sexta-feira, 23 de janeiro de 2009





Blog EntryO Mundo da LuaSep 24, '06 12:34 PM
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Dizem que aos nove dias de idade eu estava lá, provavelmente cheio de roupas na noite fria de julho, “assistindo” com o resto da família a chegada do homem à Lua. Naquela noite especial, reuniram-se todos em minha casa à beira da TV; e os acontecimentos daquela noite, de tão repetidos, formaram uma imagem absolutamente clara na memória. Que não pode ser minha.

De qualquer forma, como posso esquecer se nem me lembro? Há fatos que não parecem ter acontecido conosco – eu estava mesmo naquela sala, por exemplo, em volta da televisão de perninhas que transmitia em branco e preto um dos maiores prodígios da ciência do século passado, mas lembrar é privilégio de outros.

Ao longo do tempo, viveria e esqueceria muitas outras coisas, afinal, a alienação não ocorre somente nos obscuros primeiros anos da infância. É natural da memória se tornar seletiva, adulteradora, intervencionista – até já houve quem dissesse que é por conta disto que conseguimos conviver com nosso passado.

Damos adeus a quem somos, de instante em instante deixamos de ser, transformamo-nos imperceptivelmente à medida que nosso cérebro inventa seu maior personagem: o eu que lembramos. Discutimos com “ele”, argumentamos, filosofamos e por fim esquecemos de novo, na tentativa nem sempre bem sucedida de viabilizar esta “convivência”.

Há um eu “de dentro” e um eu “de fora”, um eu “meu” e um eu “teu”, um de hoje, um de amanhã e outro de ontem, evanescente. Desnecessário e irrelevante perguntar quem sou.

Pedaços do mundo e de nós ficam para trás, contudo: “sobram” na luta diária. Pedaços de nós discordam da noção que está tudo bem e clamam por compreensão e entendimento. É que na vida, esta tremenda “obra aberta”, as coisas serão sempre e apenas quase todas certas, não o suficiente para nos convencer. Deve ser por isso que gostamos tanto de livros e filmes, pelo menos daqueles em que tudo se encaixa. Torcemos, no fundo, por um fim que não queremos que chegue nunca. Ansiamos por um sentido, e não nos satisfazemos com a noção de que o sentido, se houver, só existe em um plano subjetivo e projetivo, diferente da realidade. Nossa história segue em frente sem dar tratos à bola, afinal é só mais uma história.

O que me faz lembrar que existem outros, ainda, dentro de nós. Eu os encontro por trás de uma nova gíria, nas ruas, nas casas, nos edifícios onde trabalho, nas festas e nos gestos; depois os regurgito e devolvo, com mais ou menos vida, no seio de minhas histórias. Somos marcados, pra bem ou pra mal, por aqueles que conhecemos. Os poucos que nos impressionam sobreviverão, para sempre na memória, imprecisos amálgamas que nunca chegaremos a apreender por inteiro, focados e reais. Há também um “você” de dentro, um “eu” que é seu, a maravilha do “nós”. Sim, pois se não chegamos a nos conhecer de verdade, mutantes que somos, que diremos dos outros, que só sei humanos porque assim aprendi a chamá-los, usualmente tão distantes que estamos uns dos outros.

Olho para trás e me engano, que eu gosto. Digo que o eu de ontem é melhor que este de agora – aquele que cria incondicionalmente no poder levitador das relações humanas. Que cria no Homem, na História e na Ciência, em tantas maiúsculas que já nem me lembro mais. Depois volto a cara com desgosto e admito que minha dose diária e atual de pragmatismo faz-me bem mais feliz.

Acredito ainda no Sonho, esta quimera que nasce da liberdade infinita de nossas almas. E cada vez menos no real, posto que é fátuo, no crescimento individual, posto que é subjetivo, e na experiência, posto que é tão individualista - farol de popa que só presta para iluminar o passado.

Mas este é o “eu” de hoje, passará também. Amanhã nova mistura habitará este corpo, o crente e o descrente eternamente em conflito, da mesma forma o sonhador e o realista, o novo e o velho, eu e você. Um dia terei perfilados todos aqueles que fui, em frente à tela que dirá “fim”. Espero ter tempo para ler os créditos, descobrir quem fazia o papel de quem, o autor daquela música que me tocou tão profundamente lá no começo do filme. E, se Deus quiser, tempo também para tirar o copo de refrigerante e o saco de pipocas da cadeira, levá-los para a lixeira e fechar a conta com um comentário sarcástico a respeito da qualidade do roteiro.




(publicado no caderno ALMANAQUE do jornal o Estado do Paraná hoje, 24 de setembro de 2006)


Blog EntryPessoanaSep 18, '06 6:46 PM
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Há um longo dia pela frente

Outro atrás, outro por vir

E no começo dessas horas da noite,

Empapado de calor e de solidão,

Faço meu relato.

Côo os pensamentos na água quente,

Temperados com um sabonete de Belém.

Ouço vozes, as vozes todas

Que me chegam do inconsciente

Entr'ouvidas no trabalho

E nunca assimiladas

Pois tinha o córtex a raciocinar.

Não lhes dei muita atenção.

O dia é longo, já o disse,

As noites curtas como a vida.

Tenho que ir para rua! Viver!

Viver a vida estranha que levo:

Não sei se ajudo ou se sou pouco.

Ganho pouco, com certeza!

E quase nunca é o que eu consigo.

Fui atrás de muita coisa,

Deixei família e amigos,

Quem sabe até um grande amor.

Hoje vivo solitário, quase sempre, apesar das muitas gentes

Ao redor.

Ouço mais que falo,

E quando falo é como outrem:

Tropeço às palavras,

Desanimo no meio das frases,

Quero voltar a ouvir

Outras histórias

De outras gentes

Que vivem vidas longe daqui.


Calço um boot moderninho

Calça jeans rasgada e camiseta

Vou às novidades.

Vejo filmes,

Leio livros,

Até os escrevo.

Viajo enquanto vivo,

Sozinho,

Cinematograficamente

Pelos rostos das mulheres

- aquelas, com quem nem falo.

Antevejo seus humores a se derramarem

Em beijos de boca entreaberta.

E os odores, frescos todos

Do iogurte de suas frestas

Invisíveis

Donde clamam meu desejo.

Vejo mais, vou ao barbeiro

Tropeço em flores no caminho

E continuo só

Por timidez e preguiça e descontrole.

Certos dias eu acordo e pergunto:

Onde o violonista?

O poeta, o arquivista?

Que foi feito dos desenhos,

Das noitadas, das revistas?

Acordo com um café

E a primeira coisa que tenho que fazer

É uma ressuscitação

Num homem que morreria

Com ou sem mim,

De qualquer maneira.


Blog EntryAnatomiaSep 17, '06 12:44 AM
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Os belos seios de mamilos eretos,

Mamilos convexos que terminam em bicos

Adolescentes

Maravilhosos.

Mamas que inflam a cada inspiração

Desenhando no ar

Traços nervosos

Que não conseguem esconder

O que há detrás da visão.

Andar pela sala do estúdio apinhado

Enxergar flagrantes de ti.

A calma vinda apaga o susto

Da tesão escorrida no meio.

Meu avô certamente aprovaria, ele que nunca pintou nus.


Blog EntryO blog do meu paiSep 14, '06 9:30 PM
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Você realmente acha o Ariel parecido com o Raul?

Sim, pois Raul Seixas não morreu, vive num sítio em Saquarema.
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Sim, é o filho dele.
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Sim, é um clone dele.
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Sim, mas acho ele mais parecido com o Pedro de Lara.
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Sim, mas acho ele mais parecido com o Clovis Bornay.
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Não, é só o cara do carrreto do Hermes. O da obra de caridade.
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Não, parece mais com o José Mayer.
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Não, é uma velhota disfarçada.
1

Não, este cara aí não é o Ariel, é o Serguei, aquele cantor de rock, lá de Saquarema.
1

Não mesmo.
0

"Oi,

Ontem fui à Ponta Grossa com meu irmão pra tratarmos

de negócios. A tarde foi corrida e em um momento tivemos

que ir ao Banco do Brasil. Meu irmão foi gerente e superinten-

dente do banco por mtos anos, aí que ele conhece todo mundo

por lá. Entramos e solicitamos o que precisavamos e vinham

então os conhecidos pra conversar. Até que vieram em núme-

ro maior, pra, diziam eles e elas, solicitar autógrafos para o

Raul Seixas, de vez que ele não morreu. O maior sarro pra cima

de mim. Rsrsrsssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss.

E mais, outra noite no Hermes olhando pra uma moça em uma

mesa na frente da banda pude perceber pela leitura labial, que ficou

evidente, ela mostrando pras amigas que o Raul Seixas estava

no bar. E pra terminar a narrativa, conto que um dia eu estava no Rio

de Janeiro visitando meu filho, e à tarde na praia de Copacabana,

sentadão na areia curtindo um monte, de repente eu ouvi a voz

de um vendedor de sorvete ou outra coisa qualquer, e que vendia

cantando em alto e bom som, começar a entoar uma canção

em que dizia: Raul Seixas não morreu. E olhando pra mim saiu

gritando pra todo mundo: está aqui!!!!!! Ele não morreu, não!!!!!

Raul Seixas não morreu, ele está aqui!!!!! E apontava pra mim...

Chamando a atenção de todos...Livrar-se dele foi um custo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

O pior é que se o Raul não fosse tão feio, ainda vá lá. Mas é pra caral...

Quer dizer: tô ralado!!! Ou mudo o visual...

Então, antes que eu mude avaliem com os anexos se pareço mesmo.

Um beijão.

Ariel"




Blog EntryFeedbackSep 13, '06 12:31 AM
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É estranho ver que

Às vezes

As coisas mudam.

E que, quando

No meio da estrada

Há o desterro do pique

E faz-se a calma,

Meramente se espera

Da free way desvairada

Nova explosão


É estranho ver que

Às vezes

As coisas ficam.

Só mesmo para

Além da explosão

Mostrarem força,

Poder.


Coisas que sobram no meio das cinzas

Resistindo, ferindo, insistindo,

Contando que o mundo

É só retroação.


Contando que a fuga,

Abstrata explosão

Tem poder limitado

- Flash curto, doce ilusão

Que nem tudo que explode

É lixo

Que nem tudo que

Sobrevive é tesão

Que nem toda fuga

Nos livra, afinal,

Do passado sombrio.


Blog EntryBerceuseSep 10, '06 9:33 PM
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“... me emociono com aquele andar gravídico dela. Ela acha que não, que ali não está mais a mulher-gata que eu conheci anos atrás, que está gorda e blá-blá-blá – aquele papo de muié buchuda, sabe?” ( “O Diário”, Hermen Brederode, 1875)

O que elas não entendem é que quando o homem elege uma mulher para ser a mãe de seu filho, a princípio ele pode escolher. E que escolha difícil hoje em dia, hein?

“A moçada tá no cio, são donos da madrugada” cantava Guilherme Arantes ...humm... uns vinte anos atrás, lembram? A gente achava que éramos nós, os homens... Hoje em dia, os dois sexos se igualam na busca. Fidelidade é termo que não pode existir nessa mistura de liberalidade e imediatismo.

Escolher, então, a tal “mãe” passa pelo processo de escolher... uma namorada, certo? Se vocês passaram por um processo de namoro e conhecimento mútuo e depois juntaram os trapinhos, e se mais tarde se encontraram ainda miraculosamente juntos, um filho é conseqüência natural do instinto gregário do Homem. Juntar a si a prole é tarefa divina e “di vida” (como diriam os cariocas). “Eles estão criando um bebê, agora, pelo menos há uma coisa que Deus permite”, cantava Tracey Thorn, do grupo-casal Everything But The Girl.

Por isso quando olho pra choquinha meu coração dispara, pela beleza estampada naquela barriga, pela promessa da Vida em seguir seu rumo.

Temos filhos para que alguém se preocupe em contar nossas histórias. Temos pouco a deixar: memórias de infância, impressas em papel fotográfico, cada vez mais nítidas à medida que se caminha para a maturidade; sabores da cozinha, alguns livros talvez, se pudermos conservar. Velhas fotografias que se amarelam nos álbuns medíocres das décadas passadas e algumas histórias. Só.

E temos a deixar o exemplo do nosso amor. Somos humanos, não procriamos como o gado. Somos racionais, não podemos ter filhos por instinto. Se escolhermos a tal garota, enfim, e virmos tudo dar certinho em frente aos seus olhos, por que não poderemos planejar, preparar, produzir e esperar o melhor de todos os frutos?

Ser “pais” é curtir o cheirinho de manteiga do bebê em seu colo, não ligar de trocar fralda, falar com eles (e ser entendido e replicado) antes mesmo do advento da fala. Ser “pais” é fazer isso junto com a tua gata, curtindo cada momento, porque são poucos (por milhares que sejam) e passam rápido. E não se esqueça: mulher bonita sempre tem alguém pegando. Compareça bem em casa ou perde a namorada.

Ser só “papai”, ao contrário do que possa parecer, tem suas vantagens. Tipo se sentar no escritório olhando pra ela na sala e pensar “entulhei a rechonchudinha”, hehe. Tipo não ser seu o peito que vai amamentar na madrugada. Ou não ter sido você a carregar mais de dez quilos no lombo. É claro que você tem obrigações (além da principal, citada acima), não me perguntem quais. Todas as que você imaginar, tá ligado? Pai não tem feriado, nisso é igual à mamãe.

Que venha o cara! (Aliás, só faço filho homem, antes que me perguntem).



(texto publicado no caderno ALMANAQUE do jornal "O Estado do Paraná" em 10 de setembro de 2006)



“Então eu escuto o vento para predizer o dia vindouro

Deixando todo tipo de expectativa para o homem do tempo

Não, realmente não importa o que ele tem a dizer

Porque o amanhã continua soprando de algum lugar”

(Bic Runga, “Listening for the Weather, tradução livre)

“E no entanto o ka vem a mim, vem de mim, eu o traduzo e o faço traduzir; o ka flui do meu umbigo como uma fita. Não sou o ka, não sou a fita, trata-se apenas do que flui através de mim e eu o odeio, eu o odeio!”

(Stephen King, “Canção de Susannah”, © 2006 Editora Objetiva, Tradução de Mário Molina)


Durante longos anos, as canções de Stephen King ecoaram numa América principalmente suburbana, “middle-class”, leitora voraz de "pulp fiction", imersa numa sociedade onde a literatura é profissão, e os livros, consumo. Os críticos, avessos à facilidade com que King produzia "best-sellers" de terror e mistério, demorou a perceber o talento que se lapidava em frente às teclas, ano após ano.

Os filmes baseados em suas primeiras histórias eram um pouco pipoca demais para a inteligência americana, o que contribuiu para relegar o autor ao segundo planos dos grandes vendedores. Foi só com “Conta Comigo”, "Louca Obsessão” e “Um Sonho de Liberdade” (filmes densos e bem resolvidos) que as histórias simples e maravilhosamente humanas de King passaram a ocupar o destaque que sempre mereceram, abrindo as portas para uma multidão de leitores “cultos” mundo afora se preocuparem com seus escritos.

No meio disso tudo, “A Torre Negra”. Sim, pois a julgar pela forma como o autor se transmuta em personagem no sexto tomo da série, “Canção de Susannah”, ATN não é somente uma história – uma graaande história, vá lá – mas parte da vida de Stephen como jamais se poderia supor. E Roland Deschain, talvez um pouco mais que um personagem: talvez um co-autor.

Depois de um começo um tanto confuso, o livro toma fôlego ao decifrar antigos enigmas enquanto acompanha as jornadas de père Calahan e Jake por um lado e Susannah e Mia de outro – enquanto Eddie e Roland estão, é claro, escarafunchando a mente, a casa e os escritos de Deus.

SK não inova, distorce; não fecha, abre portas; não destroi, constrói; não plagia, cita; não repete, insere. Seu romance (e a série) refletem a angústia do devorador de lixo, tão comum na América quanto desconhecido por estas bandas, que, na impossibilidade de sentir o gosto das coisas, tenta pelo menos triá-las. Seu regurgitar, emotivo e cerebral, mexe com nossas lembranças e crenças. Sua violência, outrora crua, trepana agora nossas mentes com seu raciocínio implacável. Já não se procupa mais com as pontas soltas: amarra o que tem que o tempo da âncora vem aí.

King aparentemente precisou morrer para escrever os novos livros da série (pelo menos por um momento, em 19 de junho de 1999). Nada mais natural para esta fabulosa história que mistura tudo de bom e de ruim que a sociedade americana engoliu nas últimas décadas. Esperemos encontrá-lo na última planície. Enquanto isso, continuemos a andar na Via do Casco da Tartaruga.

“Uga”, diria Oi.

Ou a voz doce de Bic Runga:

“Estou certo de que

Enquanto eu escrevo

Você estará em algum lugar

Em seu caminho”



Art by Darrel Anderson



Leia mais sobre a série no blog:

Medo num punhado de pó OU Impressões a respeito da série "A TORRE NEGRA" de Stephen King

"MAGO E VIDRO" ("The Dark Tower IV: Wizard and Glass"

"Wolves of Calla" / "Lobos de Calla" - unindo as pontas do maior épico do Século XXI


Blog EntrySobre o Direito de Ser PaiAug 27, '06 10:52 AM
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A resolução de ter um filho nestes loucos dias em que vivemos não é fácil.

Não que outros tempos, menos confortáveis, democráticos e/ou violentos fossem evidentemente mais propícios à procriação humana, não. Deixamos para trás fantasmas como as altas taxas de mortalidade infantil, doenças infecto-contagiosas que dizimaram ou marcaram como inúteis gerações inteiras (a poliomielite como exemplo máximo), combatemos a exploração do trabalho infantil, aumentamos os níveis de escolaridade virtualmente em todo o mundo. (Não, é claro que não estou falando da África ou de nossas favelas).

Fomos agraciados com outros vilões, porém. A violência outrora típica das cidades grandes espalhando-se pelo interior, o vício das drogas - cada vez mais facilmente disponíveis para os adolescentes, as mortes no trânsito, os cartões de crédito que prometem uma felicidade consumista e espontânea com o único intuito de recrutar novos inadimplentes como prisioneiros da malha de exploração econômica do “novo” capitalismo, a destruição das famílias com a vulgarização do casamento e do divórcio.

Destes, considero os dois últimos os piores. Não que eu seja contra uniões estáveis – pelo amor de Deus, se o fosse, não estaria vivendo com alguém que amo e respeito. Nem sou contrário ao estabelecimento do divórcio como solução para más escolhas. Muito menos a favor das famílias de mentirinha em que boa parte de nós fomos criados, mantidas a custo de manobras extraordinárias cuja intenção era tão somente garantir a sobrevida de casamentos fracassados “até que os filhos fossem adultos”.

Acredito sim que uma relação sólida e sadia entre dois humanos viventes, quando é do desejo de ambos que esta dure mais que uma “ficada” ou um namoro, possa ser o que de mais belo experimentaremos neste mundo de dificuldades financeiras, profissionais e psicológicas.

Acredito também, contudo, que nossa sociedade não está preparada, nem do ponto de vista micropolítico, nem do ponto de vista legal, a fornecer suporte adequado às famílias desfeitas. Vivemos ainda numa era patriarcal-matriarcal, em que ao pai cabe o sustento e à mãe, a criação dos filhos. Isto fica evidente quando se trata de disputas no âmbito judicial, uma vez que o Novo Código Civil não nos agraciou com as mudanças que se fazem necessário para atender a mulher moderna, o pai responsável e a atual família brasileira. A Guarda dos filhos continua sendo monoparental, da mesma forma que no antigo Código Civil (1916), hoje quase centenário.

Disso resultam problemas graves que atingem um número cada vez maior de crianças e principalmente progenitores do sexo masculino – uma vez que, no Brasil, em 91% dos casos a guarda de filhos menores recai sobre a mãe. Como decisões favoráveis à guarda compartilhada são ainda raras em nosso sistema judiciário, estes pais vêem suas funções resumidas às de “pai provedor” e “pai visitador”, quebrando-se laços que deveriam ser protegidos por lei (entre a prole e o pai) e instaurando-se problemas variados de convivência entre as duas porções da família desfeita – o mais grave deles a Síndrome de Alienação Parental.

Esta Síndrome, descrita por definida pela primeira vez em 1985 pelo Prof. Dr. Richard A. Gardner, Professor de Psiquiatria Infantil da Universidade da Columbia (EUA), é “o denegrir sistemático de um progenitor pelo outro, com o intuito de alienar a criança do convívio do primeiro”.

Pais que sofrem este tipo de abuso experimentam sensações de perda, tendência à depressão e/ou agressão.

Filhos que sofrem privação de convívio com um dos progenitores são mais propensos a distúrbios psicológicos. A ligação entre a criança e o pai alienado estará irremediavelmente destruída e, com efeito, não poderá ser restabelecida sem que se passe um hiato de alguns anos. O pai alienado passa a ser um estranho para a criança, e seu modelo psicológico passa a ser o do outro progenitor, que detém a guarda e instaura o processo, por apresentar-se mal-adaptado à separação/divórcio e reagir a esta de forma disfuncional.

Uma conjunção de fatores (pai alienado do convívio mais modelo familiar incompleto e patológico) parece ser causa de inúmeros problemas psiquiátricos para a prole, como a depressão crônica, a incapacidade de “funcionar” dentro de um contexto psicossocial normal, problemas de construção da identidade, desespero, sentimentos incontroláveis de culpa, tendência à desorganização, sentimentos de isolamento, podendo chegar até ao desenvolvimento de neuroses específicas como a Síndrome de Ansiedade Generalizada e a Síndrome de Hiperatividade da Infância. Na juventude e idade adulta, há correlação estatisticamente significativa, nos (poucos) trabalhos existentes sobre o assunto, a uma maior propensão ao tabagismo, à drogadicção, ao alcoolismo, à criminalidade e a tendências suicidas.

A Síndrome de Alienação Parental pode e deve ser incluída como uma forma de abuso à infância. Seus efeitos não são somente temporários, mas podem acarretar problemas psicológicos, psiquiátricos e sociais pelo restante da vida do indivíduo.

Estados americanos como Califórnia, Texas e Pensilvânia já possuem jurisprudência sobre o assunto, cada vez mais discutido nos foros legal e científico. Já a União Européia vem discutindo desde 1992, quando um tribunal alemão recusou-se a permitir o direito de visitação de um pai a seu filho fora dos horários pré-estabelecidos, uma vez que o filho se recusava a vê-lo. O tribunal instruiu que estas visitas fossem realizadas somente com o acompanhamento da mãe e de um psicoterapeuta de sua escolha. Esgotados todas as possibilidades de apelação, e ainda impossibilitado de conviver com seu filho, este pai dirigiu-se à Corte Européia de Direitos Humanos demandando justiça e reparação contra a Justiça alemã. Ele invocou o Artigo 8 da Convenção dos Direitos Humanos que diz que “toda pessoa tem direito à sua vida (...) e família (...)” e que “a autoridade pública que exerce o direito previsto pela lei deve estabelecer medidas que, dentro de uma sociedade democrática, visem preservar a saúde ou a moral, ou a proteção dos direitos e liberdades dos outros(...)” Neste caso, conhecido como “o caso Elsholz” a Corte Européia deu razão ao querelante e condenou o estado alemão a pagar 47600 marcos à título de reparação moral. Desde então, a Alemanha incluiu medidas preventivas e punitivas em relação à Síndrome de Alienação Parental em seu Código Civil.

Isto mostra que, independente das leis nacionais, o interesse superior da criança inclui o acesso fundamental ao convívio com seus dois pais.

Estudos multidisciplinares vêm estabelecendo subdivisões da Síndrome baseadas em características psicossociais das famílias e gravidade dos sintomas apresentados pela(s) criança(s) envolvida(s). O tratamento é multimodal e deve incluir dois braços principais: jurídico (responsável pelo atendimento legal ao progenitor alienado, pela indicação de um terapeuta único que trate em conjunto a ambos os ex-cônjuges e a prole) e médico-assistencial (que forneça o “feedback” necessário para a Corte instituir as medidas cabíveis quando necessário, que podem resultar até mesmo em troca da guarda nos casos mais graves).

É. A resolução de ter um filho nestes loucos dias em que vivemos não é fácil. A possibilidade de poder conviver com eles ao longo de sua própria vida, e ao longo da infância deles, está sendo severamente ameaçada neste país. Contamos com leis arcaicas, pouco ou nada alteradas com o advento do novo Código Civil, e com uma estrutura judiciária tão lenta quanto ideológica e cientificamente atrasada. A mesma Justiça que é ágil ao conceder mandados de prisão para pais inadimplentes com o sacrossanto direito filial à pensão alimentícia, pouco ou nada consegue fazer para assegurar aos cônjuges que não detém a guarda o direito de visitação, quando este lhes é usurpado.

A CID (“Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde”, editada pela Organização Mundial de Saúde, órgão da ONU) deverá incluir a Síndrome de Alienação Parental em sua próxima versão, a de número 11. Como o Ministério da Saúde brasileiro a adota, esperemos que a existência do problema passe a ser melhor divulgada e estudada em nosso país.


(Artigo Publicado no jornal "O Estado do Paraná" em 28 de agosto de 2006).


Blog EntryEm defesa de Monteiro LobatoAug 16, '06 12:29 AM
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Em defesa de Monteiro Lobato, Marcos Rey e Maria José Dupré, entre outros, tenho a dizer que os li. Aliás, os devorei.

Troquei os quadrinhos pela saga do Sítio aos sete anos, à espera da estréia do programa na tevê, incentivado por minha mãe. Ia lendo e assistindo aos programas, e em dois ou três anos li toda a obra de Lobato. Incluso “O Presidente negro” e outros livros adultos.

Aí conheci a coleção da Ática – a Série Vaga-Lume, e me encantei com as histórias de Dupré e Reys. “A Ilha Perdida” foi alvo de uma dúzia de releituras, deixando o menino que eu era fascinado com aquela vida de mato, acampamentos e rios. Sem contar as tramas policiais de Reys, que me levaram ao noir americano e ao Sherlock de Doyle.

Li “As Aventuras de Tom Sawyer” e o “Huckleberry Finn” por indicação do Maurinho Facci, o mesmo primo que me emprestou inúmeros Júlio Verne. Na Biblioteca li os que faltava, numas edições portuguesas da década de dez. “Elles” eram livros fascinantes.

“Os Miseráveis”, de Victor Hugo, Asimov e Bradbury, Clarke e Poe, Wilde e Fitzgerald e Gaiman. Não esqueci o recheio de tantos nomes. São apenas inúmeros. Lia até bula de remédio e dicionário.

Mas Monteiro Lobato sempre volta à baila. É autor do porte de um Tolkien, de um Disney, apenas mal administrado pelos herdeiros. Não deveriam jamais ter permitido o massacre da obra de ML no primeiro ano da “nova versão” televisiva do Sítio, que adaptou TODOS os livros a toque de caixa, e agora patina entre tecnologices, xuxices e modernidades infames.

Fala-se por aí que o ML é leitura difícil para as crianças a que se destinam, que antigamente as crianças eram mais cultas. Discordo. Éramos apenas mais lidos. Leiam, crianças. E escutem a trilha sonora, recém-relançada em CD, da versão dos anos setenta. “E os orixás que nos acudam, que nos valham nesta hora”. Hehe.



Blog EntryNomadismo ModernoAug 13, '06 2:36 PM
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Nomadismo Moderno

A sociedade contemporânea, construída através dos milênios sobre os fundamentos da posse e da territorialidade, praticamente pôs fim ao nomadismo – entendido como o modo de vida em que pequenos ou grandes grupos humanos transferiam suas moradas sazonalmente em busca de melhores caça, pesca, coleta e - posteriormente – terrenos férteis para a agricultura. O período dos grandes fluxos migratórios, durante os quais o Brasil e os EUA se transformaram em grandes caldeirões culturais que os definiram como nações, também vai longe. Entretanto a assim chamada “globalização”, a facilidade de comunicação imediata com outras culturas e povos através da internet e as necessidades profissionais de mercados cada vez mais internacionais têm favorecido não só migrações internas e externas, como novas formas de inserção social multidomiciliar.

No Brasil, fechados ciclos importantes como o êxodo rural, a imigração nordestina (especialmente para São Paulo e Rio de Janeiro) e as estratégias de povoamento incentivadas pelo Governo (como nos casos de Rondônia e Tocantins), é cada vez mais comum uma nova espécie de “nomadismo” familiar, movido pela busca de melhores condições de trabalho ou qualidade de vida. Com isso, cidades de porte médio têm visto suas populações crescerem não só na medida esperada pela reprodução de seus cidadãos, mas também pelo afluxo de novos moradores oriundos das metrópoles.

Curitiba é o exemplo histórico, onde as políticas de inserção social da Prefeitura na década de noventa acabaram levando à supervalorização de expectativas de trabalho e segurança. Com isso, a cidade transformou-se, de pacata e provinciana que era, na megalópole violenta e suburbana de hoje. Não adianta: o número de miseráveis é tão grande em nosso país que supera qualquer tentativa de assentamento, seja ele rural ou urbano. Num gesto em princípio humanitário, a prefeitura de Curitiba saneava e dava feições de bairro às favelas nascentes. O resultado a médio e longo prazo foi a contundente favelização da capital.

Hoje isto se repete: são as cidades de porte médio, principalmente as situadas no Sul e Sudeste, que atraem não só a massa de miseráveis que vêm em busca de seu Eldorado, como também os cidadãos de classe média em busca de tranqüilidade para trabalhar e viver.

Viver na Ponte-Aérea (Rio-SP, Brasília-BH, etc.), virou rotina na vida de muitos profissionais, que por vezes até mantêm dois domicílios. Buscar trabalho nas periferias, em especial para os profissionais da área de saúde, tem sido crucial no estabelecimento de uma relação sadia entre populações e Governo. E as cidades-dormitório proliferam, em torno de São Paulo, BH e Porto Alegre, entre outras cidades brasileiras. Sem contar o papel protetor e civilizatório que o Exército Brasileiro vem cumprindo há décadas na Região Norte.

Sendo um país já unificado pela televisão há mais de trinta anos, o Brasil vem demonstrando ser terreno mais que propício para a proliferação de atividades pela rede mundial de computadores. Namoros iniciados via internet impulsionam as vendas do setor de vôos domésticos. Empregos “virtuais” já são abundantes nas mais variadas áreas do conhecimento científico; a web substitui a visita real de imóveis, ajudando a selecionar aqueles que realmente interessam. A importação e exportação entre os estados tende a crescer, levando à valorização e aumento da produção de itens típicos de cada região – na indústria e no agro negócio. As diferenças entre leis e impostos, que variam de estado para estado, estimulam o livre comércio entre as unidades da Federação.

É claro que nem tudo são flores, que às facilidades de comunicação e locomoção atuais – que permitem estes fluxos comerciais, sem falar dos turísticos, entre as várias regiões do Brasil e do mundo – unem-se também as dificuldades imensas que os brasileiros encontram para exercer plenamente sua cidadania. A emigração nasce das dificuldades existentes na terra natal (alto custo de vida, desemprego, violência) e desemboca numa certa alienação cultural para alguns, na segregação para outros (vide o exemplo das favelas das grandes cidades) e em muitos sonhos frustrados. Mas há os que vencem, os que conseguem abraçar cidades como suas, os que jamais voltariam à sua origem. E há aqueles que já podem se considerar cidadãos do mundo, mesmo nascidos em nossa (ainda) distante e misteriosa província.

Descobri recentemente que toda esta burocracia que envolve fronteiras, passaportes e leis de imigração é extremamente recente: é reflexo dos traumas da Primeira Grande Guerra e dos traumas raciais e econômicos que se seguiram. Antes havia fronteiras mais fluidas e o deslocamento das forças de trabalho era comum na Europa do Século XIX. Engolimos como novidades, travestidas de tecnologia, eventos comuns a esta aldeia que sempre foi “global” - apenas repetimos, ignorantes, passos que já foram comuns aos nossos antepassados.


(texto publicado no caderno "Almanaque" do jornal "O Estado do Paraná" em 13 de agosto de 2006)


Blog EntryA questão árabeJul 30, '06 10:17 PM
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Incômoda coincidência: comover-me às lágrimas com “Holocausto, uma história” (Dwork & van Pelt, Imago, 2004), contundente relato da ruína judia sob assassínio nazista ao mesmo tempo em que volto para o meu Paraná devastado, em que famílias árabes pranteiam a morte de seus filhos sob jugo israelense.

Uma guerra racial, eis enfim o que estamos vendo. E como podem sionistas repetirem o erro alemão sobre um povo mais fraco? A questão Palestina é clara: uma vez confirmada a impossibilidade de dois povos conviverem no mesmo espaço físico, o país deve ser separado para evitar confrontos.

O que me espanta é a semelhança histórica entre alguns relatos. Há mais de uma década, uma amiga de origem libanesa me contou sobre a morte de seu irmão em Beirute e quase todos os outros presentes duvidaram. Contou que os israelenses jogavam seus tanques sobre famílias inteiras, bombas em áreas residenciais e promoviam linchamentos e estupros em massa. Só eu permiti-me sequer o benefício da dúvida..

Ao longo de todo o período nazista os judeus foram esmagados silenciosamente, enquanto vários relatos – da imprensa ou das autoridades – chegavam aos altos escalões dos governos aliados. Ninguém acreditou em tamanha crueldade, e continuaram em suas posições estáticas sobre o massacre étnico.

Israel é uma nação que jamais deveria ir à guerra. Seu povo sofreu demais ao longo dos séculos. Poderia procurar, em seu relacionamento com os irmãos muçulmanos, os milhares de pontos de contato entre duas culturas tão semelhantes, que comungam da mesma origem ancestral, todos Filhos de Abraão. Poderia relembrar o morticídio da Segunda Grande Guerra e permitir o perdão mútuo dos excessos.

O Governo Brasileiro, através de sua tradicional diplomacia extrovertida, pode e deve mediar esta questão. A extradição imediata de todos os cidadãos brasileiros residentes no país atacado e o oferecimento deste Estado como mediador no processo colocaria em foco toda uma comunidade descendente de imigrantes que vem contribuindo – aliás, como a comunidade judia – com o progresso e o bem-estar do Brasil e merece ser protegida.

Neste ano meu misto de holandês-alemão-russo-português, mulato e índio – sim, apesar da pele alva e dos olhos verdes - com uma judia-húngara-alemã-portuguesa carioca virá ao mundo. A família dela foi dizimada na Hungria; à minha pertenceu o artista plástico paranaense Kurt Boiger, preso pelo Estado Novo como nazista em Ilha Grande por quatro anos. Minha esposa existe porque uns poucos foram poupados. Eu, porque minha avó, mocinha, filha de alemães, levava comida para a pobre holandesinha cujo marido estava preso há tanto tempo que nem conhecera o filho mais novo. Lá conheceu seu futuro marido, meu avô.

Em face dos recentes acontecimentos no Líbano e do repetir de velhas guerras, só espero que meu filho viva num mundo sem rótulos, onde todos saibam a boa-nova há tanto tempo anunciada pela Ciência: só existe uma raça, a humana.

(com a colaboração de Marcelo Catarino)

Publicado no caderno "Almanaque" do jornal "O Estado do Paraná" em 30 de julho de 2006.



Blog EntrySão crianças como vocêJul 12, '06 9:53 PM
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“O que você vai ser quando crescer” é frase que permeia a infância de qualquer ser humano, desencadeando sonhos e respostas rápidas, que duram tanto quanto paixões adolescentes.

Há alguns anos, o filósofo Olavo de Carvalho dizia-se desiludido com a forma como sua geração - a de FHC - ocupara e desempenhara seu papel no governo do País. Acredito que, como ele, haja muitos cinqüentões bastante entristecidos com o rumo que o governo do PT tomou, deixando-nos (a todos) com uma grande ressaca cívica, oriunda da não-realização dos sonhos acalentados pela geração que se tornou adulta durante os anos 70s. Muitos daqueles que a representaram na luta contra a ditadura militar sentam-se agora no banco (dos réus ou da “reserva”), aguardando suas sentenças ou vendendo seu silêncio por aposentadorias milionárias.

Minha própria geração (sou nascido em 1969), salvo exceções, ainda não dirige os caminhos do País - seja na política, na economia ou na cultura. Crescemos sob o terror do silêncio imposto pela maioria dos pais de classe média dos anos 70s, para quem falar de política era “perigoso”. Durante os anos de escola, apesar da influência dos livros didáticos orientados ou censurados pelos militares, creio que a maior parte de nós teve a sorte de encontrar professores que, recém-saídos de um período de grande silêncio, souberam enxergar as imensas mudanças - culturais e sociais - pelas quais o Brasil passou durante a “abertura”, ensinando-nos a pensar como seria um novo País. Já na faculdade, porém, desencantamo-nos ao ver que toda atividade política se resumia a tomar parte (ou não) de diretórios acadêmicos ou associações invariavelmente partidários, pouco preocupados com o que deveria ser o cerne da formação política do universitário brasileiro: a defesa da própria universidade. Desta forma, coube aos ligeiramente mais novos que nós - os adolescentes “caras-pintadas” - ir às ruas ajudar a cavar a sepultura do marajá das Alagoas, sob nosso olhar desatento.

Mas não, este não é um artigo sobre política. Nem sobre a História recente do País. O que me aflige, beirando os quarenta, é definir o que é ser adulto.

O que talvez nos leve a pensar que sim, estamos falando de História e Política, com maiúsculas; pois de que se tratam os caminhos que ambas percorrem senão da história de indivíduos que um dia sonharam, fizeram por onde e hoje (ou amanhã) ocupam (ou ocuparão) lugares de destaque na sociedade, voltando assim ao tema principal, que é o “tornar-se adulto”?

Lembro-me de avós, meus e de outros contemporâneos, e permito-me perguntar se -desprezadas as diferenças entre gerações, hoje tão diluídas - nós, os vivos e adultos, estamos sabendo viver. Também me permito generalizar a resposta: Não. O que vemos hoje são o despreparo e o desencanto dos jovens, alijados que foram do conceito de “família” pela banalização do divórcio e da reprodução solitária; a competitividade insensata e a solidão dos que lutam pela vida no auge de suas capacidades física e mental; a mercantilização dos objetivos daqueles que logram (ou acham) “ter chegado a algum lugar” através do trabalho ou a banalização da cobiça e da corrupção entre aqueles que ainda tentam; o desamparo e a desilusão daqueles que “trabalharam honestamente a vida inteira e agora não têm mais direito a nada” dos idosos (para citar Renato Russo - como no título deste texto - não por acaso o poeta de mais de uma geração de conterrâneos).

Não mais histórias enobrecedoras de ascensão social pelo trabalho honesto, não mais ídolos que signifiquem alguma ruptura com o status quo, ou encarnem ideais humanitários, não mais caminhos que levem aos nossos objetivos, não mais líderes representativos das várias correntes de pensamento que nossa sociedade produz, não mais intelectuais de formação e cultura vastas.

O que vemos hoje é uma explosão de mediocridade escondida por trás de carreiras técnicas, selos de qualidade (total?), processos de “acreditação” e títulos de valor duvidoso. É a banalização da vulgaridade (como nos programas de televisão), o elogio da criminalidade (como no funk carioca), a idolatrização de estereótipos de fama que não correspondem a absolutamente nada. A derrocada da cultura e da inteligência.

Não sei o que esperar de minha geração. Como cresceremos? Como daremos conta do imenso desafio que será tomar o comando de nossos negócios (e do País) nesses dias de globalização e mudança, se não sinto termos o estofo necessário para dar conta de nossas próprias vidas?

Sinto falta de um manual, escrito pela fria pena de antepassados mais estóicos: aqueles que um dia souberam nos colocar em seus colos e mostrar que a vida era boa, digna de ser vivida e passível de ser digna. Olho em volta e não encontro (quase) ninguém que não se tenha perdido entre o final do outro século e o começo deste. Vejo crianças como eu e você.



(publicado no caderno "Almanaque" do jornal "O Estado do Paraná" em 09 de julho de 2006)


Blog EntryLabirintoJun 26, '06 12:51 PM
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Era tarde na casa de campo e uma complicada operação de troca de telefonemas e roupas deixava minha prima e sua filha assoberbadas; meus tios desdobrados em servir a todos. Eu vestira as vestes de Ghandi e optara pela não violência.

Por fim conciliamos tudo, e a jovem mulher, recém saída da adolescência, pegou carona conosco - toda linda. Mais tarde sairíamos sozinhos, eu e minha prima, ávidos por colocar em dia o papo dos tantos meses que ficamos sem nos encontrar.

Numa dessas viagens de carro entre a chácara e o centro, passamos pela lateral de uma vila quase centenária, pérola da arquitetura pontagrossense, construída em 1926 pelo industrial Alberto Thielen, nomeada em homenagem à sua esposa e ocupada por décadas pela Biblioteca Municipal.

Ali debaixo de suas palmeiras, nas tardes frias de minha cidade infantil, perdia-me nos clássicos, lia os Dumas, Jules Verne e Victor Hugo em livros publicados em Portugal nas primeiras décadas do século XX, belissimamente encadernados, parte da coleção doada pelo casal de professores à Biblioteca que se desfazia em poeira e fungos, inadequadamente emprestados a qualquer um. Graças a Deus. Minha mãe reclamava, não entendia como eu podia gostar tanto daqueles livros velhos, cheios daquela ortografia antiga... mas no fundo se enchia de orgulho quando entrava comigo lá e as moças da recepção diziam-lhe que eu era o leitor mais assíduo do lugar. Tanto subi e desci por sua grande escada em cauda de vestido de noiva que, se fechar os olhos, ainda posso sentir suas pedras, já gastas, sob de meus pés.

Mais de uma década atrás, a Vila Hilda foi alvo de um longo processo de reforma e restauração. A biblioteca que ocupara o casarão, foi transferida para uma casa também enorme, mas sem graça, setentista. Idealizada como herança de um casal de professores à cidade - os professores Bruno e Maria Eney, a Biblioteca perdia, com a mudança, o charme e o aconchego.

Anos depois revi a casa e estranhei a pobreza de espírito que norteara sua “recuperação”. Uma verdadeira desfiguração modernóide em que caíram muros e fecharam-se os porões do primeiro andar, abrigo de jornais e revistas ancestrais. Transformada em Fundação Cultural, sua visitação pública ficou reduzida a uma pequena ante-sala de onde não pude passar.

Nesta última viagem, então, olho pro lado e de repente vejo o querido muro da vila, com suas gradinhas artisticamente trançadas em Inglaterra, a mesma escada desgastada, o mesmo jardim. Imagino logo as maçanetas em prata de lei e porcelana pintada, o desenho esmaecido e amarelado pelo aperto de tantas mãos. Meu coração se aperta, perdido entre a verdade de minha visita anterior e ecos da “Sonata” de Veríssimo, um de seus primeiros e melhores contos, no qual o protagonista volta ao passado de uma casa e sua gente.

Pergunto a meu tio que lugar era aquele e ele fala que é a antiga biblioteca, a Vila Hilda. Conta-me uma longa história que envolve edifício restaurado, na antiga Estação Ferroviária, para onde a biblioteca fora recentemente transferida, mas já não escuto mais nada. Interrompo e conto minha história, falo da visita à casa desfigurada e de minha decepção - mas todos me garantem que tal fato nunca ocorreu. Não sei mais em que acreditar. Mas o coração se aquieta, antevendo uma nova visita a aqueles jardins de minha infância - os mesmos! - ainda que sem o recheio dos livros a ocupar o prédio.

Quando chegamos ao restaurante, o chope desce como um laxante d’alma a este homem que não sabe mais a que universo pertence, se tomou a pílula vermelha ou a azul... Ponta Grossa me espera, logo volto para lá.

(Publicado no caderno Almanaque do jornal O Estado do Paraná, Curitiba, em 25 de junho de 2006. Também disponível em www.parana-online.com.br )



Blog EntryEsta celeuma em torno de JudasJun 11, '06 8:00 AM
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A celeuma em torno de Judas atingiu seu ápice e ainda não vi ninguém relacionar esta “nova” visão do Cristianismo primitivo, provida pela descoberta e restauração do valioso documento copta encontrado do Egito, com as estórias (eu sei, esta palavra mudou, mas eu sou velho) metabíblicas de C. S. Lewis.

Nas “Crônicas de Nárnia”, o velho companheiro intelectual de J.R.R.Tolkien já desbravava significâncias teológicas próprias. Desprezava o uso de imagens pela Igreja Católica, mas defende o uso alegórico do conteúdo dos Evangelhos como parte da formação do caráter do cristão.

Em “O Leão, A Feiticeira e o Guarda-Roupa”, o menino Edmond (Judas) trai a confiança dos seguidores de Aslam (Cristo) ao entregar sua localização à Feiticeira Branca (Satã). Esta comparece ao acampamento de Aslam e exige que o menino traidor seja julgado e executado. Aslam evoca um trato ancestral que possibilita a troca de prisioneiros, entrega-se aos inimigos e termina sendo assassinado numa grande mesa sacrifical – de quebra, salvando o menino. Ao resssuscitar na manhã seguinte, entra em combate na undécima hora para encerrar o conflito. Edmond está mal, à beira da morte. Aslam ressuscitado sopra-lhe a vida e o recoloca em pé. O Príncipe Pedro é empossado um de quatro reis (o grifo é meu), Judas, opa, Edmond um dos quatro. Com duas mulheres.

Há os que dizem que Lewis é sexista por não colocar as meninas em batalhas mais sangrentas. Não creio. Elas estão lá, na “agonia do Jardim das Oliveiras”, na cena de ressurreição, quando não reconhecem o Senhor. E são proclamadas, ambas, rainhas.

O que Lewis proclama na série, mas especialmente neste livro, é um cristianismo que expõe sua cara e propõe um papel para Judas no plano divino. E pela redenção de Edmond, podemos apenas supor quão forte seria o Cristianismo primitivo se a pena de Judas o permitisse seguir trabalhando.

O Judas que emerge do pergaminho é um escolhido, por teste de fé, para cumprir a mais negra das missões: atraiçoar seu mestre. E se mostra apto ao sacrifício.

Ao se negar a percorrer os caminhos de Judas após a traição, o evangelho nos propõe a mesma questão: o que Judas faria? Se tivesse sobrevivido? Se sua história tivesse sobrevivido.

Ao colocarmos Judas no papel de um enviado de Jesus para detonar o processo de sua prisão, todas as teorias poderiam ter sido inventadas, mas uma nos parece mais plausível: a de que em tudo, no âmbito do sacrifício de Cristo, o Homem prevaleceu. E a Bíblia tradicional é clara: o Homem prevaleceu sobre todas as formas de mal, através do sacrifício Divino de Jesus Cristo. Mas se uma só alma, que convivera por tantos anos com Ele, tivesse que ser sacrificada para saciar o Diabo, será que o Deus em Jesus, não só o Homem, permitiriam impunemente?

Ao realizar uma última estripulia típica de seu humor juvenil, Jesus retira o Opositor de cena, ao tornar sua Morte na Cruz fruto de dois livres-arbítrios humanos. Judas faria o que fez com, sem ou apesar dos trinta dinheiros. Estava seguindo ordens. De Jesus. Do Filho de Deus. E assim sela-se um novo pacto entre Deus e o homem através, unicamente, das decisões tomadas por ambos.

No ato do Batismo, pais e padrinhos renunciam ao Diabo em nome do bebê, retirando o “pecado original”, tornando-nos protegidos contra ele. Por que não dizermos, então, que ao sermos batizados, temos despertada dentro de nós a centelha divina dos gnósticos? Pois o velho homem morreu junto com Cristo na Cruz, e um novo homem nasceu. Como poderia ter Jesus refeito o pacto com Deus se não enterrasse ali o conceito de pecado original?

São os representantes da mais antiga das Igrejas os mais preocupados com a repercussão do ressurgimento dessas antigas heresias, uma vez que as denominações protestantes em sua maioria sempre incentivaram a pluralidade de entendimentos da figura de Jesus através da leitura dos Evangelhos Canônicos. A ponto de levar o novo Papa a proferir as palavras mais duras e ofensivas ditas por um religioso nos últimos anos. Acostumados com o estilo brando de João Paulo II, fiéis e opositores da Igreja uniram-se em perplexidade.

Eu, de minha parte, fico com Lewis: o Paraíso parece ser bastante aberto a novos contratos, aqueles assinados na hora da morte, desde que feitos por amor a Deus. Sou católico de formação, mas que a justificativa pela Graça de Lutero encaixa-se como uma luva a essa nova descoberta é evidente. Por isso a reação imediata de Roma.

Agora, provoco: seria mera coincidência ou Lewis e Tolkien teriam acesso a antigos e pouco conhecidos documentos para terem ousado recriar a história da cristandade em livros como “As Crônicas de Nárnia” e o “Silmarillion”? Novas descobertas poderão ainda vir à luz?



(Publicado em 11 de junho de 2006 no caderno "Almanaque" do jornal "O Estado do Paraná", Curitiba, PR)


Blog EntryQuem toca este livro, toca uma vida.Jun 2, '06 1:54 AM
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Comemorando os 150 anos de lançamento da primeira edição de “Leaves of Grass/Folhas de Relva” (1855), a Editora Iluminuras pôs no mercado, no ano passado, uma excelente edição bilíngüe deste que pode ser considerado o marco inicial de uma literatura verdadeiramente americana.

Excelente porque se trata do grande poeta e visionário estadunidense, excelente porque a publicação de um grande clássico sempre é oportuna, excelente porque bilíngüe.

Walt Whitman (1819-1892) era homem de muitos ofícios – a maioria deles ligados à imprensa, onde atuou como repórter, redator, editor, tipógrafo e distribuidor em vários jornais, principalmente em New York – quando bancou, aos 36 anos, a primeira edição de um livro que se tornaria célebre e maldito. “Leaves of Grass” foi a verdadeira “declaração de independência” cultural de uma América (e não falo só dos EUA) ainda em formação, onde o imenso trabalho de se construir uma Nação (e extrapolando, nações) pouco espaço deixava para a produção intelectual. Impressa na gráfica de amigos (que ajudaram a bancar os 795 exemplares da primeira edição), com design do próprio Whitman – primeiro poeta a publicar sua imagem, decalcada de uma foto, na página oposta ao frontispício – e nenhuma alusão ao nome do autor em sua capa (somente citado na página 29 como “Walt Whitman, um Americano, um bronco, um kosmos...”) a obra só tomaria relevância após a crítica de Ralph Waldo Emerson e o sucesso de edições sucessivas, sempre acrescidas, saindo dos 12 poemas iniciais aos quase 400 de sua última edição (chamada “a do leito de morte”).

Mas é nesta edição inaugural, precedida por um prefácio-manifesto, que o livro se mostra mais forte e coeso, só aparentemente rompendo com a tradição poética de rimas e métrica, buscando especialmente no paralelismo e na parataxe da Bíblia Hebraica, na aliteração e assonância que o fazem tão musical, na colagem e na retórica elementos que o permitissem “voar” com o pensamento sobre o papel em versos livres, pensamentos empilhados e alusões místicas calcadas num naturalismo enganadoramente simples. Suas imagens, múltiplas e instantâneas como fotografias, de paisagens urbanas e rurais, entrosam-se como por mágica a devaneios políticos, filosóficos e carnais. Um escândalo e uma obra de uma vida inteira.

Por isso a importância da iniciativa de editá-la no Brasil. Mesmo nos EUA, com a grandeza póstuma concedida a Whitman, somente em 1939 a versão original foi finalmente reeditada. Portanto, ver o poeta mais importante do Século XIX na América, mestre e influência de tantos outros grandes como Gide, Mann, Maiakovski, Lawrence, Garcia Lorca, Pessoa, Eliot, Pound e Ginsberg – para citar somente alguns, sem contar brasileiros como Ana Cristina César, Paulo Leminski e Waly Salomão – tão bem editado em nosso país é algo a se comemorar.

Peca bastante, contudo, a tradução de Rodrigo Garcia Lopes, que apesar de (bem) fundamentada no estudo das particularidades da linguagem whitmaniana, como podemos comprovar no excelente ensaio biográfico-crítico que fecha a edição, comete, a meu ver, um erro crasso ao adotar a linguagem direta e vernácula. Ao traduzir Whitman “ao pé-da-letra”, Rodrigo tira do leitor o prazer da cadência tão específica do autor, sua musicalidade e oralidade, e não logra torná-lo “mais fácil” ou recriar, passados mais de um século, a oralidade do texto. Sem contar erros crassos, inúmeros, em que a banalização beira a invenção: no magnífico poema “Who Learn My Lesson Complete?/Quem Aprende minha Lição Por Inteiro?”, para citar somente o exemplo mais grosseiro, um verbo - “Come”, “Venha(m) – é substituído por um vexatório “Como...”, tirando toda a força de um poema curo e essencial. Abaixo os versos completos:

Come I should like to hear you tell me what there is in yourself that is not just as wonderful,

And I should like to hear the name of anything between Sunday morning and Saturday night that is not just as wonderful

Como gostaria também de ouvir você dizer o que existe em você que não seja maravilhoso também,

Como gostaria de ouvir os nomes de todas as coisas entre a manha de domingo e o sábado á noite que não fossem maravilhosas também.”

Nada maravilhoso, não?

Sou mais a tradução de uma coletânea do poeta (“Folhas das Folhas da Relva”, feita pelo Paulo Leminski). Ainda assim, esta edição nos premia com a integral da edição mais forte e coesa das “Folhas...” e é, por si só, uma iniciativa editorial a ser aplaudida. Como diria Walt, “Grandes são os mitos... também me delicio com eles”. Que os leitores brasileiros possam se deliciar então com a leitura deste grande poeta, agora disponível em nossa língua e nosso país com sua obra-prima.

LINKS:

http://www.iluminuras.com.br/cgi-bin/leavesofgrass.asp

http://www.editorabrasiliense.com.br/catalogo-site/livrofolhadasfolhas.htm





Blog EntryMeu filho Pedro JoséMay 28, '06 2:37 AM
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É interessante a visão da Igreja católica sobre a Idade Média e o Renascimento, totalmente antagônica ao que aprendemos na escola: aquela, chamada “idade das trevas” seria um momento da História em que o foco seria o Divino, ao contrário deste, e dos períodos históricos que o sucederam, em que o foco se voltaria para o Homem.

Mais surpreendentes ainda os desdobramentos que esta guinada teria sobre a nossa Psique, lentamente nos levando para longe de uma concepção “determinista” da vida para outra dita “humanista”.

Penso nisto hoje, vésperas do sexto aniversário de meu filho Pedro José.

Concebido num momento de grandes inquietações em meu primeiro casamento, PJ teria como pai alguém que ainda acreditava – por mais cristão e incrédulo que paradoxal e igualmente que se julgasse – nesta visão humanista da vida. Cria, ainda, lograr alcançar objetivos que estavam fora de meu alcance: manter uma união fadada ao fracasso, desfrutar de sua infância, representar o papel de pai que julgava inalienável de mim.

Os anos passaram e provaram, a cada novo e penoso dia, que eu estava enganado. “Criamos os filhos para o mundo”, dizia o texto da SutraSagrada da Seicho-No-Ie que inclui em meu convite de formatura, sem saber o quanto de verdade profética o texto revelava. Não sabia, porém, para que mundo os estava a entregar: um mundo de onde a inconseqüência de quem os guarda não demoraria a me excluir.

Hoje, de longe, cansado do longo período de luta inútil por meus direitos elementares de pai, apenas posso apreciar o quanto Deus, este estranho fabricante de roteiros esdrúxulos, tem para oferecer a este belo, grandioso, imenso menino de alma e coração tão puros.

Tendo sofrido e já absorvido o choque da narrativa idiossincrática de sua mãe sobre sua concepção (presente nos autos da anulação de nosso casamento na Igreja Católica), sofrendo e ainda lutando para garantir a sobrevivência de PJ e de seu querido irmão mais velho, Lucas, projeto meu coração para o Alto e somente tenho a questionar o quanto somos capazes de traçar nossos próprios caminhos. Ainda assim, tenho muito a agradecer.

E agradeço: pela pessoa maravilhosa que este menino é, malgrado os maus esforços ou a falta de esforços de seus pais, malgrado o vazio que sinto existir em sua pessoinha. Pedro José é tudo que seu nome diz: a “rocha” que tudo suporta (com estoicismo inato), “multiplicado por Deus”.

À beira de profundas mudanças em minha vida profissional e pessoal, impotente pessoal e legalmente perante o vivenciar de um futuro que, com relação aos meninos, não quis para mim, só posso esperar que um dia, aparadas as arestas e aplainados os caminhos, possa desfrutar com Lucas, Pedro e o bebê a caminho, das doçuras do convício que um dia sonhei ao concebê-lo.

Parabéns adiantados, Pedro José, pelo seu trinta de maio. Que “o Cara” lá em cima, em seu computador celestial, reserve grande e belas guinadas no roteiro de sua vida. Que Ele o cubra de bênçãos e permita-lhe uma vida onde seus quereres e decisões tenham mais peso do que tenho vivenciado.



  1. Não terás outro interesse que não o bem comum de todos os brasileiros.
  2. Não acreditarás em nenhum homem que se apresente como o Salvador da Pátria.
  3. Não usarás o nome do País ou de seu Povo em vão.
  4. Lembrar-te-ás que todo Dia é parte da construção de um novo País.
  5. Honrarás aqueles poucos, dentro os que te precederam, que respeitaram este Estado e esta Nação.
  6. Não matarás nenhum de teus compatriotas nem mesmo aqueles que o mereçam.
  7. Não trairás teu País facilitando a entrada de capital estrangeiro que não se converta em indústria e emprego para os brasileiros.
  8. Não furtarás. Nunca. Especialmente dinheiro que possa trazer algum benefício à vida de teus conterrâneos.
  9. Não levantarás falso testemunho ao ser argüido em uma CPI ou Tribunal de Justiça.
  10. Não cobiçarás a casa, o dinheiro ou a mulher de teu próximo.

(Baseado na Lei Mosaica)... simples, não?

Bach (de meu avô paterno Oscar Arthur Bach)

1. German: topographic name for someone who lived by a stream, Middle High German bach ‘stream’. This surname is established throughout central Europe and in Scandinavia, not just in Germany.

2. Jewish (Ashkenazic): ornamental name from German Bach ‘stream’, ‘creek’.

3. English: topographic name for someone who lived by a stream, Middle English bache.

4. Welsh: distinguishing epithet from Welsh bach ‘little’, ‘small’.

5. Norwegian: Americanized spelling of the topographic name Bakk(e) ‘hillside’ (see Bakke).

6. Polish, Czech, and Slovak: from the personal name Bach, a pet form of Bartomolaeus (Polish Bartlomiej, Czech Bartolomej, Slovak Bartolomej (see Bartholomew) or possibly in some cases of Baltazar or Sebastian).

Dictionary of American Family Names, Oxford University Press, ISBN 0-19-508137-4

van Wilpe (de meu avô materno Jacobus van Wilpe)

The name van Wilpe is a toponymous related to the Wil village at Gelderland, right under Deventer, where the municipality begun.

LINK: Genealogia van Wilpe

Castro (de meu bisavô paterno, Plácido de Castro)

Galician, Portuguese, Italian, and Jewish (Sephardic): topographic name from castro ‘castle’, ‘fortress’ (Latin castrum ‘fort’, ‘Roman walled city’): in Galicia and also in northern Portugal a habitational name from any of various places named with this word; in Italy either a topographic name or a habitational name.

Kindler (de meu bisavô materno, Alfred Kindler)

1. German: from an agent derivative of the obsolete verb kindeln ‘to beget children’, hence a nickname for someone who had a lot of children.

2. Jewish (Ashkenazic): from German Kind ‘child’ + the agent suffix -ler, most likely an occupational name for a schoolteacher.

Rauch (de minha bisavó materna, Erna rauch Kindler)

1. variant of Rau.

2. perhaps an occupational nickname for a blacksmith or charcoal burner, from Middle High German rouch, German Rauch ‘smoke’, or, in the case of the German name, a status name or nickname relating to a hearth tax (i.e. a tax that was calculated according to the number of fireplaces in each individual home).

Moraes (de minha bisavó paterna, Esther Moraes de Castro)

Portuguese: topographic name for someone living among mulberry trees, from the plural of moral ‘mulberry’. Compare Spanish Morales.

Só não achei os Kranendonk (de minha bisavó materna Helena) e os Canto (de minha bisavó paterna Olga). Destes diz-se ser uma corruptela aportuguesada de "Kant".

Em breve passo as informações em Português.




Blog EntryGenealogia dos BachMay 26, '06 9:15 PM
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Começando por meu bisavô Alexandre Bach, pai de Oscar Arthur Bach, pai de meu pai Ariel de Castro Bach.

Ahnentafel, Generation No. 1

1. Alexandre BACH was born 28 DEC 1898 in Brazil, and died 21 JUL 1973 in Brazil. He was the son of 2. Johannes BACH and 3. Barbara BERGER. He married Olga CANTO. She was born 25 OCT 1903 in Brazil, and died ABT 1994 in Brazil.

Ahnentafel, Generation No. 2

2. Johannes BACH was born 15 JAN 1860 in Graf [Krutoyorovka], Samara, Russia, and died 25 APR 1920 in Brazil.

3. Barbara BERGER was born 22 DEC 1867 in Russia, and died 7 AUG 1931 in Brazil. She was the daughter of 6. Johannes BERGER and 7. Margaretha KLOSTER.

Children of Barbara BERGER and Johannes BACH are:

i. Joao BACH was born 27 DEC 1885 in Brazil, and died 5 AUG 1932 in Brazil. He married ANNA. She was born in Brazil, and died in Brazil.

ii. Maria BACH was born 6 FEB 1887 in Brazil, and died 12 AUG 1949 in Brazil. She married Alexandre ZIEGMANN. He was born 23 AUG 1879 in Brazil, and died in Brazil.

iii. Jose BACH was born 8 JAN 1889 in Brazil, and died in Brazil. He married Herminia PALERMO. She was born in Brazil, and died in Brazil.

iv. Antonio BACH was born 7 MAY 1891 in Brazil, and died ABT 1891 in Brazil.

v. Anna BACH was born ABT 1892 in Brazil, and died in Brazil. She married IANCHUK. He was born ABT 1890 in Brazil, and died in Brazil.

vi. Carlota BACH was born 27 OCT 1894 in Brazil, and died 12 AUG 1974 in Brazil.

1. vii. Alexandre BACH was born 28 DEC 1898 in Brazil, and died 21 JUL 1973 in Brazil. He married Olga CANTO. She was born 25 OCT 1903 in Brazil, and died ABT 1994 in Brazil.

viii. Manuel BACH was born 4 JAN 1900 in Brazil, and died 5 OCT 1967 in Brazil. He married ANI. She was born in Brazil.

ix. Eralides BACH was born ABT 1905 in Brazil, and died 27 SEP 1973 in Brazil. He married Margarida KEMMELMEIER. She was born 1912 in Brazil, and died 18 MAY 1982 in Brazil.

x. Elisa BACH was born 1907 in Brazil, and died 1 JUL 1922 in Brazil.

xi. Tito BACH was born 1 APR 1909 in Brazil, and died 5 JAN 1913 in Brazil.

Ahnentafel, Generation No. 3

6. Johannes BERGER was born 1834 in Russia, and died 1880 in Brazil.

7. Margaretha KLOSTER was born 1837 in Russia, and died 1917 in Brazil. She was the daughter of 14. Christoph KLOSTER and 15. ELEANORA.

Children of Margaretha KLOSTER and Johannes BERGER are:

i. Johannes BERGER was born 25 MAR 1856 in Russia, and died 6 MAY 1919 in Brazil. He married Anna CHRISTINA 1871 in Russia. She was born 1856 in Russia, and died 1898 in Brazil.

ii. Joseph BERGER was born 18 MAY 1859 in Russia, and died 1920 in Brazil. He married Anna SCHOEN 21 FEB 1882. She was born 18 JAN 1862 in Russia, and died 1926 in Brazil.

iii. Alexander BERGER was born 1861 in Russia, and died in Brazil.

iv. Heinrich BERGER was born 13 NOV 1864 in Russia, and died 1 JUL 1947 in Brazil.

v. Constance BERGER was born ABT 1866 in Russia, and died in Brazil. She married Nicolaus ROLHEISER. He was born ABT 1860 in Russia, and died in Brazil.

3. vi. Barbara BERGER was born 22 DEC 1867 in Russia, and died 7 AUG 1931 in Brazil. She married Johannes BACH 4 SEP 1883. He was born 15 JAN 1860 in Graf [Krutoyorovka], Samara, Russia, and died 25 APR 1920 in Brazil.

vii. Philipp BERGER was born 1869 in Russia, and died in Brazil. He married HELENA. She was born in Russia, and died in Brazil.

viii. Jacob BERGER was born 12 FEB 1870 in Russia, and died 28 DEC 1936 in Brazil. He married Carolina ZIEGMANN. She was born 8 JUN 1878 in Brazil, and died 16 FEB 1937 in Brazil.

ix. Michael BERGER was born 1872 in Russia, and died ABT 1936 in Brazil. He married Margaretha BASGALL 1 MAY 1892. She was born 1874 in Russia, and died ABT 1930 in Brazil.

x. Georg BERGER was born 1877.

Ahnentafel, Generation No. 4

14. Christoph KLOSTER was born 1798 in Roethling [Semenovka], Saratov, Russia, and died ABT 1889. He was the son of 28. Johann Adam KLOSTER and 29. Anna Maria RUPP.

15. ELEANORA was born 1805, and died 1901 in Brazil.

Children of ELEANORA and Christoph KLOSTER are:

i. Christoph KLOSTER was born 1833, and died 25 APR 1907 in Brazil. He married Catharina BECKER 1868. She was born 1845 in Leichtling [Ilavia], Saratov, Russia, and died 16 APR 1926 in Brazil.

7. ii. Margaretha KLOSTER was born 1837 in Russia, and died 1917 in Brazil. She married Johannes BERGER 1855 in Russia. He was born 1834 in Russia, and died 1880 in Brazil.

iii. Johannes KLOSTER was born 1840 in Russia, and died 28 JUL 1923 in Brazil. He married Anna Maria BECKER 1860. She was born 1842 in Leichtling [Ilavia], Saratov, Russia, and died 3 JUN 1922 in Brazil.

iv. Alois KLOSTER was born 1842 in Russia, and died ABT 1900 in Russia. He married Elisabetha SCHMALZ. She was born 1844 in Russia, and died 18 NOV 1939 in Brazil.

v. KLOSTER was born ABT 1851 in Russia. He married GRUNEWALD. She was born ABT 1853 in Russia.

Ahnentafel, Generation No. 5

28. Johann Adam KLOSTER was born 1752 in Dieburg-Zeihard, Hessen, Germany, and died AFT 1834 in Roethling [Semenovka], Saratov, Russia. He was the son of 56. Johann Adam KLOSTER.

29. Anna Maria RUPP was born 1767 in Roethling [Semenovka], Saratov, Russia, and died BEF 1834.

Children of Anna Maria RUPP and Johann Adam KLOSTER are:

i. Nikolaus KLOSTER was born 1789 in Roethling [Semenovka], Saratov, Russia.

ii. Anna Maria KLOSTER was born 1798 in Roethling [Semenovka], Saratov, Russia.

14. iii. Christoph KLOSTER was born 1798 in Roethling [Semenovka], Saratov, Russia, and died ABT 1889. He married Maria ANNA in Roethling [Semenovka], Saratov, Russia. She was born 1800. He married ELEANORA 1823 in Roettling [Semenowka], Saratov, Russia. She was born 1805, and died 1901 in Brazil.

iv. Margaretha KLOSTER was born 1805, and died 1875 in Brazil. She married Nikolaus HEIDT ABT 1825 in Roettling [Semenowka], Saratov, Russia. He was born 1807, and died 1876.

Ahnentafel, Generation No. 6

56. Johann Adam KLOSTER was born 1723 in Dieburg-Zeihard, Hessen, Germany.

Children of Johann Adam KLOSTER are:

i. Andreas KLOSTER was born 1751 in Dieburg-Zeihard, Hessen, Germany. He married Maria Teresia GETTE in Roethling [Semenovka], Saratov, Russia. She was born 1751 in Roethling [Semenovka], Saratov, Russia.

28. ii. Johann Adam KLOSTER was born 1752 in Dieburg-Zeihard, Hessen, Germany, and died AFT 1834 in Roethling [Semenovka], Saratov, Russia. He married Anna Maria RUPP in Roethling [Semenovka], Saratov, Russia. She was born 1767 in Roethling [Semenovka], Saratov, Russia, and died BEF 1834.



     /Johannes BACH b: 15 JAN 1860 d: 25 APR 1920
Alexandre BACH b: 28 DEC 1898 d: 21 JUL 1973
     |       /Johannes BERGER b: 1834 d: 1880
     \Barbara BERGER b: 22 DEC 1867 d: 7 AUG 1931
             |                       /Johann Adam KLOSTER b: 1723
             |               /Johann Adam KLOSTER b: 1752 d: AFT 1834
             |       /Christoph KLOSTER b: 1798 d: ABT 1889
             |       |       \Anna Maria RUPP b: 1767 d: BEF 1834
             \Margaretha KLOSTER b: 1837 d: 1917
                     \ ELEANORA b: 1805 d: 1901

OBS: Ahnentafel significa "tábua genealógica".

Figura 1:
Expectativa de vida da Família Bach

Figura 2: Johann Sebastian Bach.



Não é possível encontrar, pela web, os ancestrais de meu trisavô Johannes Bach (1860-1920).

No link abaixo, encontramos, além da genealogia dos primeiros Bach, que remete a um cert Hans Bach, nascido circa 1561 em Wechmar, uma pequena cidade próxima a Gotha, uma enorme quantidade de dados a respeito desta família, cujo nome, apesar de significar "riacho" entre outras coisas, sempre foi sinônimo de MÚSICA.

Dele descende o grande músico Johann Sebastian Bach (1685 - 1750).


Link: The Bach Family






Disponibilizo aqui, principalmente aos amigos leigos - que portanto não teriam acesso a este importante artigo divulgado por um dos maiores e mais confiáveis sites de atualização médica, o MEDSCAPE - mais um dos (des)caminhos gerados pelo eterno embate entre ciência e política. Quando tiver tempo, traduzirei o artigo, que considero de interesse público.

Medical Marijuana: Politics Trumps Science at the FDA

Gregory T. Carter, MD; Bruce Mirken Medscape General Medicine. 2006;8(2):46. ©2006 Medscape

Posted 05/17/2006

For a Food and Drug Administration (FDA) increasingly mired in controversies over the politicization of scientific and regulatory decisions, the agency's April 20, 2006 statement regarding medical use of marijuana may represent an all-time low point.[1] Politics, it appears, has now completely trumped science at this once proudly independent agency. The FDA has announced that "no sound scientific studies" support the medical use of marijuana, contradicting an increasingly large body of scientific literature. To those of us who do research in this area, this is a personal affront.

Even the federal Drug Enforcement Agency's (DEA) own Administrative Law Judge, the Honorable Francis Young, stated in 1988, "Marijuana is the safest therapeutically active substance known to man..." He went on to say, "The evidence clearly shows that marijuana is capable of relieving the distress of great numbers of very ill people, and doing so with safety under medical supervision. . .it would be unreasonable, arbitrary and capricious for the DEA to continue to stand between those sufferers and the benefits of this substance."[2] Perhaps more remarkable were the conclusions of President Nixon's Shafer Commission, who were appointed to investigate marijuana's available scientific and medical evidence. To the shock and dismay of President Nixon, the Commission found enough evidence to recommend that marijuana be decriminalized.[3]

The FDA's announcement is puzzling at many levels. It makes no mention of any recent FDA analysis or investigation, regulatory filing, or any other activity within the normal scope of the agency's work that led to this policy change. Thus, there is no indication as to why the agency chose to issue this opinion at this particular moment. Rather than being based on new data or analysis, the statement appears to have been issued in response to the repeated requests from US Rep. Mark Souder (R-IN), a vehement opponent of medical marijuana use. Souder wrote to acting FDA Commissioner Andrew C. von Eschenbach on January 18, 2006, saying, "I am exasperated at the FDA's failure to act against the fraudulent claims about 'medical' marijuana." He urged that the FDA "post accurate information about the claims of 'medical' marijuana on its website."[4] After 2 months he renewed the request, taking an impatient tone: "I have yet to receive a response from the Food and Drug Administration regarding my January 18, 2006 letter to you about the FDA's failure to provide any meaningful information on its website about the dangers of marijuana. I am quite concerned that the FDA does not take seriously the threat posed by marijuana, our nation's most abused drug."[5] The FDA's missive appears to be just what Souder wanted; it asserts that there is a lack of evidence regarding the medical value of marijuana and argues that state laws permitting medical use of marijuana without criminal penalty "are inconsistent with efforts to ensure that medications undergo the rigorous scientific scrutiny of the FDA approval process." The statement concludes by saying that the FDA, along with 2 nonmedical agencies, the DEA and the White House Office of National Drug Control Policy, "do not support the use of smoked marijuana for medical purposes."

We beg to differ with Mr. Souder, who, to our knowledge has no scientific background or medical training. The scientific studies that document the medical efficacy and safety of smoked marijuana are published in peer-reviewed medical journals and are available through the National Library of Medicine. In our experience, the medical peer-review process is very harsh and stringent. Thus, it is not likely that the hundreds of peer-reviewed scientific articles published documenting the benefits of marijuana contain "fraudulent claims."

Moreover, maybe the FDA and Mr. Souder are not aware that The National Institutes of Health (NIH) and the Institute of Medicine have previously issued statements of support for medical marijuana and have called for further investigation.[6,7] The Institute of Medicine reviewed the issue a second time at the request of the White House Office of National Drug Control Policy, resulting in a 1999 report which declared, "Nausea appetite loss, pain and anxiety are all afflictions of wasting, and all can be mitigated by marijuana." While expressing concern over the risks of smoking, the Institute noted that for some patients -- particularly those with terminal conditions or who do not respond to standard therapies -- those risks would be "of little consequence." The report added pointedly, "We acknowledge that there is no clear alternative for people suffering from chronic conditions that might be relieved by smoking marijuana, such as pain or AIDS wasting."[8]

This was, in fact, the prior stance taken by the FDA itself, before this sudden turnaround.[9] Perhaps the FDA has forgotten that doctors can prescribe dronabinol (Marinol), which is 100% pure synthetic delta(9)-tetrahydrocannabinol (THC). This is the most powerful psychoactive compound in marijuana, and it is placed in the same category as the prescription strengths of ibuprofen (schedule III), meaning a physician can phone in the prescription. Furthermore, the recent discovery of an endogenous cannabinoid system with specific receptors and ligands has increased our understanding of the actions of marijuana.[10] The cannabinoid system appears to be intricately involved in normal human physiology, specifically in the control of movement, pain, memory and appetite, among others. Widespread cannabinoid receptors have been discovered in the brain and peripheral tissues. The cannabinoid system represents a previously unrecognized ubiquitous network in the nervous system. There is a dense receptor concentration in the cerebellum, basal ganglia, and hippocampus, accounting for the effects on motor tone, coordination, and mood state.[11] There are very few cannabinoid receptors in the brainstem, which may explain marijuana's remarkably low toxicity. There has never been a lethal overdose of marijuana reported in humans. In addition, we have shown that marijuana can be dosed, much like other prescribed drugs.[12] Moreover, in some instances patients report it as more therapeutic and better tolerated than other medications.[13,14]

Despite all of this scientific documentation, following the recent Supreme Court ruling [Gonzales v. Raich], Drug Czar John Walters commented, "The medical marijuana farce is done." He then added, "I don't doubt that some people feel better when they use marijuana, but that's not modern science. That's snake oil." But isn't the very definition of palliative care the abatement of suffering in order to make patients "feel better"? Isn't that what doctors and other health professionals are supposed to do for a living?[15]

In what appears to be an effort to justify the issuance of a statement on medical marijuana with no evident scientific or regulatory reason to do so, the FDA misrepresents the nature and purpose of state medical marijuana laws, stating, "A growing number of states have passed voter referenda (or legislative actions) making smoked marijuana available for a variety of medical conditions upon a doctor's recommendation," suggesting that such laws "seek to bypass the FDA drug approval process." If that were the case, the FDA might arguably have an interest in opining about such laws. But as a general rule, the 11 state medical marijuana laws do not make marijuana available or in any way address the issue of marketing or sales. Rather, they simply protect patients who meet certain conditions (usually including a physician recommendation and/or diagnosis with a qualifying condition) from arrest and punishment under state laws that otherwise forbid marijuana possession or cultivation, Indeed, the lack of a legal means for patients to obtain marijuana for medical use has been a source of controversy in some states that have adopted medical marijuana laws.[16,17]

One wonders: Does the FDA not understand the difference between licensing a drug for marketing and simply choosing not to arrest individuals who possess that drug under certain conditions? Does the agency believe that arrest and imprisonment are appropriate ways of dealing with a patient's choice to self-treat with an herbal product not approved as a medicine by the FDA?

The recent change of heart by the FDA is disappointing on many levels. This is certainly not the first time the FDA has been accused of letting politics trump science.[18-20] However, it is the duty of the FDA to be an impartial scientific body and not rent itself out to political agendas. Arguably, marijuana is neither a miracle compound nor the answer to everyone's ills. Yet it is not a compound that deserves the tremendous legal and societal commotion that has surrounded its use. Over the past 30 years, the United States has spent billions in an effort to stem the use of illicit drugs, including marijuana, with limited success. Some very ill people have had to fight long court battles to defend themselves for having used a compound that has helped them. There is no evidence that recreational marijuana use is any higher in states that allow for its medicinal use.[21] Moreover, prohibition strategies have never proven terribly effective at limiting the use of a substance - whether it be alcohol or other compounds -- for any reason.

Rational, apolitical minds need to take over the debate on marijuana, separating myth from fact, right from wrong, and responsible, medicinal use from other, less compelling usages. However one feels about nonmedical use of marijuana, in our opinion, the medicinal marijuana user should not be considered a criminal in any state. The scientific process continues to document the therapeutic effects of marijuana through ongoing research and assessment of available data. With regard to the medicinal use of marijuana, our federal government and legal system should take a similar approach, using science and logic, rather than politics, as the basis of policymaking. This recent change of policy by the FDA, with politics apparently taking precedence over science, is disappointing and unwarranted.

Readers are encouraged to respond to George Lundberg, MD, Editor of MedGenMed, for the editor's eye only or for possible publication via email: glundberg@medscape.net

References

1. U.S. Food and Drug Administration. Inter-Agency Advisory Regarding Claims that Smoked Marijuana is a Medicine. April 20, 2006.

2. U.S. Department of Justice, Drug Enforcement Administration. In the Matter of Marijuana Rescheduling Petition: Opinion and recommended ruling, findings of fact, conclusions of law and decision of administrative law judge. Docket no. 86-22; pp 67-68; September 6, 1988.

3. National Commission on Marihuana and Drug Abuse, "Marihuana: A Signal of Misunderstanding; First Report, Washington, DC: U.S. Govt. Printing Office; 1972, p 151. The report of the Shafer Commission is available online at: www.druglibrary.org/schaffer/library/studies/nc/ncmenu.htm.

4. Souder M. Letter to Andrew C. von Eschenbach. January 18, 2006.

5. Souder M. Letter to Andrew C. von Eschenbach. March 15, 2006.

6. Institute of Medicine. Division of Health Sciences Policy. Marijuana and Health: Report of a Study by a Committee of the Institute of Medicine, Division of Health Sciences Policy. Washington, DC: National Academy Press; 1982.

7. Hollister LE. Interactions of cannabis with other drugs in man. In: Braude, MC, Ginzburg HM, eds. Strategies for Research on the Interactions of Drugs of Abuse. National Institute on Drug Abuse Research Monograph 68. DHHS Pub. No. (ADM)86-1453. Washington, DC: Supt. of Docs., U.S. Govt. Printing Office; 1986, pp 110-116.

8. Joy JE, Watson SJ, Benson JA. Marijuana and Medicine: Assessing the Science Base. Institute of Medicine. Washington, DC: National Academy Press; 1999.

9. FDA Guideline for the Clinical Evaluation of Analgesic Drugs. DHHS Pub. No. 93-3093. Rockville, Md: U.S. Department of Health and Human Services, Public Health Service, Food and Drug Administration; 1992.

10. Carter GT, Weydt P. Cannabis: old medicine with new promise for neurological disorders. Curr Opin Investig Drugs. 2002;3:437-440.

11. Carter GT, Ugalde VO. Medical marijuana: emerging applications for the management of neurological disorders. Phys Med Rehabil Clin N Am. 2004;15:943-954.

12. Carter GT, Weydt P, Kyashna-Tocha M, Abrams DI. Medical marijuana: rational guidelines for dosing. IDrugs. 2004;7:464-470.

13. Carter GT, Rosen BS. Marijuana in the management of amyotrophic lateral sclerosis. Am J Hosp Palliat Care. 2001;18:264-270.

14. Amtmann D, Weydt P, Johnson KL, Jensen MP, Carter GT. Survey of cannabis use in patients with amyotrophic lateral sclerosis. Am J Hosp Palliat Care. 2004;21:95-104.

15. Gonzales v. Raich. Federal case no. 03-1454; June 2005.

16. Marijuana Policy Project. State-by-state medical marijuana laws: how to remove the threat of arrest. Washington, DC: Marijuana Policy Project 2004.

17. Associated Press. New law doesn't say where patients will get pot. January 13, 2006.

18. Gorelick KJ, Marcus DM, Cohen FJ, Jenny-Avital ER. What ails the FDA? N Engl J Med. 2005;352:2553-2555.

19. Burstein PD, Stanford JB, Hager WD, et al. The FDA, politics, and plan B. N Engl J Med. 2004;350:2413-2414.

20. Emergency contraception: Politics trumps science at the U.S. Food and Drug Administration. Obstet Gynecol. 2004;104:220-221.

21. Aggarwal S, Carter GT, Steinborn J. Clearing the air: what the latest Supreme Court decision regarding medical marijuana really means. Am J Hosp Palliat Care. 2005; 22:327-329.

Gregory T. Carter, MD, Clinical Professor of Rehabilitation Medicine, University of Washington School of Medicine, Seattle, Washington. Email: gtcarter@u.washington.edu

Bruce Mirken, Director of Communications, Marijuana Policy Project, Washington, DC.

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