, o Joy Division e tantos outros... é simplesmente bom demais.

Leia/veja mais em:

Banda ContraRegra

O mundo e o Universo

Keka é uma mulher moderna

Capital Inicial - Site Oficial

Renato Russo - Site Oficial

Legião Urbana - Site Oficial




Que por baixo da superfície das coisas, haja vida.

Que acima de nós: perigo! (pois uma vida plana apenas engana, transcorre e não se sustenta).

Que no fundo haja substância, clemência, insolência. Que sejamos capazes de dar um passo a mais.

E que no fim da rua, posto que não acredito mais em estradas, não se encontre um fundo cego.

Que nas reentrâncias se acomode aquilo que irá ficar.

Que a escova lave, com seu sabão iodado, o que pelo ralo vai.

Que nas entranhas a bruxa leia, sem mais, futuro e paz. Se forem as minhas, que eu nunca saiba da notícia o mote.

Que nas veias escorra o doce mel da veracidade, a angústia dos hipertérmicos, a solenidade das bulhas.

E que os ossos perdurem misturados à terra, sem traslados e exumações inoportunas, para tornar-se folha, leite e mó.

Que nos desvarios da noite haja um silêncio em pó.

Que no frigir da carne haja grandeza e dó.

Que ao derreter-se a bomba, reste seiva e dor, mas nunca haja alguém só.

Que se descubra um eu que simplesmente responda e vá.



Blog EntryO mundo e o UniversoDec 23, '05 3:53 AM
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"O mundo: algo tão grande e tão fácil de ser explicado.

É conhecido há tempos que tudo quanto existe consiste em moléculas, moléculas estas que giram em torno de si mesmas e que vêm a formar o Mundo, subentendido a terra, a minha casa, os meus, inclusive eu, enfim tudo isto que é consciente, que se vê, que se pode pegar, que se pode mexer, a começar pelo meu corpo.

Dentro em mim algo maravilhoso, algo eterno, o meu espírito, como é dito no espiritismo, a minha alma como é dito no catolicismo, o meu eu como digo para mim mesmo.

Eu, algo eterno, algo de Deus, digo assim porque a única explicação que há para um ser que pensa, que fala, que se explica, que anda, que se mexe, está na Bíblia, que conta desde o aparecimento do homem até tempos atrás em que o filho de Deus se fez homem e pregou o amor e a paz do pai.

Era carne, era osso, tal qual como nós, tal qual como Deus fez-no uma perfeita cópia ou réplica Dele.

Para se viver bem é preciso que se conheça a lei da compensação, a lei da ação e reação, pois é mais do que sabido que quem planta trigo só tende a colher trigo, quem planta arroz só tende a colher arroz e quem planta o amor a paz, só tende a colher o amor e a paz.

O Mundo e o Universo

O Tudo e o Nada

To be or not to be

Ser ou não ser

This is the question

Esta é a questão

Dentro deste Mundo a lei é esta, a gente nasce, cresce e morre, é o destino.

Vive-se sempre na esperança de um mundo melhor mas na verdade quando se morre tem que se deixar morrer sem egoísmo, pois no meu lugar, no seu lugar virão outros para desfrutar deste mundo, às vezes bem misterioso, às vezes tão
alegre e às vezes tão desgraçado...

É a realidade."

Autor: Rúbio Carlos Bach (meu tio, 1954-1976)

(mensagem encontrada junto a seus pertences após seu falecimento )


“Nada expressa melhor o sentido do Natal do que essa angústia, essa inquietação, esse pressentimento sombrio que antecede o nascimento de Cristo.

É um simbolismo eterno que se repete nos fatos materiais da vida.

Os dias que precedem o Natal são os da matança dos inocentes, da fuga para o deserto, da Sagrada Família a bater em vão de porta em porta, em demanda de um abrigo inexistente.

Um Deus vai nascer. O mundo treme e se apressa como Herodes, para tentar matá-Lo.

Não poderiam ser dias felizes. São os mais inquietantes do ano. Nem mesmo a Sexta-Feira Santa é tão triste, porque o fato da morte vem com a certeza da Ressurreição. Mas, quando um Deus vai nascer, tudo é incerto. O nascimento de um Deus é a morte de um mundo de um mundo que não voltará à existência depois de haver-se dissipado no nada. E ainda não se sabe o que virá depois. Tudo aí é possível: as esperanças mais insensatas acotovelam-se aos temores mais alarmantes, na expectativa de algo que não se sabe o que é, mas que será decisivo. É a hora antes da aurora, a hora do lobo: o predador, no lusco-fusco, ainda não sabe se vai caçar ou ser caçado. O nascimento de um Deus é um anúncio do Juízo Final. Antecipadamente, há choro e ranger de dentes. A humanidade agita-se, tentando em vão fugir do peso de seus pecados. Cada um quer fingir para si mesmo que está bem, que nada teme, que sua conta bancária, sua mesa farta, sua família feliz são um atestado de garantia contra a danação eterna.

Parecendo negar a profecia, a agitação moderna não faz senão obedecê-la e confirmá-la. Mas eu seria o último a ver na corrida aos presentes apenas um divertissement no sentido pascaliano, uma fuga ao sentido da vida. Ela é também, nessa hora incerta, a afirmação de uma esperança. O Deus que vai nascer pode não ser um juiz, mas um salvador. Não um castigo, mas um dom.

Ninguém o pode garantir antecipadamente. Comprar presentes, no meio da angústia e da correria do mundo, é um ato de confiança na promessa das Escrituras. Sem saber ainda o que vai acontecer, dispomo-nos a celebrá-lo como um dom. Provemo-nos também dos dons que pretendemos ofertar, símbolos miúdos do grande dom divino que esperamos.

Mas a incerteza nem por isso se dissipa.

Mesmo quando surge a estrela, anunciando o nascimento do Salvador, nem todos atinam com o que está se passando. De início, só os sábios e os pastores o compreendem. É na esperança de ser um deles que acorremos às lojas, comprando o ouro, o incenso e a mirra com que mostraremos reconhecer, nos entes queridos a quem presenteamos, a imagem do Menino Deus recém-nascido.

Quer o saibamos ou não, o símbolo primordial molda nossas vidas, reproduzindo-se e multiplicando-se em milhões de lares, por baixo de toda agitação mundana que, parecendo negá-lo, o reafirma soberanamente.

A deusa história, a modernidade, nada pode contra isso. Ela não é senão imagem e semelhança daquilo que nega. Afinal, que poderia confirmar mais plenamente o nascer do Sol do que o movimento das sombras que deslizam pelo chão?

Qualquer que seja o rumo da História, a Palavra que a moldou antecipadamente não passará.”

(creditado a Olavo de Carvalho na página da Cristina (BOAS FESTAS !!! FELIZ NATAL !!!), aqui no Multiply. Não resisti a ficar só no link e resolvi postar também, por considerar o brilhantismo do texto, e sua profundidade, essenciais).

Leia mais sobre o Natal em Então é Natal


Um felicíssimo Natal a todos!!!




Blog EntryA Tosse OU Desabafo de um GripadoDec 14, '05 3:10 PM
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Acometido por uma gripe transformada em sinusite, depois em traqueíte - complicada por esta situação absolutamente inaceitável pelos politicamente corretos que é o "ser fumante", resolvi listar algumas das frases mais ouvidas, ridículas e onipresentes nestes 10 dias de convalescença:

1. "Tá quase bão!" (Troféu Onipresença)

2. "Tá melhor, hein?!?" (Troféu Ironia Babaca)

3. "Meu cachorro morreu disso..." (Troféu Animal)

4. "É a... tuberculepra galopante cancerígena!!!" (Troféu Ás-no Médico)

5. "Fuma, fdp!!!" (Troféu Gentileza)

6. "Também, é fumante..." (Troféu Papai sabe-Tudo)

7. "Que é isso?" (Troféu Imbecilidade)

8. "Tá mal, hein???" (Troféu Sensibilidade)

9. "Já fez o teste de AIDS?" (Troféu Infectologista Ixpertu)

10. "Tem que tratá essa tberculose, hein???" (Troféu Bacilo de Koch)

Ficam as seguintes perguntas:

1. Dizem que falar "Saúde!" - quando alguém espirra - agora é falta de educação, não é? Que é mais polido não dizer nada, não? Por que então a tosse dos outros tem que ser incessantemente ironizada e comentada???

2. Não-fumante é IMUNE a gripe, bronquite, sinusite, traqueíte e outras "ites" do aparelho respiratório??? Ou as tem também?

3. Por que é que as pessoas não se preocupam com seus próprios narizes, hein??

Aaaaaaatchim!!!!

Cof, cof, cof!!!



Blog EntryEntão é NatalDec 14, '05 9:43 AM
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Difícil falar do Natal sob uma perspectiva histórica, filosófica e conceitual (como fiz ano passado), depois de um ano em que quase tudo que emanou da política (tanto interna - com os desatinos do presidente e sua corja, a escalada da violência e a crescente sensação de insefurança em nosso país; quanto externa - com a multiplicidade de guerras, atentados e conflitos civis que escapam do âmbito de nações envolvidas em situações belicosas e já atinge países como França e Bélgica) sinalizou-nos que tempos piores ainda estão por vir. Isto sem nem falar de nosso combalido Rio de Janeiro

É. Acredito que 2005 não seja um grande ano para se lembrar. E se as festas de fim de ano têm ainda algum significado que não logístico, industrial e comercial, é o de se refletir sobre o ano que passou, replanejar para o próximo período tudo que foi adiado nos meses anteriores, limpar a casa (real e metaforicamente) e seguir adiante. Afinal, não é para isto que serve a distribuição artificial que nossos antepassados fizeram das horas, dias e anos? Não?

Talvez. Para muitos de nós, as frases feitas (por outrem) nos cartões de felicitação é reflexão mais que suficiente - pelo menos não atrapalha o afã de escolher presentes para si e para os outros ou a gula desenfreada dos feriados. Então, refletir o quê, para quê e com quem?

Descartados a artificialidade dos calendários, e a opção religiosa de cada um, que nos resta a dizer do Natal, esta festa que hoje é comemorada até no Japão xinto-budista, cujos enfeites são manufaturados em Taiwan e China Continental, cujos ecos ressoam por toda a Humanidade, ainda que não cristã?

Fico com uma idéia só. Não-religiosa, apenas conceitual. Que esta grande festa de origem cristã, tão transformada pelo passar inolvidável e inevitável de mais de dois milênios, continue sendo um espaço de celebração da vida, em geral, e da vida em família e com os amigos em particular, a nos relembrar do respeito devido à condição humana, tão degradada no ano que passou, mas enchendo-nos de esperança pelo futuro, pois, afinal, nada mais há que se possa fazer.

Um Feliz Natal e Um Excelente Ano Novo a todos!!!



GENEBRA (Reuters) - Os movimentos da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho adotaram na quinta-feira um emblema adicional, o que permitirá que Israel participe da rede mundial de ajuda humanitária, após décadas de impasse.

Contrariando a regra do consenso, os países signatários das Convenções de Genebra (1949) levaram o tema a votação e adotaram o novo símbolo -- um cristal vermelho em formato de diamante, sobre fundo branco. Entidades nacionais podem colocar seus próprios símbolos dentro do emblema, e no caso de Israel haverá a identificação da sua agência humanitária Magen David Adom (ADM, ou "estrela de Davi vermelha").

"O protocolo acaba de ser adotado. Infelizmente, não foi possível adotá-lo por consenso", disse um porta-voz do governo suíço a jornalistas.

A Suíça, Estado depositário das convenções, pressionava por um consenso, mas não pôde superar as diferenças, especialmente entre os países islâmicos e outros membros, a respeito da atuação dos serviços de emergência nas colinas do Golã, território sírio ocupado em 1967 por Israel e posteriormente anexado.

"O mais importante é o resultado. Amanhã, ninguém vai se lembrar dos números, dos votos. Todos terão o terceiro protocolo e mais proteção", disse Noam Yifrach, presidente da MDA.

A Suíça, historicamente neutra, convocou a conferência para aprovar um novo protocolo das convenções que crie um terceiro emblema, junto com a cruz vermelha (um símbolo cristão) e a lua crescente vermelha (um símbolo islâmico).

O terceiro símbolo foi aprovado por 98 votos, com 27 votos contra a 10 abstenções.

"Infelizmente, é a primeira vez na história da lei internacional de direitos humanos que uma convenção internacional desta importância foi levada a votação, e isso é realmente uma pena", disse o embaixador sírio na ONU em Genebra, Bashar Ja'afari.

O consenso parecia iminente em novembro, quando a MDA e o Crescente Vermelho palestino concordaram que o grupo palestino deveria ser internacionalmente reconhecido como sendo o serviço de emergência dentro dos territórios ocupados.

Os países árabes insistiam que essa questão da responsabilidade fosse resolvida antes da adoção de um terceiro emblema, feito sob medida para o caso israelense.

Mas a Síria exigiu tratamento semelhante para as colinas do Golã, o que foi impossível, inclusive porque Israel considera a região como seu território legítimo, e não sob ocupação.

Agora, Israel terá um emblema internacionalmente reconhecido, a única condição que o MDA não conseguia cumprir até agora para aderir ao movimento.

Mas a adesão ainda precisará ser aprovada pelas várias sociedades nacionais, numa conferência prevista para o primeiro semestre de 2006.

A Cruz Vermelha Americana vinha retendo 5 milhões de dólares por ano de contribuições ao movimento desde 2000, última vez em que houvera uma tentativa de acordo, fracassada devido à intifada (rebelião palestina).

Os países islâmicos ganharam em 1983 o direito de usar o crescente em vez da cruz como identificação. Mas há anos esses governos resistiam ao reconhecimento da estrela de Davi vermelha.

Com a melhoria nas relações entre árabes e judeus, provocada pela desocupação da Faixa de Gaza, em setembro, a Suíça considerou que havia clima para uma nova tentativa.

"Isso vai melhorar a proteção dos que a necessitam. É uma medida muito boa", disse o presidente do Comitê ]Internacional da Cruz Vermelha, Jakob Kellenberger.

Por Richard Waddington e Tom Armitage

(Edição em português: Redação Rio de Janeiro; rio.newsroom@reuters.com)

É. São vários os questionamentos que me ocorrem a partir deste fato: por um lado é importante a expansão da ajuda humanitária num mundo conflituoso, e se a mudança de símbolos pode ajudar a tornar esta ajuda mais efetiva e segura, ok. Por outro lado, não seria ainda melhor que adversários (políticos, nacionais e/ou belicosos) respeitassem forças internacionais de paz, não importa sob que bandeira? Acho decepcionante ver que o preconceito religioso atinja cruzes, crescentes e estrelas-de-Davi no seio de instituições internacionais tão importantes. Corremos o risco cada vez maior de ver regras da dita "política do politicamente correto"(sic) nos transformarem numa proto-França - onde, em nome do laicismo do Estado, bane-se a suprema liberdade individual de portar-se, pacifica e piamente, símbolos religiosos de qualquer sorte.

Ou serão apenas reflexos da falta de confiança mútua, e do desgaste da imagem política das instituições ditas "supranacionais" de modo geral, na esteira dos protestos e atentados mundiais contra um ONU subserviente à hegemonia americana?



É engraçado como certos discos resistem ao tempo. Na época da primeira audição, por vezes eles nos parecem estranhos, tortos ("weird", diriam os de língua inglesa), pop demais ou de menos. Ouvi "Jagged Little Pill", de uma jovem cantora canadense, vendida como estreante (não era) em 1995, antes mesmo de alguma das músicas tocar nas rádios - empréstimo de um amigo tão fissurado por música quanto eu.
Deixei o disco meio de lado uns dias, demorei a devolver, e à segunda audição vi um monstro saindo do CD player. Um monstro humano, poético, belo, raivoso e roqueiro: impossível de acreditar que fosse obra de uma garotinha de vinte e pouquíssimos anos. Era uma voz feminina tão forte, cujos versos rascavam tanto ou mais quanto sua postura.
Dez anos, o megaestrelato e discos irregulares depois, Ms. Morissette retorna à (ainda) sua masterpiece, numa "versão acústica" de estúdio à qual a maioria dos críticos (e parte do público) torceu o nariz.
Mas não, não se trata de um mero caça-níqueis. Em "Jagged Little Pill Acoustic", o que se ouve é a recriação de músicas tão sinceras e comoventes que se tornaram hinos de uma geração mundo afora, executados com respeito (pouco) desconstrutivo por uma artista que valoriza harmonias, contrapontos, contracantos e palavras. É o mesmo disco de dez anos atrás, e não é. É como um concerto, que muda de espírito apesar da performance ser realizada dia após dia pela mesma orquestra. É um disco "revisitado".
Já se faz hora, creio eu, de separar-se o joio do trigo quando se fala de rock. Há muita porcaria nos discos "unplugged", "ao vivo" e quetais. Por outro lado, da mesma forma como gravações ao vivo valorizam a obra de "megastars" que se tornaram virtuoses ao longo do tempo (como os caras do U2, do Red Hot e do Pink Floyd), da mesma maneira como os Madredeus encaram suas apresentações como concertos, Alanis dá um passo gigantesco na carreira de cantora com seu repertório mais "clássico", num disco maravilhoso de se ouvir várias e várias vezes, não para lembrar, mas para se curtir como um bom vinho...
Termino com esta metáfora datada (esperando as críticas ao dublê de crítico musical) e uma das poesias originais, para mim a mais bela de todas as regravações do álbum..
" I'm broke but I'm happy
I'm poor but I'm kind
I'm short but I'm healthy, yeah
I'm high but I'm grounded
I'm sane but I'm overwhelmed
I'm lost but I'm hopeful, baby
What it all comes down to
Is that everthing's gonna be fine fine fine
Cause I've got one hand in my pocket
And the other one is giving a high five
I feel drunk but I'm sober
I'm young and I'm underpaid
I'm tired but I'm working, yeah
I care but I'm restless
I'm here but I'm really gone
I'm wrong and I'm sorry, baby

What it all comes down to
Is that everything's gonna be quite alright
Cause I've got one hand in my pocket
And the other is flicking a cigarette

What it all comes down to
Is that I haven't got it all figured out just yet
Cause I've got one hand in my pocket
And the other one is giving the peace sign

I'm free but I'm focused
I'm green but I'm wise
I'm hard but I'm friendly, baby
I'm sad but I'm laughing
I'm brave but I'm chicken shit
I'm sick but I'm pretty, baby

What it all boils down to
Is that no one's really got it figured out just yet
But I've got one hand in my pocket
And the other one is playing the piano

What it all comes down to, my friends
Is that everything's just fine fine fine
Cause I've got one hand in my pocket
And the other one is hailing a taxi cab..."
(Hand In My Pocket, Alanis Morissette, ainda melhor em "Jagged Little Pill" Acoustic)


Blog EntryKeka é uma mulher modernaNov 28, '05 4:41 AM
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Keka é uma mulher moderna. Definitivamente, um símbolo do século em que nasceu e das mudanças e rupturas que a sociedade sofreu – espera-se – em prol das mulheres.

Keka cursou a Escola Normal, como (quase) toda moça de família fazia, em seu tempo. Aluna brilhante, curiosa incansável, estudiosa em seu limite máximo: só poderia sagrar-se excelente professora.

Depois se casou, mudou de cidade para acompanhar o marido, teve quatro filhos – todos homens – criou-os à sombra de um marido dominador e... bem, deixa pra lá. Um homem de seu tempo, também. Não é hora de descrevê-lo, com seus vícios e virtudes, pois esta é a história da Keka – pelo menos como eu a vejo.

Viveram juntos vinte e oito anos, se não me falha a memória. Neste meio tempo, Keka viu os filhos crescerem, tornarem-se homens, casarem-se também, viu os filhos de seus filhos nascerem, formou médico o caçula e perdeu o terceiro num acidente estúpido que marcaria sua família indelevelmente e sua vida de modo definitivo. Não necessariamente nesta ordem.

À morte deste filho querido e valente, alguém capaz de viver uma vida completa até parcos 22 anos de idade, seguiu-se o fim do casamento e o redescobrimento de muitos dons que permaneciam latentes. Sofreu muito lá naquela enorme casa em frente à Prefeitura; acostumada ao barulho dos pratos e panelas – justo ela, que sempre cozinhou em caldeirões - de uma casa sempre cheia, vagou sozinha por noites a fio, buscando aquilo que todos buscamos ao perder tanta coisa, que por um momento somos capazes de julgar que tudo acabou.

Nos finais de semana, botava a casa para arejar, recebia a mãe, velhinha, que vinha lhe fazer companhia lá de Curitiba, e os filhos e netos que ainda moravam em Ponta Grossa. E voltava a ser a Keka de sempre, alegre, espirituosa, impetuosa e congregadora.

Em seus mais de trinta anos de magistério, formou milhares de crianças no Grupo Escolar que dirigiu por tanto tempo que virou seu sinônimo. Perdi a conta das vezes em que fui abordado por ex-alunos, saudosos, querendo saber dela, mandar um alô e o eterno agradecimento.

Mas naquele agora longínquo final dos anos setenta, de repente não era mais “o Grupo” que a motivava, mas sim as apostilas do curso pré-vestibular que o caçula fizera no ano anterior. Nelas se debruçou por meses, e não foi surpresa alguma sua admissão na Faculdade de Pedagogia da Universidade Estadual de Ponta Grossa, com a idade de 49 anos.

Já formada, especializou-se em Educação Especial para Deficientes, especialmente os visuais, a quem se sentia muito apegada por ser ela mesma portadora da visão de um único olho. Fundou um centro de reabilitação de deficientes visuais, escreveu-lhes uma biblioteca inteira em Braille (furando os cartões à mão, ao longo de mais noites que Sheharazade!), batalhou por políticas públicas de apoio aos seus amigos, enfim, realizou o trabalho de uma vida nos anos em que serviu à comunidade em sua nova missão.

Um dia recebeu um telefonema, em casa. Era Francisco, o ex-noivo da juventude, viúvo e querendo uma reaproximação. Desligou-lhe na cara. “Como é que pode, meus filhos? Imagina se eu ainda vou querer saber de homem nesta etapa da vida?”

Um dia se encontraram sem querer, e conversaram muito mesmo pra tentar se entender”, como diria o poeta Renato Russo, e mais uma vez não foi surpresa alguma que, seis meses depois, Keka viesse pedir, a seus filhos e netos, permissão para noivar – “como manda o figurino” – e casar. Tinha 61 anos.

Mudou-se de volta para Curitiba, então, depois de várias décadas como cidadã pontagrossense, e assumiu o apartamento do novo marido ali na Reitoria, onde morariam seus anos idílicos de lua-de-mel. Com o “Seo” Chiquinho na boléia, viajou boa parte do Brasil e da América Latina, - em um trailer mais bem montado que muita casa por aí.

Quando cansaram, compraram um sítio em Campina Grande do Sul, na belíssima área rural de uma cidade-satélite de Curitiba. Reconstruíram a casa, fizeram jardins babilônicos, piscina, churrasqueira e bosque, e viveram cercados de animais, estátuas gregas e outras mitologias.

A penúltima do casal? Trocaram o apartamento na praia por uma casa de praia: e tome reforma.

A última? Computador pessoal para conectar nossa Dona Benta ao mundo, mas de forma civilizada: monitor e periféricos em ambas as casas, só precisa levar o HD e ligar, que agora ninguém mais tira Dona Keka da web.

A próxima? Dou um doce para quem souber.

Dona Keka. Aryclé Morais de Castro, Aryclé de Castro Bach, Aryclé de Castro Muniz.

Minha professora particular, companheira de tantos e tantos trabalhos pesquisados a quatro mãos nas enciclopédias de sua biblioteca, presenteadora de tantos mimos ao longo da minha vida (especialmente livros!) que até perdi a conta, cozinheira ímpar, interlocutora admirável, presente em todos os momentos importantes, minha fã e minha musa (não necessariamente nesta ordem, é claro e de novo).

Minha avó, aniversariante do dia de hoje, deste 28 de novembro de 2005.

Parabéns pelos 77 anos tão bem vividos, pelo exemplo e pela inspiração. Obrigado por tudo. E obrigados aos amigos, que, se chegaram até aqui, saberão perdoar um texto impossível de se fechar, apenas uma pequena homenagem imperfeita à personagem cuja grandeza não cabe no papel. Espero que chegue logo a manhã, que você abra logo o computador e tenha logo certeza, desde cedo, do quanto eu te amo.

Seu neto Renato.



Passando por cima de preconceitos esdrúxulos e recentes - uma vez que já fomos grandes consumnidores da música latino-americana (argentina, boliviana, mexicana e cubana principalmente) em outras eras - três jovens compositores vêm reacostumando ouvidos (antenados) ao idioma castelhano: o uruguaio Jorge Drexler e os argentinos Kevin Johansen e Gustavo Cerati.

Loge da obviedade de tangos, boleros,mambos e quetais - mas sem perder de vista suas raízes - os artistas citados representam um sopro de renovação na cultura musical do continente, misturando tendências (rock, pop, bossa nova, música folclórica) e antecipando correlações (vide a parceria em música e idéias que o nosso querido Moska vem travando com os dois primeiros já há algum tempo).

Fica aqui uma "palhinha" de três de seus melhores textos/letras.

Cumbiera Intelectual

Kevin Johansen

La conocí en una bailanta todo apretado

Nos tropezamos pero fui yo el que se puso colorado

Era distinta y diferente su meneada

Y un destello inteligente había en su mirada...

Cuando le dije si quería bailar conmigo

Se puso a hablar de Jung, de Freud y Lacan

Mi idiosincracia le causaba mucha gracia

Me dijo al girar la cumbiera intelectual

Me dijo al girar... esa cumbiera intelectual...

(“Jung, Freud, Simone de Beauvoir, Gothe, Beckett,

Cosmos, Gershwin, Kurt Weill, Guggenheim...”)

Estudiaba una carrera poco conocida

Algo con ver con letra y filosofía

Era linda y hechizera su contoneada

Y sus ojos de lince me atravesaban

Cuando intenté arrimarle mi brazo

Se puso a hablar de Miller, de Anais Nin y Picasso

Y si osaba intentar robarle un beso

Se ponía a leer de Neruda unos versos

Me hizo mucho mal la cumbiera intelectual

No la puedo olvidar... a esa cumbiera intelectual

(“Paul Klee, Ante Garmaz, Kandinsky, Diego, Fridha,

Tolstoi, Bolshoi, Terry Gilliam, Shakespeare William...”)

Si le decía “Vamos al cine, rica”

Me decía “Veamos una de Kusturica”

Si le decía “Vamos a oler las flores”

Me hablaba de Virginia Wolf y sus amores

Me hizo mucho mal la cumbiera intelectual

No la puedo olvidar... a esa cumbiera intelectual...

Le pedí que me enseñe a usar el mouse

Pero solo quiere hablarme del Bauhaus

Le pregunté si era chorra o rockera

Me dijo “Gertrude Stein era re-tortillera”

No la puedo olvidar...

Yo no quiero que pienses tanto, cumbiera intelectual!

Yo voy a rezarle a tu santo para que te puedas soltar...

Para que seas más normal

(Jarmusch, Cousteau, Cocteau, Arto, Maguy Marin,

Twyla Tharp, Gilda, Visconti, Gismonti...)

Aprendí sobre un tal Hesse y de un Thomas Mann

Y todo sobre el existencialismo Alemán

Y ella me sigue dando cátedra todo el día

Aunque por suerte de vez en cuando su cuerpo respira

Su cuerpo respira, su cuerpo respira

Yo no quiero que pienses tanto, cumbiera intelectual

Yo voy a rezarle a tu santo, para que seas más normal

Para que te puedas soltar...

Cumbierita, cómo la quiero...!

Mi Guitarra Y Vos

Jorge Drexler

¡que viva la ciencia,

Que viva la poesia!

¡que viva siento mi lengua

Cuando tu lengua esta sobre la lengua mia!

El agua esta en el barro,

El barro en el ladrillo,

El ladrillo esta en la pared

Y en la pared tu fotografia.

Es cierto que no hay arte sin emoción,

Y que no hay precisión sin artesania.

Como tampoco no hay guitarras sin tecnologia.

Tecnologia del nylon para las primas,

Tecnologia del metal para el clavijero.

La prensa, la gubia y el barniz:

Las herramientas de un carpintero.

El cantautor y su computadora,

El pastor y su afeitadora,

El despertador que esta anunciando la aurora,

Y en el telescopio se demora la ultima estrella.

La maquina la hace el hombre...

Y es lo que el hombre hace con ella.

El arado, la rueda, el molino,

La mesa en que apoyo el vaso de vino,

Las curvas de la montaña rusa,

La semicorchea y hasta la semifusa,

El té, los ordenadores y los espejos,

Los lentes para ver de cerca y de lejos,

La cucha del perro, la mantequilla,

La yerba, el mate y la bombilla.

Estás conmigo,

Estamos cantando a la sombra de nuestra parra.

Una canción que dice que uno solo conserva lo que no amarra.

Y sin tenerte...

Te tengo a vos y tengo a mi guitarra.

Hay tantas cosas

Yo solo preciso dos:

Mi guitarra y vos

Mi guitarra y vos.

Hay cines,

Hay trenes,

Hay cacerolas,

Hay formulas hasta para describir la espiral de una caracola,

Hay mas: hay creditos,

Trafico,

Clausulas,

Salas vip,

Hay capsulas hipnoticas y tomografias computarizadas,

Hay condiciones para la constitucion de una sociedad limitada,

Hay biberones y hay obuses,

Hay tabues,

Hay besos,

Hay hambre y hay sobrepeso,

Hay curas de sueño y tisanas,

Hay drogas de diseño y perros adictos a las drogas en las aduanas.

Hay manos capaces de fabricar herramientas

Con las que se hacen maquinas para hacer ordenadores

Que a su vez diseñan maquinas que hacen herramientas

Para que las use la mano.

Hay infinitas palabras:

Zen, gol, bang, rap, dios, fin...

Hay tantas cosas

Yo solo preciso dos:

Mi guitarra y vos

Mi guitarra y vos.

No Te Creo

Gustavo Cerati

Hace tanto que es lo mismo

Escucharte

Esperando algun domingo

Que nos calme

Si es lo mismo ser tu angel

A ser solo un personaje desechable

Desechable

No hace falta tu cinismo

Yo soy parte

Y tambien soy el que parte

A nuevos rumbos

La estupidez triunfa en este juego

Se que dices la verdad

La conozco

Te conozco

Y no te creo

Hace tanto que es lo mismo

Yo soy parte



Bernardo Soares não é um verdadeiro heterónimo. Não é uma personalidade tão diferente de Pessoa «ele mesmo» como são Caeiro, Reis e Campos. O paradoxo, aliás, reside no facto de este homem cuja pena exala palavras geniais ser um medíocre. É um homem sem qualidades, a quem a vida parece ter limado as asperezas ou apagado os contornos: personagem não apenas sem máscara, mas sem rosto, diferente da personalidade «verdadeira» de Pessoa, não por transposição ou inversão, como Caeiro, nem por adição ou multiplicação, como Campos, mas por subtracção, esvaziamento, escavamento; como se tudo o que há no homem normal de convenção, de ilusão, de amor-próprio, nele tivesse sido retirado pelo ácido da consciência crítica. Soares não é um outro diferente de Pessoa, e também não é Pessoa; ele é o nada que Pessoa descobre em si mesmo quando pára de fingir.

Robert Bréchon. Estranho Estrangeiro - Uma biografia de Fernando Pessoa. Lisboa: Quetzal, 1996, pp. 514-515.

FRAGMENTOS:

"Escrevo, triste, no meu quarto quieto, sozinho como sempre tenho sido, sozinho como sempre serei. E penso se a minha voz, aparentemente tão pouca coisa, não encarna a substância de milhares de vozes, a fome de dizerem-se de milhares de vidas, a paciência de milhões de almas submissas como a minha ao destino quotidiano, ao sonho inútil, à esperança sem vestígios. Nestes momentos meu coração pulsa mais alto por minha consciência dele. Vivo mais porque vivo maior."

"Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto."

"O sonhador não é superior ao homem activo porque o sonho seja superior à realidade. A superioridade do sonhador consiste em que sonhar é muito mais prático que viver, e em que o sonhador extrai da vidaum prazer muito mais vasto e muito mais variado do que o homem de acção. Em melhores e muito mais directas palavras, o sonhador é que é o homem de acção.

"Sendo a vida essencialmente um estado mental, e tudo, quanto fazemos ou pensamos, válido para nós na proporção em que o pensamos válido, depende de nós a valorização. O sonhador é um emissor de notas, e as notas que emite correm na cidade do seu espírito do mesmo modo que as da realidade.""Tenho fome da extensão do tempo, e quero ser eu sem condições."

"Uns governam o mundo, outros são o mundo."

"Há em olhos humanos, ainda que litográficos, uma coisa terrível: o aviso inevitável da consciência, o grito clandestino de haver alma."

"E não sei o que sinto, não sei o que quero sentir, não sei o que penso nem o que sou."

"Verifico que, tantas vezes alegre, tantas vezes contente, estou sempre triste."

"Não vejo, sem pensar."

"Não há sossego - e, ai de mim!, nem sequer há desejo de o ter."

"Dói-me qualquer sentimento que desconheço; falta-me qualquer argumento não sei sobre o quê; não tenho vontade nos nervos. Estou triste abaixo da consciência. E escrevo estas linhas, realmente mal-notadas, não para dizer isto, nem para dizer qualquer coisa, mas para dar um trabalho à minha desatenção. Vou enchendo lentamente, a traços moles de lápis rombo - que não tenho sentimentalidade para aparar - , o papel branco de embrulho de sanduíches, que me forneceram no café, porque eu não precisava de melhor e qualquer servia, desde que fosse branco. E dou-me por satisfeito."

" Nunca amamos alguém. Amamos, tão-somente, a ideia que fazemos de alguém. É a um conceito nosso - em suma, é a nós mesmos - que amamos.

Isto é verdade em toda a escala do amor. No amos sexual buscamos um prazer nosso por intermédio de um corpo estranho. No amor diferente do sexual, buscamos um prazer nosso dado por intermédio de uma ideia nossa. O onanista é objecto, mas, em exacta verdade, o onanista é a perfeita expressão lógica do amoroso. É o único que não disfarça nem se engana.

As relações entre uma alma e outra, através de coisas tão incertas e divergentes como as palavras comuns e os gestos que se empreendem, são matéria de estranha complexidade. No próprio ato em que nos conhecemos, nos desconhecemos. Dizem os dois «amo-te» ou pensam-no e sentem-no por troca, e cada um quer dizer uma ideia diferente, uma vida diferente, até, porventura, uma cor ou um aroma diferente, na soma abstracta de impressões que constitui a actividade da alma."

"A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida."

"Não me indigno, porque a indignação é para os fortes; não me resigno, porque a resignação é para os nobres; não me calo, porque o silêncio é para os grandes. E eu não sou forte, nem nobre, nem grande. Sofro e sonho. Queixo-me porque sou fraco e, porque sou artista, entretenho-me a tecer musicais as minhas queixas e a arranjar meus sonhos conforme me parece melhor a minha ideia de os achar belos.

Só lamento o não ser criança, para que pudesse crer nos meus sonhos."

"Pasmo sempre quando acabo qualquer coisa. Pasmo e desolo-me. O meu instinto de perfeição deveria inibir-me de acabar; deveria inibir-me até de dar começo. Mas distraio-me e faço."

"Para viajar basta existir. Vou de dia para dia, como de estação para estação, no comboio de meu corpo ou de meu espírito, debruçado sobre as pessoas e os gestos, sempre eguaes e sempre differentes, como, afinal, as paisagens são."

por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa (a.k.a Fernando Pessoa)


Blog EntryMeu Filho LucasNov 21, '05 3:29 PM
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Lucas é o nome do filho que eu sempre soube que teria. Nome forte, do latim, com o significado de luminoso. Adaptado ao grego como Lucano - nome original do Lucas mais famoso da História, o Evangelista, um dos quatro pilares da doutrina cristã, “médico de homens e de almas” na feliz descrição de Taylor Caldwell.

Nome da moda em 1998 (mas nem por isso cogitei mudá-lo, nem por um segundo!), quando ele nasceu naquele 21 de novembro à noite, marcado para sempre pela alegria do berçário, da noite mal-dormida, da surpresa meconial e das dificuldades da apojadura. Noite sem fim, alegria também.

Na manhã seguinte o silêncio da capela da Casa de Saúde São José enlevou meu espírito a Deus como nunca antes ou depois; exausto e emocionado como estava, vivendo como num sonho, não tinha alma nem coração para suportar o volume de tanta alegria. Tudo o mais me parecia sem sentido, nascera para ser pai.

Só despertaria do transe uns quarenta dias depois, quando o ano virou e as férias acabaram – férias nas quais vivi somente em função do pequeno e de sua mãe. Simplesmente não conseguia tirar meus olhos dele. Voltar a trabalhar em três lugares, encarar o desafio de mais uma especialização, tudo isso exigiu de mim um esforço hercúleo ao deixar a casa, pela manhã, e muita disciplina mental para conseguir pensar em qualquer outra coisa que não fossem aqueles quilinhos cada vez mais lindos de gente. Um toquinho de gente, vá lá: mas era meu também, um pedaço de mim.

Depois as fraldas, as papinhas, as brincadeiras, os passeios, os amiguinhos-bebês da vizinhança – Natasha a mais especial delas, sua primeira “paixão”. Com seis meses de idade, carrinhos emparelhados, experimentavam o gosto da chupeta um do outro, trocavam comida, lambuzavam-se mutuamente numa alegria sem fim. Aí veio o homem da carrocinha do coco na Pracinha da Selva de Pedra, de quem Lucas tornou-se cliente fiel; as idas á praia em seu carrinho modelo “esporte” - cada vez mais sujo de papa e sopinha - quando eu voltava mais cedo do hospital. “Oi, Lucas!”, “Ih! Ó lá o Lucas e o pai dele!” - adivinhavam as pessoas que só conheciam ao menino e sua babá, cônscios de nossa parecença). As visitas ao Baixo Bebê, em família, aos domingos.

Lembro-me que foi Lucas quem diagnosticou a segunda gravidez da família. Absolutamente sozinho. Um dia, ali pelos dez meses de vida, provou do leite materno e fez um “Pfuuu!” com carinha de nojo; eu cantei logo: “Ih, gente! Olha o beta-HCG dando gosto ruim no leite aí, ó!" A mamãe dele não acreditou não, mas muito pouco tempo se fez necessário para convencê-la do contrário.

Quando Pedrinho chegou, seu olhar de espanto, curiosidade e excitação ao chegar pertinho da cama onde o recém-nato grunhia seus “nhec, nhec!” logo se transformou em pura ternura. A mesma expressada sempre quando em nossos colos, desde bebê: de costas pra nós para olhar o mundo, uma mãozinha sempre a tocar-nos o rosto e a face num carinho que não tinha hora pra acontecer ou acabar.

Rapidamente viraram companheiros de jogos e folguedos: um puxado pela criatividade febril do mais velho, outro recapitulando pela primeira vez sua infância: rolavam no chão, corriam atrás de bolas, andavam de velotrol, adoravam a areia (da praia ou da pracinha), descobriram o Jardim Botânico e tantos outros lugares bonitos de sua cidade natal..

Lucas era um menino feliz.

Desde seus três anos, os pais estão separados. E hoje (hoje!) ele faz sete – quase um rapaz. Ano que vem, vai para a Primeira Série do 1º Grau, cheio de orgulho – afinal, Lucas é um herói. Em seu mundinho de contos de fada, dragões e dinossauros ocupam espaço muito maior que qualquer arquétipo humano, exceto aquele que construiu para si.

Lucas é um sobrevivente. Lucas é um retrato dos tempos. Lucas é seu próprio herói. E sofre, quando se vê aquém de suas própria expectativas. Lucas aguarda há quase dois anos uma decisão da justiça Brasileira que permita compartilhar mais momentos com seu pai, esgotada toda e qualquer outra possibilidade de negociação.

Pedro José, cinco anos, olha para o pai com interesse e curiosidade, como quem não consegue sentir falta do que nunca experimentou. Já Lucas não: olha para o pai de uma maneira indecifrável e não o reconhece, tem que ser apresentado a ele, novamente a cada duas semanas, e reconstruir esta relação do zero, com o conhecimento mútuo e prévio de que, nos quinze dias que se seguirem, tudo pode acontecer.

Feliz Aniversário, Lucas. Saudades, Pedrinho. Daqui a pouco vou sair do trabalho e pegar os dois no colégio para as poucas horas que terei direito de compartilhar com vocês neste dia tão importante. Serão pouquíssimas, mas nunca míseras. Farei delas o melhor possível, tudo que puder para fazê-los muito felizes.

Quero que vocês saibam o quanto eu os amo!


Falar do imenso (+ de 800 páginas) e incomparável quarto volume da monumental série de Stephen King é tão difícil quanto falar de temas batidos como o amor, tema principal do passeio que fazemos à juventude do Pistoleiro.
"A Torre Negra" é mais que uma série de livros, é mais que um épico, é mais que longos volumes separados que podem ser lidos como um romance único (não que eu o recomende; é que, diferentemente de Tolkien, cujos livros perfaziam uma unidade histórica, aqui há começo, meio e fim em cada passo da epopéia).
"A Torre Negra" é o ápice da criatividade de um autor tão profícuo quanto polêmico e subvalorizado, é "alta cultura" e é "pop"; "Mago e Vidro" é a confirmação disso tudo e um longo caminho que se percorre com infinito prazer, carregando o calhamaço na bolsa para ler nos intervalos do trabalho (como um segredo bem guardado, como um "Livro da Vida"), sabendo que ali, naquelas folhas, está a porta para um outro mundo tão real e comovente quanto as Portas entre vários mundos e dimensões que os personagens encontram.
Trocando em miúdos: INDISPENSÁVEL!



TRECHO:
"O verdadeiro amor, como qualquer droga forte que cause dependências, não tem graça. Assim que a fase do encontro e descoberta se encerra, os beijos se tornam surrados e as carícias cansativas... exceto, é claro, para aqueles que compartilham os beijos, que dão e recebem as carícias enquanto cada som e cada cor do mundo parece se aprofundar e brilhar em volta deles. Como acontece com qualquer outra droga forte, o primeiro amor verdadeiro só é realmente interessante para aqueles que se tornaram seus prisioneiros.
E como acontece com qualquer outra droga forte que cause dependência, o primeiro amor verdadeiro é perigoso.
(...) Os que estão sob o domínio de uma droga forte - heroína, erva-do-diabo, verdadeiro amor - freqüentemente se vêem tentando manter um precário equilíbrio entre discrição e êxtase, enquanto avançam na corda bamba de suas vidas. Manter o equilíbrio numa corda bamba é difícil até mesmo no estado mais sóbrio; fazer isso num estado de delírio é praticamente impossível. A longo prazo é completamente impossível."



Leia mais sobre a série "A TORRE NEGRA" em
Medo num punhado de pó OU Impressões a respeito da série "A TORRE NEGRA" de Stephen King



A detecção precoce, assim como a natureza do tumor e as modalidades terapêuticas utilizadas, é um fator que contribui decisivamente para a obtenção de um melhor prognóstico no tratamento do câncer infantil. Entretanto, descobrir um câncer na criança -principalmente no estágio inicial- não é nada fácil. "O processo de diagnóstico é complexo e influenciado por múltiplos fatores, como nível de instrução da família, proximidade de um bom centro de atendimento e habilidade da equipe médica para detectar a doença", explica dr. Luiz Fernando Lopes, oncologista pediátrico do Hospital do Câncer H.C. Camargo. O diagnóstico foi um dos temas discutidos em uma palestra ministrada pelo especialista na instituição, seguida de entrevista ao Portal Oncopediatria.


Os indícios do câncer pediátrico freqüentemente remetem a sintomas simples, o que demanda atenção especial dos profissionais da saúde que acompanham regularmente a criança e o adolescente, com destaque para o pediatra, mas sem excluir outros especialistas, como ginecologistas, ortopedistas, oftalmologistas, dentistas e psicólogos. "A inspeção do pediatra é extremamente importante, porém ele diversas vezes não tem informações suficientes sobre os diferentes tipos de câncer e suas causas", afirma dr. Luiz Fernando. O ensino precário da oncologia nas escolas - poucas faculdades incluem o assunto na grade, e a disciplina não é obrigatória nos cursos de pediatria- e um desinteresse de parcela significativa dos profissionais agravam a situação. Para ele, não é com a freqüência requerida que os médicos "procuram aprofundar seus conhecimentos sobre câncer e descobrir se deixam de notar sintomas importantes".

A lacuna de informação não representa o único empecilho ao diagnóstico precoce. Em se tratando de Brasil, as desigualdades sociais e regionais não podem ser ignoradas. Muitos pacientes vêm de famílias humildes, que vivem longe das grandes cidades e não têm acesso às redes integradas de medicina. Dos cerca de 8.500 casos de câncer infantil que o país tem ao ano, estima-se que apenas a metade chegue a um centro de tratamento especializado e tenha atendimento adequado.

A aparente vulgaridade dos sintomas é outro fator a ser considerado. Vários dos sinais que indicam um câncer infantil, como letargia, manchas pelo corpo, febre, vômitos constantes e dificuldade de concentração podem ser facilmente confundidos com problemas de pouca gravidade pelas famílias, pelos professores e pelos médicos. "Algumas crianças são encaminhadas para consultórios de psicologia para tratar distúrbios de atenção, quando na verdade sofrem de tumores cerebrais", conta dr. Luiz Fernando em sua exposição. Linfomas ocasionalmente são confundidos com inflamações e enfermidades passageiras, e a criança demora a ser encaminhada para um especialista.

Há ainda a desatualização de alguns profissionais. Dr. Luiz Fernando recorda na palestra um caso que atendeu anos atrás, quando foi procurado por uma mãe cuja filha tinha um tumor nos olhos. A mulher fora aconselhada por um médico a nem tentar um tratamento, pois a doença não permitiria. Obstinada, a mulher foi ao Hospital do Câncer, onde foi descoberto um linfoma não-Hodgkin que, naquele caso, tinha 100% de chance de cura.

Uma tarefa de todos

E como atenuar o problema da difícil detecção do câncer na criança? Dr. Luiz Fernando acredita que a empreitada abarca ações e posicionamentos diversos. No que se refere aos profissionais da saúde, a alternativa é educar. "Batalhar pela inclusão da disciplina oncologia nos programas universitários, dar mais aulas em faculdades e fornecer constantemente informações a respeito", afirma ele. Há a percepção de que, nos lugares onde se ensina sobre câncer infantil, as crianças chegam mais rápido aos centros de tratamento. Uma rede mais integrada de saúde também faria grande diferença.

O diagnóstico precisa também ser entendido como responsabilidade de todos que se envolvem com a criança: médicos, pais, familiares, professores, dentistas, psicólogos... É preciso criar mecanismos e campanhas de divulgação da doença direcionados para a comunidade e que não sejam pontuais, mas sim feitos de maneira contínua e integrada. "É preciso 'assustar' mais a população e mostrar que o câncer infantil existe", diz dr. Luiz Fernando. "A receptividade que temos tanto em congressos médicos como em APMs é boa, falta apenas alguém que fique lembrando!".

O esforço empreendido normalmente tem bom retorno. As ultimas três décadas assistiram a um progresso considerável da ciência e ao surgimento de novas e eficientes opções de tratamento. Se nos anos 50 praticamente a metade dos pacientes infantis de leucemia morria até seis meses após iniciar o tratamento, atualmente a doença ostenta índices de cura e sobrevivência que podem ultrapassar os 80%. Nas leucemias mais leves, de baixo risco, a possibilidade de cura gira em torno de 80% e 90%. Nas leucemias agudas, de alto risco, a porcentagem de pacientes curados é de 60%. Para dr. Luiz Fernando, "o pediatra oncologista é inquieto por natureza, nunca está satisfeito com o que tem. É essa busca que leva aos melhores resultados".


Se Raul Mourão conseguirá ou não inserir o seu "Lula de Pelúcia" (em exposição na Galeria Lurixs, no Rio de Janeiro, a partir de 20/11/2005, e tema de ensaio de Marcos Augusto Gonçalves, Revista Bravo! Edição 98) no mercado de Arte não é o mais importante. A simbologia fala per se. Caso não o faça, uma alternativa comercialmente viável seria a venda dos fofos bonequinhos durante a Páscoa de 2006. Não faltarão clientes dispostos a malhar uma nova espécie de Judas...


Blog EntryOde aos FractaisNov 11, '05 12:00 PM
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Ode aos Fractais

No cerne da análise estatística existe um elemento-chave para o estudo de qualquer associação: chama-se Teste de Hipóteses. Não basta demonstrar que uma associação é factível (hipótese alternativa), mas também provar que esta associação não ocorreu ao acaso, por mera coincidência (hipótese nula).

Encontrar pessoas, por exemplo, é apostar na veracidade do sentimento que elas porventura nos ocasionam. Em conseqüência, iniciamos relações julgando que “os outros” sentem o mesmo que nós, ou pelo menos sentimentos correlatos. Cada nova relação é novo remédio, tentativa de provar que, à parte escolhas erradas anteriores, podemos acertar. E por isso sonhamos, queremos, fazemos. Cremos ter nas mãos o Livro do Destino, com maiúsculas; cremos escrevê-lo, quando na verdade talvez sejamos apenas personagens, ou, se muito, leitores esforçados. Mas colocamos nossas vidas nas mãos desta hipótese alternativa, acreditamos piamente que “tudo está interligado”, que “o acaso não existe”, que “nem um fio de cabelo jamais cairá de nossas cabeças se Deus Pai não o permitir” e quetais.

Digressiono: e se tudo for por acaso? Se em vez de Destino, formos governados pelo Caos puro e simples? Seria assim tão ruim? Ou, por outro lado, será que não haveria nada de bom e aproveitável? Por exemplo, quantos esforços seriam economizados, quanto sofrimento minimizado, quantos desencontros evitados?

Se em vez de sermos, pontualmente, um para o outro, “a pessoa certa na hora errada”, ou “a pessoa errada na hora certa” – como tantas vezes em nossa vida pensamos a respeito de alguém - fossemos todos e em cada momento, tão somente átomos conscientes, humildemente governados por abstrações físicas (“leis”?) que jamais chegaremos a entender? Seremos nós, unidades humanas, tão diferentes assim do restante do Universo? Por que ansiamos tanto por explicações, soluções, respostas, interações e despedidas? Será que não perdemos nesta eterna busca de sentido, quando o Universo inteiro ao nosso redor é uma estonteante ode à diversidade e ao caos?

Munidos então por um “novo” empirismo, talvez enxergássemos fractais coloridos invadindo nosso planeta, deixando marcas definitivas em nossas vidas, em nosso habitat e em nossa cultura. A hipótese nula venceria. Livres enfim, poderíamos esperar dos outros o nada que é sensato esperar, recebendo com ainda mais fervor cada bem-querer, cada apreço, cada gostar – como elétrons que se chocam na periferia de nossa estruturas atômicas.

Tudo poderia ser diferente.



Blog EntryCada geração tem o maio de 68 que mereceNov 9, '05 10:41 PM
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Num mundo onde os governos perdem espaço para as megacorporações transnacionais, a ONU vira fantoche frágil frente aos “Multilateral Agreement on Investment”, e as dicotomias nativo-estrangeiro, pobre-rico, branco e “de-cor” estão para lá de estabelecidas, os eventos em Paris e arredores (hoje já talvez, em boa parte da França) dão a tônica do novo século. É o ódio puro e simples, nascido da exclusão social, a se revoltar contra a “ditadura democrática” de um país que, de berço dos ideais de liberdade humana, assemelha-se cada dia mais à América de Bush: preconceituoso, discriminatório, arrogante, prepotente e xenófobo.

Belíssimo e trágico recado para quem imagina que a solução para os problemas do Rio de Janeiro passa pela “mobilização” e/ou “guetização” das favelas. Ao êxodo involuntário das classes mais pobres para a periferia de Paris - enxotadas que foram para as “cidades-dormitório" - bastaram algumas décadas para estabelecer-se a barbárie.



Blog EntryMacro (Depeche Mode, 2005)Nov 8, '05 8:30 PM
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"Overflowing senses

Heightened awareness

I hear my blood flow

I feel its caress

Whispering cosmos

Talking right to me

Unlimited endless

God breathing through me

See the microcosm

In macro vision

Our bodies moving

With pure precision

One universal celebration

One evolution

One creation

Thundering rhythm

Pounding within me

Driving me onwards

Forcing me to see

Clear and enlightening

Right there before me

Brilliantly shining

Intricate beauty

See the microcosm

In macro vision

Our bodies moving

With pure precision

One universal celebration

One evolution

One creation"

(lyrics by Martin L. Gore)

Foto: Fractais



Blog EntryUm olhar sobre o BRock: Pitty e DetonautasNov 1, '05 12:51 AM
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Falar sobre a "moderna música brasileira" (whatever it is) fica muito difícil nesses tempos gordos de troca de arquivos pela web. As gravadoras se retrairam, poucos são os lançamentos, poucas as novidades, tortuosos os caminhos que levam ao disco (como de quebra, ao livro publicado, à visibilidade de qualquer artista). Quanto mais aqueles dedicados a um mercado específico, como é o caso do rock.

Por isso é tão gratificante assistir de camarote ao crescimento de artistas tão díspares e afins a um só tempo, como se observa ao escutar o recente disco da baiana Pitty ("Anacrônico") e o já nem tão recente segundo CD do Detonautas Roque Club.

A primeira aposta no mesmo: melodias simples em levadas algo pesadas, letras que passeiam pelas incertezas de uma adolescência que se já foi deixada para trás pela própria, deve ter sido avivada pelos meses e meses de estrada divulgando o primeiro e belíssimo CD. Nada como a estrada para uma banda de rock, que nos traz um mesmo com cara de novo, de avanço; e lá pela metade da audição já estamos contagiados por uma Pitty mais madura, introspectiva e cerebral, por um som mais cru, elaborado, pesado e soturno que dantes. Para ouvir muitas vezes, até purgar do cérebro para a epiderme. Pena que perdi o show.

Já os meninos do Detonautas estão em turnê com seu segundo disco "Roque Marciano" (2004), uma bem dosada mistura de roquinhos básicos (como os do CD de estréia) e títulos mais pungentes e cheios de punch, como a singela porrada sonora de "O Dia que não Terminou" (emulando um Linkin' Park à brasileira), ou o "bootleg-fake" da introdução de "Com Você", minhas favoritas. A voz de Tico Santa Cruz ainda incomoda um pouco em seus agudos, mas se vê claramente a evolução harmônica e melódica de seu canto. Quanto às letras, a mesma melancolia (mal) disfarçada em uma mescla de niilismo e bom-mocismo que por vezes estragam um pouco o disco da baianinha também, mas que tem calado fundo numa geração que ainda não encontrou seu(s) porta-voz(es).

Enfim, dois belos representantes do Rock Brasileiro (e sobreviventes da peneira implacável das gravadoras) que honram com seus segundo discos à oportunidade e a sorte, mostrando que quem não tem competência não se estabelece e que um raio não pode cair duas vezes num mesmo lugar, trzendo alívio a velhos ouvidos roqueiros cansados de tanta monotonia oitentista em eterno repeteco.



Blog Entry10 escritores prediletosOct 31, '05 1:02 PM
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Bem, aqui não cabem coisas do tipo "os 10 maiores"... Isto é para quem leu pouco (ou não gosta de literatura)... Por isso, apenas vou deixando, na maciota, dez predileções e algumas digressões:

1. Francis Scott Fitzgerald

2. Edgar Allan Poe

3. J.R.R. Tolkien

4. Neil Gaiman

5. Monteiro Lobato

6. Victor Hugo

7. Jorge Luis Borges

8. Paul Auster

9. Gabriel Garcia Marquez

10. Umberto Eco

Hors-Concours Geral (se estes entrassem na lista, não haveria lista):

Homero

William Shakespeare

Anthon Tchekov

Dante Alighieri

Mishima

San Juan de La Cruz

Cervantes

H. P Lovecraft

Hors-Concours (one-book shot - talvez dois):

Harper Lee ("To Kill a Mockingbird")

Betty Smith ("A Tree Grows in Brooklyn")

Raduan Nassar ("Um Copo de Cólera" e "Lavoura Arcaica")

Elio Gaspari (pela tetralogia sobre "A Ditadura...")

Salomão (pelo "Cântico dos Cânticos", que, afinal, nem se sabe se é dele...)

Eiji Yoshikawa (pelo clássico "Musashi")

Mario Puzo (pelo conjunto da obra, literária e cinematográfica, "The Godfather")

Eric Hobsbawn (por "A Era dos Extremos")

Theodore Zeldin (por "Uma História Íntima da Humanidade")

Hors-Concours (pelo adiantado da hora): Stephen King (só a justa medida do tempo saberá julgá-lo para melhor ou pior).

Autores Brasileiros preferidos: Clarice Lispector, Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto) e Josué Montello

Autor Brasileiro preferido (atualmente): Marcelo Mirisola

Obviamente, como em toda lista, acho q acrescentarei alguma novidade quase todo dia...

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